Viagens

Terra de café e grande porto de mar

Uma amiga paulistana já me convidara várias vezes para ir conhecer a cidade de Santos.

Tive, finalmente, o privilégio de ser guiada por ela – historiadora com enfoque na imigração portuguesa para o Brasil -, e cuja família, de origem transmontana, imigrou para esta cidade portuária no século XIX.  As nuvens negras a anunciar chuva não nos impediram de subir e descer a serra para chegar ao município da Ilha de São Vicente, a menos de 100 km da cidade de São Paulo, e que iria, posteriormente, transformar-se na cidade de Santos.

Apesar de São Vicente ter sido a primeira vila fundada no Brasil em 1532 e de, nessa época, do porto se transportar a cana do açúcar para Portugal, só no século XIX viria a atrair muitos imigrantes portugueses, mão de obra necessária à produção, comércio e transporte do café.

Fomos fazer o passeio obrigatório de bondinho pelo centro histórico de Santos. Começa-se em frente à estação de caminho de ferro do Valongo, ainda importante para o transporte das mercadorias que desembarcam no porto. Em frente da estação fica o Casarão do Valongo que alberga o Museu Pelé, criado em honra do conhecido jogador de futebol. O elétrico vai passando devagarinho pela “Casa da Frontaria Azulejada”, Museu do Café, Pantheon dos Andradas, Palácio José Bonifácio e vários outros edifícios e locais de significado para a cidade.

Fizemos uma paragem obrigatória no Museu do Café, criado em 1998 e instalado no edifício nobre da antiga Bolsa Oficial do Café, com a finalidade de “preservar e divulgar a histórica relação entre o café e o Brasil”. Antes de iniciar a visita, o cheirinho dos grãos de café moídos na cafetaria do museu, convidou-nos a parar e saborear uma das deliciosas misturas ali preparadas.

O museu tem um acervo considerável de objetos, livros e documentos que explicam a importância da cafeicultura no país desde a segunda metade do século XIX até hoje. A visita começa no Salão do Pregão, com mobiliário em madeira preciosa, e o chão de mármore decorado com uma estrela de cinco pontas. Nas paredes admiram-se as telas de Benedicto Calixto, um pintor da história e ícone da arte paulista.

Exposições temporárias animam o espaço no andar superior da antiga Bolsa do Café. Chamou-me a atenção uma primorosa exposição “Café árabe – um símbolo de generosidade” através do qual ficamos a saber que o café árabe é património cultural imaterial, bem como a história da imigração árabe para o Brasil.

Impossível não se ficar impressionado com o porto de Santos, o mais importante de toda a América latina. Com uma enorme atividade de navios cargueiros pequenos e grandes e enormes transatlânticos de cruzeiros, centenas de guindastes e contentores, edifícios de Alfândega e outros para serviços variados, o porto continua a ser local de comércio de indiscutível importância ao longo dos 17km de extensão.

Subimos até ao cimo dum dos morros para admirar as lindas praias no estuário de São Vicente frequentadas pelos paulistas. Faz parte da “baixada santista”, a zona litoral mais próxima da grande cidade, que atrai milhares de pessoas em feriados e outros tempos de lazer.

Atravessámos algumas das avenidas da cidade, onde admirei os canais, a solução moderna de engenharia para problemas de saneamento. Percorremos, em seguida, a avenida marginal onde se pode apreciar, junto ao mar, o jardim mais longo do mundo, e com cerca de 15km de comprimento.

Com calçada portuguesa, árvores centenárias, flores de cores vivas, pássaros chilreantes, decorado com muitas estátuas, compreendi porque se tornou um lugar aliciante para habitantes e turistas, que ali descansam e se divertem.

Santos tem muitos edifícios modernos, centros comerciais, hotéis e restaurantes com gastronomia variada. Escolhemos ir à “Tasca do Porto”, um restaurante português no centro histórico, onde comi pastéis de bacalhau e “bacalhau à lagareiro”.

Santos, apesar não ter a maior percentagem de população de origem portuguesa, como é o caso do Rio de Janeiro e São Paulo, revindica para si o estatuto de maior cidade portuguesa de todo o Brasil. Também fiquei com essa impressão.

Manuela Marujo

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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