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Ilha festeira

A Ilha Terceira faz parte do grupo central do arquipélago dos Açores, juntamente com Faial, Pico e São Jorge. Devido à sua localização geográfica privilegiada foi porto de passagem e paragem da “carreira da Índia”. Sabe-se, por exemplo, que em 1499, Vasco da Gama esteve na ilha chorando a morte de seu irmão, que ali ficou sepultado. É motivo de orgulho para os terceirenses que a capital Angra tenha sido denominada “do Heroísmo” pela rainha D. Maria II, cidade símbolo de patriotismo durante as Guerras Liberais.

Estamos em junho, mês de festas populares e, quando nelas penso, surgem-me imagens da ilha Terceira, nos Açores. As Sanjoaninas, consideradas as maiores festas populares do arquipélago, atraem à Terceira açorianos de todas as ilhas, continentais, portugueses da diáspora e turistas. Quem goste de festa e se queira divertir vai à Terceira pelo São João.

Uma das minhas visitas a esta ilha açoriana foi intencionalmente programada para assistir aos festejos das Sanjoaninas que se prolongam em geral, por mais de uma semana, e não apenas na véspera e dia do santo. Já tinha ouvido falar do espírito alegre e folgazão dos terceirenses, contudo, testemunhar essas qualidades ao vivo, foi uma experiência que dificilmente esquecerei.

Foto: Ricardo Caminha

A capital Angra do Heroísmo, elevada a cidade em 1534, tem a sua zona histórica classificada como Património Mundial da Humanidade desde 1983. É nessa parte da cidade, junto à catedral e Praça Velha, que se aglomera a grande maioria das pessoas que vai assistir ao desfile das marchas. De tal forma popular é o desfile temático que, em alguns anos, decorre durante dois dias, devido ao grande número de grupos e participantes que se inscreve para desfilar, vindos de vários países. É igualmente impressionante o número de bandas e filarmónicas a animar as marchas.

Eu adorei passear pelas ruas e ver a cidade engalanada para a festa. Colchas antigas de damasco e seda, outras de renda delicada enfeitam as janelas dos lindos prédios com varandas de ferro forjado. Há bandeirinhas, balões e outros enfeites de papel de várias cores a decorar ruas e pracinhas. Em alguns largos, ergue-se um mastro, ao redor do qual se bailará à noite, junto das barraquinhas de comes e bebes que atraem multidões de todas as idades. As noites são quentes e longas, quem é que quer ir dormir quando há espetáculos musicais, cantigas ao desafio em lugares designados e bailaricos por toda a cidade?

Durante o dia, é inevitável não deparar com uma “tourada à corda”. Toda a ilha é aficionada. Diverti-me imenso a ver os homens a correr à frente dos touros, presos por uma corda, mas suficientemente soltos para arremeter contra os que os vêm atiçar com uma sombrinha ou outro objeto colorido.  Barreiras improvisadas bloqueando as portas e as janelas das casas nem sempre são suficientes para evitar marradas, cenas engraçadas de saltos acrobáticos causados pelo susto de sentir o touro demasiado próximo, ou com a cabeça portas adentro.

Os terceirenses têm sempre a mesa posta nesses dias de festa e senti-me acolhida em muitas das casas onde entrei, convidada a provar a típica alcatra, chicharros fritos ou favas guisadas, sempre com um copo de vinho ou cerveja fresca a acompanhar. Difícil escolher entre as sobremesas deliciosas – os doces conventuais irresistíveis de que a ilha se orgulha, – como as donas amélias, os camafeus e as cornucópias.

Imagino a grande tristeza e deceção de milhares de pessoas que se prepararam ao longo dum ano para brilhar nestas festas, e de tantas outras que ansiavam visitar a ilha para se divertirem. A esperança de um ano melhor em 2021 afasta o desespero e traz a certeza que outras Sanjoaninas alegres virão alegrar a ilha festeira.

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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