Viagens

Amazónia – A cidade da “Selva”

Quem gosta de ler viaja por terras do fim do mundo só com a imaginação! Quando li a obra do escritor português Ferreira de Castro “A Selva”, nunca esqueci a cidade de Manaus, a mais conhecida porta de entrada para a Amazónia. Visualizei o porto cheio de azáfama, o famoso teatro e os magníficos palacetes construídos por portugueses, ingleses, holandeses e alemães durante o período colonial na época áurea de extração da borracha.

É do conhecimento geral que Manaus teve o seu apogeu no século XIX devido ao “ouro líquido”, que enriqueceu alguns e escravizou muitos. A vida dura do seringueiro, que extraía a borracha, é retratada de modo inesquecível por Ferreira de Castro, cujas experiências de emigrante no Brasil lhe inspiraram o enredo dos livros “Emigrantes” e “A Selva”.

Cheguei a Manaus, num dia extremamente quente e húmido, apesar de ser inverno e os locais considerarem a temperatura “amena” (39º C). Numa excursão pela cidade, surpreendi-me com os modernos edifícios dos hotéis, muitos espaços verdes e um centro histórico com vestígios de prédios coloniais. Visitámos o Mercado Municipal Adolpho Lisboa onde as plantas medicinais, o artesanato e o peixe pirarucu (o bacalhau amazónico) chamam a atenção.

Visita-se o palacete mandado construir pelo alemão Scholtz, um dos barões da borracha, que exemplifica bem o luxo da vida da época. Foi posteriormente Palácio e residência de governadores, mas hoje abriga o Centro Cultural Palácio Rio Negro. Todavia, o que todos os visitantes querem admirar de perto é o Teatro Amazonas ou Casa de Ópera de Manaus, considerado um dos mais belos teatros do mundo. A sua cúpula única, feita de 36 mil peças de escamas em cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas em azul, amarelo e verde, parece saída de um conto de fadas. Dentro, faz-se uma visita ao sumptuoso salão nobre cujos espelhos e lustres de cristal, quadros, colunas e chão de mármore foram trazidos da Europa. Mas é a sala de espetáculos para 700 espetadores com uma espantosa ornamentação que nos permite deixar voar a imaginação, por sabermos que pelo seu palco passaram os maiores artistas do mundo; Manaus chegou a ser considerada a “Paris dos trópicos” pela vida cultural que teve.

Entre possíveis visitas a vários museus, não pude deixar de ir ao Museu do Seringal Vila Paraíso, e a compreender melhor o que escreveu o escritor Ferreira de Castro. O museu foi cenário do filme baseado no livro “A Selva”, do realizador português Leonel Vieira. Fica-se com uma boa imagem da dureza da vida do seringueiro, e da injustiça social vigente entre os donos de seringal e os trabalhadores explorados. Para chegar ao local onde se encontra o museu é necessário fazer uma viagem de 30 minutos de barco. Os rios são as estradas na Amazónia e, tal como nos filmes, veem-se inúmeros barcos circulando rio abaixo e acima.

Na periferia de Manaus, encontra-se o Museu da Amazónia (Musa) e é passeio obrigatório. Ocupa 100 hectares da Reserva Florestal Adolpho Ducke, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia (INPA). No museu encontramos exposições, viveiros de orquídeas e bromélias, laboratórios experimentais de serpentes, borboletas e insetos, lagos com vitórias- régias (a maior flor aquática do mundo, símbolo da Amazónia), aquários e muito mais. No entanto, após percorrida uma das trilhas pela floresta todos os visitantes querem chegar à torre de observação de 42 metros. Subidos os 242 degraus, o olhar deslumbra-se com o manto de verdes da imensa floresta. É difícil descrever os sentimentos de humildade, respeito e deslumbramento que a pujança da floresta amazónica me deixou. Fiquei ainda mais entusiasmada com o cruzeiro, que iria fazer nos dias seguintes, e que constituiria uma oportunidade de entrar na Amazónia profunda.

Manuela Marujo

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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