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Escultura nas ruas da cidade

Toronto é uma cidade sem ruínas romanas, castelos mouros, palácios medievais e outros monumentos que chamam a atenção em Lisboa, Paris ou outras cidades europeias com muitos séculos de existência. Esta cidade é digna de ser valorizada por outras razões, quer por quem vem de fora, quer por aqueles que nela têm a sorte de viver. Será uma pena, por exemplo, que quem vive ou visite Toronto não conheça a arte do escultor britânico Henry Moore (1998-1986). 

Recentemente, ao atravessar o parque Grange, localizado nas traseiras da Galeria de Arte do Ontário (AGO), deparei com a escultura de grandes dimensões, intitulada “Two Large Forms” que, durante décadas, assinalou a proximidade da AGO na esquina sudoeste das Ruas Dundas e McCaul. Como muitos outras pessoas, tinha dado pela falta da bela obra artística ao alcance do olhar de qualquer transeunte. Não foi levada para muito longe e o espaço que agora ocupa dá-lhe uma outra dimensão, integrando-se na perfeição no parque verdejante com a galeria como pano de fundo.

A enorme escultura convida a aproximarmo-nos, a tocar a sua superfície macia de bronze, de tal modo que dificilmente resistimos a não posar junto da “janelinha” para levarmos connosco uma ou mais imagens a lembrar esta obra de arte.

Toronto é internacionalmente conhecida pelas esculturas de Henry Moore. Quando em 1958 o arquiteto finlandês Viljo Revell ganhou o concurso para desenhar a nova Câmara Municipal de Toronto, sugeriu a aquisição de uma escultura de Moore, por quem nutria admiração e já era famoso na época. O elevado custo e caráter abstrato da obra “The Archer”, que se encontra em lugar de destaque na Nathan Philip Square, causou enorme controvérsia na cidade. Graças à perseverança de Phil Givens, presidente da Câmara na altura, que angariou os fundos com a ajuda de mecenas, Toronto ganhou uma bela obra de arte. Muitos cidadãos, no entanto, não lhe perdoaram e, seis meses depois, perdeu as eleições.

“The Archer” foi inaugurado em 1966 e, desde essa altura, tornou-se um ícone importante na cidade. Hoje, todos os que visitam essa praça não deixam de admirar a moderna escultura que, a pouco e pouco, foi conquistando a admiração dos torontinos.

Henry Moore nunca esqueceu a campanha a seu favor, pelo que, em 1974, doou mais de 200 peças de arte à AGO. Presentemente, o “Henry Moore Sculpture Centre” alberga mais de 900 esculturas e desenhos constituindo a maior coleção pública de obras deste escultor, que atrai visitantes e estudiosos internacionais. Muito apreciadas são as várias esculturas intituladas “Mulher reclinada” que se podem admirar na galeria. A mãe de Henry Moore foi sua modelo e uma grande impulsionadora da criação artística do filho.

Sinto-me privilegiada por viver numa cidade que, embora seja muito moderna para os parâmetros europeus, nos proporciona belíssimas esculturas em muitos lugares públicos: edifícios do governo, parques e jardins, avenidas, hotéis, centros comerciais, praças, etc. Henry Moore é um dos escultores mais famosos e mais representado mas há outros para descobrir.

Em suma, não é preciso entrar em museus para ver obras de arte que nos impressionam e transformam a nossa maneira de ver o mundo. A arte é muito difícil de definir mas mais difícil ainda é dizer qual a sua utilidade. Sente-se algo indiscritível ao ouvir uma música, ao observar uma pintura, ao ver um filme, uma representação teatral ou um espetáculo de dança. O mesmo se aplica a uma escultura. Para muitos, contemplar uma estátua, seja ela abstrata ou bastante representativa do modelo escolhido, traz imagens que nos atraem ou repelem, ou podem inspirar a nossa criatividade dando-nos lições de história, que nos tornam mais humanos.

Manuela Marujo

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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