Viagens

“Onde a terra acaba e o mar começa”

Para mim e a maioria dos portugueses, o Algarve simboliza férias, praia e mergulhos no mar. O mesmo se poderá dizer dos estrangeiros que procuram o sul de Portugal. No entanto, historicamente, o Algarve é muito mais do que isso.

O percurso até à ponta de Sagres e ao Cabo de São Vicente transporta-nos a um tempo glorioso, e evoca em nós sentimentos de orgulho nos nossos navegadores.

Enquanto passava uns dias na Praia dos Três Irmãos, no Alvor, li o livro de Onésimo Teotónio de Almeida, “O Século dos Prodígios”, recentemente publicado e premiado. No livro deste professor da Universidade de Brown, E.U.A., somos alertados para o fraco conhecimento geral sobre o contributo dos portugueses no século XVI para um novo espírito científico, na área das ciências e matemática. A leitura despertou-me a vontade de voltar ao promontório de Sagres e pisar a terra calcorreada pelo Infante Dom Henrique na legendária Vila do Infante, ali fundada em 1443 e onde o Infante passará os seus últimos dias, tendo morrido a 14 de novembro de 1460.
Este “Promunturium Sacrum” era considerado pelos antigos a finisterra, o local onde a terra acabava e começava o mar; segundo gregos e romanos era ali o extremo do mundo. Foi nesse lugar que o Infante reuniu cartógrafos, astrónomos, matemáticos e outros especialistas na arte de navegar.

Não se encontram vestígios da “Escola de Sagres” de que ouvimos falar nos compêndios de história no liceu. Não restam dúvidas, porém, de que em Sagres o Infante reuniu grandes pensadores que, com os seus conhecimentos, contribuíram para a epopeia da descoberta de novos caminhos por mar, nos séculos XV e XVI.

Estive no promontório de Sagres onde se pode ver a fortaleza, a torre cisterna, a capela e a gigantesca rosa dos ventos. Subi às ameias de onde se avista o mar profundo, poderoso e ameaçador. Os canhões direcionados para as pequenas praias, protegidas por penhascos elevados, não impediram a ocupação, em 1557, pelo famoso corsário inglês Francis Drake e seus homens.

Ao longe, avistei o Cabo de São Vicente num outro promontório, com o seu farol branco e vermelho, que nos evoca a lenda do santo do século IV, cujas relíquias terão sido trazidas para um local próximo e que, durante séculos, foi lugar de peregrinação.

Em 2018, a cidade de Lagos, de que era “senhor” o Infante, comemorou, com muitas atividades alusivas, os 500 anos de sua morte. Há museus, monumentos, estátuas, nome de praça e ruas evocativas de Dom Henrique. Mas é necessário ir ao mítico promontório de Sagres para sentir a emoção e a admiração por esse príncipe visionário, líder de homens fortes, bravos e sonhadores que deram a conhecer novos mundos ao mundo.

Na ponta mais sudoeste do Algarve onde “a terra acaba e o mar começa”, voltei a sentir a responsabilidade da herança que nos coube ao desbravarmos aquele e outros oceanos.

Ao ler novamente páginas de o “O Século dos Prodígios”, sinto reavivada admiração pelo contributo de estudiosos da era do Infante: Duarte Pacheco Pereira, D. João de Castro e Pedro Nunes, precursores do pensamento científico no século XVI. Pena é que o resto do mundo não conheça esses nomes e o contributo que deixaram a menos que esta obra seja, um dia, traduzida para inglês.

Manuela Marujo

Imagens cedidas por Manuela Marujo

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