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Cataratas no coração: Niagara ou Iguaçu?

Na minha primeira visita a Toronto, mal tinha chegado, os meus primos levaram-me a apreciar uma das sete maravilhas do mundo – as cataratas do Niagara. Era outubro e eles, imigrantes de longa data, souberam escolher o caminho mais bonito. Passámos pela pitoresca vila de Niagara-on-the-Lake e contornámos o rio Niagara antes chegar às cataratas. Com olhos maravilhados, admirei, os amarelos e vermelhos das folhas na beira da estrada, nos parques e jardins e nas escarpas, em pleno esplendor. Nunca tinha visto paisagens com tantas árvores coloridas, autênticas pinturas da mãe-natureza!

 

Niagara

Ao caminharmos para chegar junto das cataratas, a primeira impressão de que me lembro foi o som causado por toneladas de água a despenharem-se. Faz sentido que Niagara tenha vindo do nome índio Onguiaahara “grande trovão das águas”. Atravessada a barreira de neblina causada pela humidade, os olhos mal querem acreditar na magnitude da cortina de água que temos na nossa frente. As cataratas do rio Niagara reúnem águas de quatro dos Grandes Lagos que escoam para o Lago Ontário e localizam-se, de ambos os lados, na fronteira do Canadá com os Estados Unidos. Conhecida pelo nome Horseshoe Falls, no lado canadiano, mede 800 metros de comprimento e 49 de altura. Ficamos pasmados, indiferentes aos salpicos de água que nos forçam a piscar os olhos e nos humedecem a cabeça e a roupa. Senti a minha pequenez e insignificância ao percorrer, devagarinho, os miradouros, encostada às grades protetoras, tentando abarcar com o olhar aquele panorama único. Aceitei descer, de elevador, para os denominados Portais subterrâneos, vestida com o obrigatório impermeável, por prometerem um olhar mais próximo e íntimo por detrás daquela maravilha. Como os outros visitantes, fiquei encantada, pois eram múltiplos os arco-íris que se nos apresentavam pela frente. O som ensurdecedor da água a cair à nossa frente era aterrador!

Por estarem a uns 100 km da cidade Toronto, as cataratas tornaram-se um lugar acessível para ser visitado por canadianos e turistas do mundo inteiro, cerca de 12 milhões de pessoas por ano. Os resultados dessa popularidade, desde o século XIX, trouxeram consequências inevitáveis. As cataratas surgem-nos ladeadas de infraestruturas resultantes de um turismo desenfreado que muito contribui para o desenvolvimento da região. Destacam-se hotéis, restaurantes, um casino famoso, lojas de todos os tipos, torres de observação, helipontos, parques de estacionamento, etc.. Foi preciso visitar as cataratas de Iguaçu para comparar e ficar com pena de não ter sido possível deixar as cataratas do Niagara num ambiente mais natural, como se fez em Iguaçu.

No Brasil, é igualmente popular ir ver as cataratas do Iguaçu, declarada, em 2011, Património Natural da Humanidade e uma das novas dez maravilhas naturais do mundo. Ficam localizadas no Parque Nacional de Iguaçu, no estado do Paraná, e no Parque Nacional Iguazú, em Misiones, Argentina, na fronteira com os dois países.
Iguaçu ganha em beleza circundante, sem sombra de dúvida. A entrada de veículos particulares no parque está proibida, caminha-se em trilhas – um passeio que dura de 2 a 4 horas no meio de uma natureza exuberante -, onde se podem ver muitas aves de penas brilhantes e coloridas e animais selvagens pacíficos, como os quatis, que se cruzam connosco no caminho continuamente.

São mais de 100 quedas de água, só no lado do Brasil, a Garganta do Diabo a mais elevada, com 80 metros de altura. É muito especial caminhar numa trilha de cerca de um quilómetro e poder ver as quedas muito próximas, sob diversos ângulos, com o arco-íris a surpreender-nos e a encantar-nos. Ficamos completamente encharcados mas, com as temperaturas quentes, a roupa seca rapidamente e a molha até sabe bem. Sei que merece também a pena visitar o lado argentino, igualmente belo, com mais do dobro de quedas, embora menos elevadas.

Por ser o Brasil um país menos desenvolvido, com um número de turistas incomparavelmente inferior, foi possível proteger e conservar a beleza das quedas no seu estado natural. Fui duas vezes a Iguaçu mas, apesar da enorme distância, sonho voltar a esse lugar fascinante. Niagara fica bem mais perto, não perdeu a sua beleza e majestade, e apesar das multidões e perda de alma, regressarei muitas vezes.

Manuela Marujo

Niagara

Iguaçu

Imagens cedidas por Manuela Marujo

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