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Mulheres Artistas

Nos últimos anos, tem-se notado um movimento, embora ainda pouco significativo, na curadoria de exposições de mulheres artistas em grandes museus do mundo. O Museu de Arte Moderna (MOMA) em Nova Iorque e o Museu de Arte de São Paulo (MASP) são exemplos de dois grandes museus onde visitei, recentemente, exposições dando destaque a mulheres que se distinguiram nas artes.

Na cidade de Lisboa estão, presentemente, duas grandes exposições, abertas até à primavera de 2020, que também dão relevância a mulheres artistas. Fui ver as duas, e alegrou-me constatar que alguma justiça lhes está a ser feita.

Na Fundação Calouste Gulbenkian, uma instituição de relevo internacional, podem ver-se, em três pisos da Galeria de Arte Moderna, 130 obras de 47 artistas portuguesas – pintura, escultura, fotografia, desenho, têxteis, vídeos e instalações -, abrangendo um período que vai de 1926 a 2018. Intitulada “Artistas Mulheres na Coleção Moderna”, encontram-se expostas obras das famosas como Paula Rego, Ana Hatherley e Helena Almeida, mas também algumas obras inéditas de Mily Possoz e Maria Antónia Siza, e estão ainda representadas artistas mais jovens como Ana Cardoso e Sara Bichão.

À artista Sarah Affonso (1899-1983), pouco conhecida pela maioria, no ano em que se comemoram os 120 do seu nascimento, foram-lhe dedicadas duas exposições, uma na Gulbenkian, que encerrou no dia 7 de outubro, intitulada “Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho” e uma outra, muito mais abrangente, no Museu de Arte Contemporânea do Chiado.

Tive pena de não ter chegado a Lisboa a tempo de ver a primeira exposição. Fui ver a segunda, intitulada “Sarah Affonso: Os dias das pequenas coisas”. Esta permite-nos ficar a conhecer a vida e percurso desta talentosa e multifacetada artista que não foi “apenas” a mulher do pintor modernista José de Almada Negreiros.

Sarah nasceu em Lisboa em 1899 mas, porque foi criada no Minho de 1903-1914, essa experiência influenciou grandemente a sua criação artística; desses anos, guardou memórias da terra minhota e suas gentes que iria retratar nas obras.

Quando casou com José de Almada Negreiros, em 1934, ela “estava no campo da pintura” nas palavras dele. Tinha frequentado a escola de Belas-Artes em Lisboa (1915-22) e continuado os estudos em Paris, em 1924. A ida para estudar em Paris deve-a ao empenho do pai que acreditou no talento da filha. Nas décadas de 1920-1930, organizou em Portugal e em França, exposições individuais e em grupo, com bastante sucesso.

Admiro esta mulher que, apesar dos preconceitos da época, conseguiu transpor barreiras sociais que se erguiam contra as mulheres. Sempre que entro na conhecida pastelaria “A Brasileira” do Chiado, lembro-me que ela foi uma das primeiras a frequentá-la, mostrando o seu espírito forte e independente.

A obra de Sarah Affonso inclui, para além da pintura, cerâmica, bordados, desenhos e ilustrações que foram publicados quer na imprensa periódica, quer em livros de escritoras conhecidas como Fernanda de Castro e Sofia de Mello Breyner Andresen.

Apesar de ter sido reconhecida, tanto pelos seus pares como pela crítica, e ter recebido em 1944 o prestigiado prémio Amadeo de Souza-Cardoso, viveu na sombra do sucesso do marido e a sua obra tem sido pouco divulgada.

Penso que a curadoria de exposições como “Artistas Mulheres” e “Sarah Affonso: Os dias das pequenas coisas” contribuem, de certo modo, para que reconsidere a importância que os museus e galerias de arte devem dar à obra de arte, independente do sexo do artista que a criou.

Manuela Marujo

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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