Viagens

Viajar sem sair de casa

No momento difícil que todos atravessamos, algumas pessoas que conheço e, muitas outras de quem leio testemunhos, foram forçadas a cancelar os seus planos de viagens há muito desejadas, já pagas e adiadas não se sabe para quando.

Na impossibilidade de sair de casa devido à situação presente, podemos folhear álbuns de fotografias, ler velhos “CD” e “pen drives” no computador e rever as imagens de tempos felizes que nos parecem agora longínquos. Esta é a altura propícia para reviver momentos de descoberta, quer sozinhos quer na companhia de pessoas queridas, e viajar sem sair de casa.

Encontrei fotografias da minha primeira viagem a Itália, um país tão flagelado pela pandemia nos tempos que vivemos, que me permitiram rever momentos vividos com a minha melhor amiga – vitimada cedo demais por um cancro, – que ansiava fazer esta viagem comigo. Como eu, ela adorava ler e ir ao cinema. Por causa das nossas leituras e filmes, sonhávamos conhecer, prioritariamente, três famosas cidades italianas: Roma, Florença e Veneza, palcos de tantos eventos históricos retratados em romances e filmes. É reconfortante olhar agora para os registos dos momentos únicos que passámos na companhia uma da outra.

Foi num mês de novembro – já lá vão uma dúzia de anos – que decidimos ir a Itália, numa época com menos turistas. Relembro aqui a nossa passagem pela cidade de Florença.

As duas sabíamos ter sido em Florença que nascera o primeiro e maior poeta da Itália, Dante Alighieri, e ter sido Beatriz Portinari a musa da sua criação literária. Conta a lenda que Dante se apaixonou por Beatriz quando eram crianças de nove e oito anos, ficando o amor de Dante por Beatriz a ser o símbolo do amor platónico.

Foi muito fácil encontrar a estátua de Dante numa das praças da cidade, mas o que nos deu maior satisfação foi ter encontrado a “Igreja de Dante”, ao fim do dia, numa rua parcamente iluminada da zona antiga, local onde o poeta viu Beatriz pela primeira vez. É também ali que se encontra a sepultura de Beatriz, que morreu jovem, com 24 anos. Ao vermos as pinturas que nos contam a história de amor que iria inspirar a obra prima literária “A Divina Comédia” ficámos comovidas. No livro, terminado em 1321, um ano antes da morte do poeta, é Beatriz quem o conduz ao paraíso.

Numa outra obra conhecida “O Cavaleiro da Dinamarca”, da escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, fala-se de Cimabué e Giotto, mestre e discípulo, os primeiros e mais famosos pintores italianos do século XIV. Um dos nossos objetivos era observar pinturas desses pintores na Galeria Uffizi. Para se entrar nesse palácio do século XVI, considerado um dos melhores museus do mundo, esperámos ao frio, três horas, apesar de ser na época baixa.

Depois de percorrer dezenas de salas, reconhecemos a importância daquele museu por ali se encontrar um acervo artístico de valor incalculável: Boticceli, Rafael, Michelangelo, Da Vinci, Caravaggio e tantos, tantos outros valores representantes da mais exemplar arte italiana.

Florença requer uma semana ou mais para se poder admirar, com algum cuidado, a riqueza dos museus, galerias, esculturas, boutiques em edifícios históricos, praças e outras paisagens urbanas. Precisamos obrigatoriamente entrar, ou admirar por fora Santa Maria Di Fiori, contemplar as três estátuas célebres de Neptuno, David e Hércules no museu ao ar livre que é a Praça Della Signoria e atravessar lentamente, uma vez pelo menos, a Ponte Vecchio sobre o rio Arno, a menina dos olhos do florentino.

Eu e a minha querida amiga prometemos voltar a Florença. Na impossibilidade de lá voltar com ela, relembro hoje a intensa felicidade que essa viagem nos proporcionou.

Manuela Marujo/MS

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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