Viagens

Évora, cidade-museu

Fiz o liceu em Beja e, no meu terceiro ou quarto ano, houve uma visita de estudo a Évora. Fiquei para sempre grata aos meus pais por me terem autorizado a ir nessa excursão de apenas um dia, que me iria marcar para sempre.
Em Beja, aceitávamos mal ser Évora considerada a “cidade-museu”. Depois dessa visita, passei a perceber a superioridade manifestada pelos eborenses quando se comparava a cidade-capital do Alto Alentejo a Beja, no Baixo. Fiquei contente quando em 1986, já eu me encontrava no Canadá, li a notícia que o centro histórico da cidade tinha sido considerado património da humanidade pela UNESCO.

Casas Pintadas
Casas Pintadas

Tenho voltado a Évora muitas vezes e, sempre que lá vou, continuo a descobrir testemunhos da história dos povos que por lá passaram. O nome da cidade tem origem céltica, anterior, por isso, a romanos e árabes.

Desta vez, fui a Évora para participar num congresso, que reuniu mais de uma centena de participantes de vários países, todos estudiosos da lusofonia. Reunimo-nos de 25 a 29 junho, na Universidade de Évora, antigo Colégio do Espírito Santo da Ordem Jesuíta. Esta universidade fundada nos finais do século XVI é a segunda mais antiga de Portugal, a seguir a Coimbra. Que lugar apropriado para se refletir, para se dialogar e para conviver!

Tive oportunidade de voltar ao Templo Romano, à Sé, ao Convento/Igreja de São Francisco e rever a Capela dos Ossos. Impressionante a beleza macabra que as capelas cobertas de caveiras e ossadas nos proporcionam. Se na primeira vez em que lá fui nem de olhar para os ossos eu gostei, agora o que senti foi respeito e admiração pelo trabalho artístico que ali se apresenta.

Ao entardecer, vagueei pelas ruas estreitas, travessas e becos dos bairros da Mouraria e da Judiaria, onde os mouros, e depois os judeus, foram alvo de discriminação.

Tinha-nos sido oferecido pela organização do congresso, um bilhete de acesso a várias exposições temporárias nas salas dum palacete onde funcionou o Tribunal da Inquisição, transformado hoje em galeria de arte moderna. Senti-me acabrunhada ao recordar a forma desumana como, durante três séculos, foram tratados pela Igreja Católica todos os que tinham ideias livres e maneiras diferentes de professar a sua fé.

No jardim desse palacete, encontra-se a exposição permanente “Casas Pintadas”. O nome não nos prepara para a surpreendente beleza dos frescos pintados nas paredes e pequena capela. Fiquei deslumbrada.

A feira de São João animou a cidade durante todos os dias em que lá estive. Presentes na feira havia exposições diversas nas barraquinhas, desde artesanato a objetos decorativos, organizadas pelas dezenas de clubes, associações, juntas de freguesia, igrejas, grupos de juventude, filarmónicas, etc. Encontravam-se mostras de doces conventuais e produtos regionais de várias qualidades: o bom azeite, os queijos, chouriços e vinhos alentejanos.
Espetáculos de música animavam o público nos três palcos preparados para os eventos. Não faltou, todas as noites, o cante alentejano, também ele património imaterial da humanidade desde 2014.

Geraldo Sem Pavor, o herói dos tempos de nosso primeiro rei de Portugal Dom Afonso Henriques, deu nome à praça principal da cidade. Os arcos que a ladeiam e a embelezam, de épocas diferentes, também protegem do clima extremo que caracteriza o interior alentejano. Para a praça são atraídos turistas e nacionais. Bebe-se café, come-se comida regional regada de um bom vinho, faz-se compras. Não se pode ir a Évora sem passar algum tempo na Praça do Giraldo, aonde vão dar sete ruas da cidade histórica.

Apesar de conhecer um pouco a cidade, desta vez escolhi fazer uma caminhada com guia, durante 2 horas, a “Évora Desconhecida”. Ouvi factos, observei portões, janelas, palácios, arcos, fontanários, partes de muralha de que dificilmente me aperceberia se apenas olhasse ou lesse num livro. Não tenho dúvidas que vou voltar a Évora pois tenho a certeza que ainda muito ficou para ver.

Manuela Marujo

Imagens cedidas por Manuela Marujo

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