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Piódão, aldeia de xisto

Ouvira falar de Piódão como um exemplo de uma aldeia de xisto bem preservada. Há 26 aldeias de xisto em Portugal, umas mais belas do que outras, mas, depois de conhecer Piódão, não sei se acharei outra tão pitoresca como esta. É considerada, desde 1978, imóvel de interesse público e faz parte da rede “Aldeias Históricas de Portugal”.

Na escola primária, era obrigatório decorar os nomes das serras. Não retive o nome da Serra do Açor, a quinta mais alta de Portugal continental, e Piódão fica numa encosta dessa serra. Vindo do Alentejo, precisamos de a circundar, para chegar ao concelho de Arganil a que pertence a aldeia.

Só muito próximo de Piódão, se avista, do lado oposto da estrada, o aglomerado de casinhas cinzentas com portas ou janelas de madeira pintadas de azul e a igreja matriz que se destaca pela cor branca e azul-turquesa.

Duvido que haja alguém que não pare, por momentos, para apreciar aquela visão! A aldeia surge como um conjunto harmonioso de pequenas casas que ocupam uma colina, em forma de anfiteatro. Do parque de estacionamento do Hotel Inatel, estrategicamente bem localizado, a vista da aldeia é encantadora, digna de um belo postal ilustrado. Parece um presépio, especialmente ao fim do dia, quando começam a acender-se as luzes nas ruas e casas.

Piódão aparece mencionado no primeiro recenseamento nacional, em 1527, como “casall de Piodao” com dois moradores, pertencendo à vila de Avô. Segundo o imaginário popular, e por causa do seu isolamento, acredita-se que nas proximidades se terá refugiado Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos da tristemente célebre Inês de Castro. Os apelidos Lopes e Pachecos ainda hoje são encontrados na aldeia. Também ali terá procurado refúgio um outro foragido da justiça, o Zé do Telhado (o nosso Robin dos Bosques). Pertence, desde 1855, ao concelho de Arganil, depois de extinto o concelho de Avô.

Dado termos encontrado esgotada a lotação do Hotel do Inatel, fomos procurar onde ficar na própria aldeia. Vários dos moradores nos informaram que algumas famílias oferecem pernoita. Depois de subir e descer ruelas estreitas, íngremes e com becos sem saída, encontrámos quarto num das casinhas com os aros das janelas pintados de azul, telhado de lousas pretas e flores no minúsculo jardim.

Passar a noite em Piódão foi uma experiência inesquecível. Num restaurante, junto a uma ribeira e pequena praia pluvial, provámos a comida típica da região: bucho de porco recheado e trutas grelhadas. Ao sair, sentámo-nos no largo da igreja e usufruímos do silêncio da aldeia. Dali até ao lugar onde fomos dormir, apenas nos acompanharam o céu estrelado e os nossos passos a ecoar na calçada das ruas.

De manhã, quisemos conhecer a Eira comunitária e o Forno do Pão. Não há muito mais para visitar, além da capela de São Pedro, do século XVI, e da Igreja matriz, neoclássica, com seus altares de talha e azulejaria do século XIX. Nossa Senhora da Conceição é a padroeira desta igreja com uma interessante fachada de finas torres cilíndricas rematadas por cones.

Piódão atrai pela sua harmonia e pelo conjunto estético que as pequenas casas de xisto nos oferecem. É um lugar isolado e, ao conduzir até Arganil, encontrámos outras freguesias atraentes, com características únicas, como Chão de Éguas e Foz d’Égua.

Precisamos conduzir com tempo para descobrir relíquias do passado histórico de Portugal que, cada vez mais, atrai turistas de todo o mundo. É bom que assim seja, pois ao falar com os habitantes daquelas terras, ouvimos queixas sobre o isolamento e a falta de infraestruturas para ali viverem: os acessos ainda morosos, as escolas fechadas por falta de crianças, e a carência de médicos e de outros profissionais indispensáveis. O que pode constituir fonte de pesar e dificuldade de sobrevivência para quem habita esses lugares isolados é, no entanto, motivo de prazer e arrebatamento para um visitante.

Manuela Marujo

Imagens cedidas por Manuela Marujo

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