Viagens

O pintor dos nenúfares

As capitais da Europa ficam menos cheias de turistas no outono. Nos últimos dois anos, escolhi passar uma semana em Paris, no mês de outubro, para alimentar o meu espírito com beleza e cultura. As temperaturas são amenas e é agradável fazer caminhadas para visitar os magníficos edifícios históricos, parques e jardins. É também habitual que novas exposições sejam inauguradas nos museus e galerias de arte das grandes cidades, no mês de outubro.

Em Paris, vale a pena comprar um passe para os museus da cidade. Pode entrar-se, quantas vezes quisermos, em mais de cinquenta museus durante quatro dias. Visitei apenas dez, entre os três que já conhecia, mas onde não posso deixar de ir nem que seja por uma hora: o Louvre, o Centro Pompidou e o Arco do Triunfo. Com o passe, tem-se prioridade de entrada, o que é muito vantajoso pois as filas são imensas nestes museus, mesmo no outono.

A casa rosada e os jardins de Monet em Giverny são visitados anualmente por meio milhão de pessoas por terem servido de inspiração aos quadros que tornaram Monet mundialmente famoso. Os nenúfares são as flores que mais se associam a este pintor, considerado o fundador do impressionismo.

Gosto de nenúfares desde criança. É a minha flor preferida. Cresci na aldeia de Santa Clara junto ao Rio Mira e, na água da ponte romana, abundavam os nenúfares que me encantavam com as suas cores amarelas e brancas.

Claude Monet pintou centenas de quadros com nenúfares em tons rosa, lilás, vermelho e azul. Sabe-se que se inspirou na pintura japonesa e, nos jardins em Giverny com água abundante, plantou e cuidou dos seus nenúfares, assim como mandou construir pequenas pontes ao gosto oriental.

Os jardins de Giverny com chorões, plátanos e dezenas de flores multicores de muitas espécies dão relevância aos belos nenúfares que Monet retratou de forma única. Para o conseguir, repetidamente pintou o mesmo tema, em várias estações do ano e a diversas horas do dia para captar a luz, sempre diferente.

Ao visitarmos a casa de Claude Monet, com retratos de família, réplicas dos seus quadros mais significativos, objetos pessoais e mobiliário da época, compreendemos melhor o seu percurso de vida tão atribulado. O pai era um negociante bem-sucedido na vida, no entanto, recusou-se a reconhecer o talento do filho e a ajudá-lo a dedicar a vida à pintura. Passou por grandes dificuldades financeiras tendo recorrido a amigos como Auguste Renoir e Alfred Sisley que cedo identificaram nele um talento invulgar. Claude Monet acabou por se tornar famoso, viajar muito, enriquecer e viver uma vida de luxo.

Depois de me deslumbrar com os extensos jardins, não quis deixar de caminhar pela tranquila vila de Giverny, com apenas duas ruas principais, onde se encontram estúdios de artistas, uma casa de chá, um hotel de “charme” e, por fim, na igreja de Sainte-Radegonde, o túmulo do pintor, que também visitei. Foi perturbante ver, numa das ruas percorridas por uma dezena de turistas, quatro militares armados de metralhadoras. À chegada, no parque verdejante onde se encontra um busto do artista, já tinha reparado num outro grupo de quatro guardas. A beleza e tranquilidade de Giverny contrastam vivamente com a presença de guardas e armas.

É do conhecimento geral que, depois da primeira Grande Guerra, e a pedido do primeiro ministro francês George Clemenceau, amigo pessoal do pintor, Monet pintou vinte quadros de grandes dimensões (2x5metros), completados quando tinha 84 anos, um presente seu ao povo francês.

No Museu L’Orangerie foram preparadas salas especiais para exibir esses quadros de nenúfares, intitulados “Les  Nymphéas”, que ilustram bem o expoente do talento desse impressionista que, naquela idade e com graves problemas de visão, retratou a beleza dos jardins de Giverny.

Essas obras são comparadas, pela sua rara beleza, às da Capela Sistina do Vaticano. Quando entramos nessas salas, sentimo-nos tomados pelo silêncio e a quietude, porque os quadros simbolizam a tranquilidade, a serenidade e a paz a que todo o ser humano deve ter direito. Aí, consegue-se esquecer a presença inusitada de soldados armados em Giverny, à chegada no aeroporto e, em outros lugares públicos onde uma França sobressaltada reage à presença de estrangeiros. 

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

Manuela Marujo

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