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Pobreza Infantil – muito mais do que números

São números que nos batem, fortes! Verdadeiros murros num estômago que tem o aconchego de uma refeição quente, saborosa e nutritiva.  São marcas da desgraça humana que, muitos de nós, fingem não ver. Não saber. Porque é mais confortável.  Porque incomodam. Fazem doer o mais fundo do nosso ser.

São números que sentimos necessidade de vos trazer agora, em plena época de Natal – o tempo de dar e receber, de partilhar. Queremos abalar consciências e sensibilizar todos para a necessidade de darmos o nosso contributo para alterar esta situação. Como? Dando. Pode até nem ser dinheiro ou alimento, por vezes basta darmos atenção ao que nos rodeia. Mais do que ver, olhar. Atentos ao que poderá ser sinal de sofrimento de quem está ali ao lado. Atentos aos sinais de que algo poderá não estar bem com aquela família. Com aquela criança. Olhar, perceber e procurar ajudar.

Pobreza não significa necessariamente um frigorífico vazio. Pode “apenas” significar para uma criança ou jovem não poder aceitar um convite para ir brincar e lanchar a casa de amigos porque não vai conseguir retribuir. Uma criança pobre tem um conjunto de estigmas associados logo à partida: não se veste como os outros, não se alimenta devidamente, não consegue que os pais a ajudem com os trabalhos de casa, porque os pais não valorizam a escola. Há muitos sinais e é importante saber ver, perceber. Estarmos atentos para ajudarmos a combater a discriminação, o desrespeito, o bullying em relação a crianças que são diferentes, qualquer que seja a sua diferença.

Como muito bem sabemos a pobreza, por vezes, mostra-se assim – na desigualdade de oportunidades na educação e cuidados de saúde inadequados, numa ameaça permanente aos direitos fundamentais das crianças, impedindo-as de aproveitarem oportunidades e de romperem o ciclo de pobreza.

Temos que nos unir e fazer alguma coisa. A realidade da pobreza infantil não está distante – algures num país africano. No Canadá, um dos países com melhor nível de vida do mundo, a pobreza também existe. Nos adultos, principalmente, nas mulheres e nas crianças. Como diria o poeta Augusto Gil, na famosa Balada da Neve – Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…?

 

155 milhões

Por ocasião do Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro) o Secretário Geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres afirmou que há cerca de 155 milhões de crianças que sofrem de subnutrição crónica e que a fome causa quase metade das mortes infantis no mundo – “Isso é intolerável”. Guterres também alertou para o facto ser absolutamente essencial que a comunidade internacional se comprometa “com um mundo sem fome, um mundo em que todas as pessoas tenham acesso a uma dieta saudável e nutritiva.”

 

85 000

Um número que nos envergonha! 85 000 crianças morreram à fome, só nos últimos três anos no Iémen, um país onde a guerra mata com vários tipos de armas. A propósito o Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef veio alertar o mundo afirmando que o Iémen se tornou “um inferno na terra para cada menino e menina”. Geert Cappelaere, diretor da Unicef para o Médio Oriente e Norte de África, numa conferência de imprensa recente ainda acrescentou “os números, na verdade, não dizem muito, mas são importantes porque nos mostram até que ponto a situação se tornou desastrosa.”

1 em cada 3

Atualmente morre uma criança a cada três segundos por causa da pobreza em que vive. Isto significa que morrem diariamente 30 000 crianças. As crianças são as grandes vítimas da pobreza, ambiente em que geralmente já nascem – a pobreza gera pobreza e cria um círculo vicioso do qual é muito difícil sair vivo e saudável.

25 milhões

Pelo menos 25 milhões de crianças na União Europeia vivem em agregados familiares com baixos rendimentos, sem condições e onde a fome é frequente. Sim, estou a falar da velha Europa – civilizada e onde as democracias estão instaladas, na sua maioria, há vários anos. Sim estou a dar-vos dados do continente onde se apregoa a defesa dos direitos humanos. Não, não estou a falar de África ou países do médio oriente, nem sequer de países hispano-americanos… Estes são indicadores revelados num relatório da Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA). Estes são números que se colam a países europeus.

O relatório “Combating child poverty: an issue of fundamental rights”, divulgado a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinalou a 17 de outubro, conclui que uma em cada quatro crianças menores de 18 anos está em risco de pobreza e exclusão social no conjunto da União Europeia.
Em Estados membros como a Roménia (49,2%) e a Bulgária (45,6%) quase metade das crianças estavam em risco de pobreza e exclusão social.
Mais de 30% das crianças corriam risco de pobreza e exclusão social em países como a Grécia (37,5%), Hungria (33,6%), Itália (33,2%), Espanha (32,9%) e Lituânia (32,4 %).
As percentagens mais baixas registaram-se na Dinamarca (13,8%), Finlândia (14,7%) e Eslovénia (14,9%).
O risco afeta as crianças europeias de uma maneira global, mas é pior em alguns grupos, nomeadamente entre as comunidades ciganas e os migrantes.
De acordo com o estudo, 90% das crianças ciganas em nove Estados-membros são pobres.

 

1 em cada 4

Portugal conta-se entre os países com entre 20 e 29% de crianças em risco de pobreza e exclusão social. Uma em cada quatro crianças vivem em risco de pobreza. E isto que significa afinal? Significa antes de mais exclusão social e incumprimento dos mais elementares direitos das crianças. E pode significar fome. Em Portugal no século XXI.

No princípio deste ano que agora está prestes a chegar ao fim, João Cravinho conhecido ex-deputado e político português alertava, no seu habitual comentário na rádio TSF, que é preciso quebrar o ciclo da pobreza infantil em Portugal, que considera “de uma injustiça gritante. estamos perante um ciclo vicioso. Há uma reprodução de más condições, de deficientes oportunidades de educação, de qualificação, de participação na vida social que estão associadas à pobreza infantil de hoje, de tal maneira que os filhos dessas pessoas terão também muito menos oportunidade de fugir à pobreza”, afirmava.

É que os mais recentes dados são muito claros – o risco de pobreza de crianças cujos pais não têm o ensino secundário é de 37%; com o secundário é de 14% e com o ensino superior 4,1%.

“Os pobres de hoje são os grandes contribuintes dos pobres de amanhã e nunca mais se sai disso”, defende o comentador, que salienta a urgência de quebrar este ciclo. “É de uma injustiça gritante; é inadmissível que isto aconteça.”

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