Viagens

Lobito, Angola

Manuela Marujo
Manuela Marujo

Com o meu bacharelato completo, bons conhecimentos de inglês e alemão, candidatei-me a um lugar de professora de liceu na cidade de Lobito, no litoral centro-sul de Angola, onde fui colocada em outubro de 1972.  

Houve quem tentasse dissuadir-me de sair de Portugal para ir lecionar num país em guerra, mas convenci a minha mãe  prometendo-lhe que iria fazer companhia ao meu irmão. Ele prestava serviço militar no porto do Lobito. Nessa parte de Angola, não havia sinal de “terrorismo”; era assim que se falava da guerrilha que tinha começado em 1961, no norte do país.

A cidade do Lobito espraia-se numa baía de águas tranquilas e profundas e, no início dos anos setenta, a chegada constante de navios de passageiros e de mercadorias animava o importante porto de mar.

O maior atrativo da cidade é a restinga, isto é, uma língua de terra que penetra pelo mar, com cerca de cinco quilómetros de extensão, protegida por esporões e recortada por pequenas praias de areia clara e águas calmas. As sombras das palmeiras e casuarinas protegem do sol escaldante.

A restinga era um dos lugares privilegiados para habitar. Tive a sorte de aí poder alugar um pequeno apartamento com vista para a praia e para a baía, que partilhava com o meu irmão. A localização do nosso prédio era perfeita. Podia sair descalça de casa e, minutos depois, mergulhar no mar. Sentia-me a viver no paraíso.

Nesse ano, a dar aulas no liceu, descobri que ser professora podia ser divertido e compensador. As manhãs eram passadas na praia, em mergulhos refrescantes, já que lecionava só à tarde e à noite. Fiz muitos amigos não só entre os colegas e os jovens mas, especialmente, com os alunos adultos que frequentavam aulas no horário pós-laboral. Tinha 23 anos de idade, cheios de energia, curiosidade e entusiasmo, e os alunos apreciavam ter uma professora que parecia tão à vontade na sua profissão. As aulas de inglês, com o meu sotaque britânico da altura, eram as mais divertidas para todos.

A vida no Lobito foi, sem dúvida, mais agradável e fácil por estar acompanhada do meu irmão. Com o vencimento de professora, pude contribuir para a compra de uma mota e, a seguir, um carro. Isso permitia-nos deslocar para todo o lado -almoçávamos todos os dias em restaurantes no centro, e aproveitávamos os muitos programas que a “cidade dos flamingos” oferecia. As salinas, no centro da cidade, atraíam essas aves pernaltas de penas rosa. Como eu gostava de me sentar na esplanada do café “Kurika” e admirar as dezenas de flamingos que sobrevoavam a cidade! O mais divertido, contudo, era ir “às farras”, nos fins-de-semana, onde dançávamos semba e merengue pela noite fora.

A cidade de Benguela, a das belas acácias rubras, ficava relativamente próxima; íamos lá tomar café e, aos fins-de- semana, mergulhar nas praias mais reservadas da Baía Azul, da Caota e Caotinha.

Lobito, Angola Durante os dois anos que vivi no Lobito, viajei, várias vezes, até Sá da Bandeira (hoje Lubango) onde completei algumas disciplinas de Pedagogia e Didática na universidade. Nas redondezas dessa cidade, fui maravilhar-me com o grandioso desfiladeiro da Tundavala, e tive contacto inesperado com mulheres mumuílas, que me fascinaram com seus pescoços alongados enfeitados de dezenas de colares.

A minha experiência de professora em Angola foi determinante para o resto de minha vida. Comprovei que poderia conciliar a docência com as viagens pelo mundo. Ser professora não era incompatível com o sonho da minha vida – conhecer outras terras, gentes e modos de viver distintos do nosso Portugal pequenino.

 

 

 

 

 

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