Ilha de Santiago, Cabo Verde
Conhecia já um pouco de África – Angola, Moçambique e Guiné-Bissau – mas ainda não tinha tido a oportunidade de visitar nenhuma das dez ilhas de Cabo Verde. A minha querida amiga cabo-verdiana, a viver em Toronto, não hesitou em aconselhar-me: “Vai a Santiago, a minha ilha. Vais gostar da Praia, a capital!”
Uma semana em Santiago foi o ideal para ficar a conhecer o interior e a costa. Na viagem de carro da Praia ao Tarrafal, surpreenderam-me as montanhas elevadas com majestosos rochedos de formas misteriosas e os vales profundos, resultantes da origem vulcânica do arquipélago. A costa a pique é recortada por pequenas praias de areia escura onde os pescadores recolhem os seus barcos coloridos.
Ir à antiga prisão política do Tarrafal, hoje intitulado Museu da Resistência, é comovente. Lugar de tortura e sofrimento de tantos homens, só por terem ousado acreditar na liberdade e democracia, faz-nos refletir sobre prepotência e injustiça e torna-nos mais resistentes a qualquer ideia de regresso a ditaduras. Um museu, estátua e nome de praça, na cidade da Praia, dedicados a Amílcar Cabral ajudam-nos a compreender melhor a luta pela independência de Cabo Verde quando era colónia portuguesa.
Gostei muito de visitar a “Cidade Velha”, património da humanidade desde 2009. Chamou-se Ribeira Grande e foi a primeira capital da ilha. Restam as ruínas da catedral, o pelourinho, a igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Rua de Banana e pouco mais. Vista da Fortaleza de São Filipe, construída no século XVI durante o domínio dos espanhóis, a Cidade Velha é um deslumbramento. Ao pôr do sol, minha hora favorita do dia, a paisagem era quase mágica. Só apetecia ficar em silêncio e refletir na coragem de um punhado de navegadores que ali aportou, no ano de 1460.
Diogo Gomes, ao serviço do Infante Dom Henrique, foi o principal descobridor, com estátua em lugar de destaque no Platô, no centro histórico da cidade da Praia (Praia de Santa Maria), fundada em 1615, e capital do arquipélago desde 1770. No Platô encontramos também os palacetes do governo, o Museu Etnográfico e a Casa da Cultura.
Cabo Verde tem um clima árido, com temperatura média anual de 25o C. Tive sorte de ter escolhido ir na estação de chuva, que vai de agosto a outubro, em que toda a ilha estava verde e aprazível. Nos pequenos e profundos vales, abundavam árvores de fruto: coqueiro, mangueira, goiaba e outras frutas tropicais. O milho, cereal usado nos pratos mais básicos da população, cresce por todas as encostas, quintais ou bermas das estradas. Compreendi porque é que o delicioso cuscuz ou saborosa cachupa são encontrados em qualquer restaurante.
Cabo Verde é terra de música: morna, coladeira, funaná, batuque e outros géneros musicais. A artista mais conhecida até hoje foi Cesária Évora – a Rainha da Morna – que levou essa música a todo o mundo. Acompanhada por clarinete, violino, guitarra e cavaquinho, nunca esquecerei a “Diva de Pés Descalços”a atuar, na sua grande simplicidade, uma vez no no Massey Hall e outra no Convocation Hall da Universidade de Toronto. Tornou-se uma estrela internacional aos 47 anos e morreu com 70.
Quem viajou apenas por uma ilha não pode dizer que ficou a conhecer o país. Desta vez foi Santiago; talvez um dia possa voltar a Cabo Verde e aprender mais sobre o arquipélago.
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