Viagens

Berlim, Alemanha

Durante os meus anos de estudante, nunca me interessei em conhecer a cidade de Berlim por causa do “muro da vergonha” erigido nessa cidade. É-me penoso aceitar, neste momento da minha vida, presenciar outros países a construir muros parecidos. Não se aprende nada com a História?

Fui a Berlim recentemente. A cidade é famosa pelos seus 170 museus, um verdadeiro paraíso para amantes de cultura. É na “Ilha dos Museus”, uma área particular da cidade, que se encontram os mais famosos como o Pergamon e o Neues. No Pergamon, fiquei maravilhada ao ver a reconstrução da famosa Porta de Ishtar, a entrada principal da desaparecida cidade de Babilónia (sita no Iraque de hoje). Com os seus azulejos azuis esmaltados decorados com relevos de leões, bois selvagens e dragões era uma das antigas sete maravilhas do mundo. No Neues, emudeci de respeito perante as vitrines de papiros com a primeira escrita cuniforme da Mesopotâmia datada de cerca de 4.000 antes de Cristo. Um busto de Nefertiti, em destaque numa das salas, sensibiliza qualquer visitante pela beleza incomparável dessa rainha egípcia.

Berlim não possui apenas valiosos tesouros da Antiguidade. Ao caminhar nas suas ruas, vi galerias de arte com exposições de artistas de renome e outros desconhecidos tanto em edifícios de grande beleza arquitetónica, como em contentores de aço. Artistas de vanguarda nas artes plásticas, escultura, arquitetura e tantos outros encontram em Berlim terreno favorável. Todos são valorizados nesta cidade que abraça inovação e criatividade.

Muita gente associa Berlim a vida noturna como a retratada no célebre musical “Cabaret” e, na verdade, a cidade apresenta shows de grande variedade e para todos os gostos: ópera, ballet, teatro e festivais musicais de todos os géneros. A liberdade de expressão, especialmente a liberdade sexual, é um facto; pessoas de todo o mundo procuram e encontram, nesta cidade liberal e tolerante, o estilo de vida sonhado.

Surpreendeu-me, pela positiva, o número de ciclovias e de bicicletas usadas como meio de transporte, assim como autocarros e elétricos frequentes e baratos. Respira-se ar puro na cidade. Eram igualmente visíveis, por todo o lado, pequenas hortas comunitárias em espaços urbanos. A cidade proclama-se ecológica e assim se mostra.
A cidade monumental de Berlim, arrasada a 80% durante a Segunda Grande Guerra, tem sido reconstruída com empenho e perseverança e voltou a ser a capital da Alemanha após a reunificação.

O meu objetivo principal, ao visitar a cidade, era presenciar a nova Berlim depois das famosas palavras de Ronald Reagan para Gorbachev: “TEAR DOWN THIS WALL” e ver o que restava do Muro que dividiu a cidade durante 28 anos (1961-1989). De um lado ficava a República Democrática da Alemanha comunista, liderada pela União Soviética e responsável pela construção; do outro a República Federal da Alemanha capitalista, liderada pelos Aliados. Famílias foram separadas da noite para o dia, e não se respeitou casas, prédios ou ruas. Durante aquele negro período da história da cidade, quem se aproximasse e tentasse saltar o muro, sujeitava-se a perder a vida às mãos dos militares da Alemanha oriental.

Do Muro restam cerca de 1.300 metros onde artistas pintaram, e continuam a pintar, as suas interpretações desse “muro da vergonha”. É uma galeria de arte a céu aberto.
Pode-se também visitar o Museu do Muro onde se aprende tudo sobre esse triste período da história alemã, através de fotografias, vídeos, recortes de jornais da época e objetos. Ir ao Checkpoint Charlie é obrigatório, por se ter tornado o símbolo da divisão da cidade e constituir a parte da fronteira mais famosa entre Berlim Oriental e Berlim Ocidental. Esta era a entrada principal reservada aos políticos, diplomatas e visitantes especiais que tinham autorização para cruzar a fronteira.

Ver esses testemunhos com os meus olhos e imaginar o sofrimento causado a tanta gente inocente, durante quase 30 anos, fortaleceu em mim a convicção de que o ser humano falha bastante e precisa de refletir muito sobre os seus erros. Quem defende a construção de muros, barreiras e arames farpados precisa de visitar Berlim.

Manuela Marujo
Imagens cedidas por Manuela Marujo

 

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