Viagens

A ilha branca de mar turquesa

Graciosa era a ilha do arquipélago dos Açores que me faltava conhecer. Das nove ilhas, qual é a mais bonita? Quando me fazem essa pergunta, não sei dar a resposta. Cada ilha tem os seus atrativos e todos me agradam à sua maneira.

É a segunda ilha mais pequena, logo a seguir ao Corvo. Santa Cruz da Graciosa, a sede do concelho, surpreende pela sua arquitetura. Em volta da praça da vila velha, onde se desenvolveram olmos e araucárias imponentes, erguem-se várias casas senhoriais com as suas varandas “de procissão” em ferro forjado, janelas “de peito” e “de avental” de pedra escura de lava, a contrastar com a brancura das fachadas. São o testemunho da fortuna das famílias que ali se fixaram desde o povoamento, e o mobiliário e recheio riquíssimos dessas moradias constitui hoje objeto de estudo para os pesquisadores do museu local.

Visitei a Igreja Matriz do século XV, que tem uma pia batismal manuelina, e a Igreja da Misericórdia onde pregou o Padre António Vieira quando ali naufragou numa das suas viagens de Portugal para o Brasil. Na Igreja de S. Mateus assisti a um concerto de piano e violino. A Ilha da Graciosa é conhecida pelo seu gosto pela música e pelo considerável número de pessoas na ilha que tocam piano.

Quem vai à Graciosa, não pode deixar de observar um fenómeno único – a Furna do Enxofre. Descem-se os cerca de 200 degraus e entra-se na pirâmide invertida do vulcão extinto. É suave a descida. Em 1939 foi construída uma torre, com escadaria sólida em caracol, usada até hoje. Vai-se descendo e, através de pequenas janelas e varandinhas, vamos observando as formações rochosas de tons variados causadas pela lava há milhões de anos. Chegados ao fundo, debaixo de uma abóboda perfeita, encontramos uma lagoa e, seguindo o cheiro forte a enxofre, deparamo-nos com fumarolas que nos remetem para a origem vulcânica da ilha.

Tive interesse em observar a parte exterior – a caldeira. Mesmo com a típica bruma e rocio que cobria grande parte da ilha no dia em que a visitei, foi possível vislumbrar a impressionante abertura da caldeira. A paisagem à volta é viçosa, sendo o verde de nuances variadas conforme o tipo de vegetação.

A pequena ilha da Graciosa convida o visitante a admirar alguns dos seus aspetos originais.  Fiquei encantada com a formação rochosa, conhecida como o Ilhéu da Baleia, e o tom azul turquesa das águas a bater nas rochas negras. A natureza oferece ainda outras originalidades como as areias da praia Barro Vermelho e as Termas do Carapacho com águas a 40 graus de temperatura. Tanto doentes com problemas reumatológicos, como os que buscam rejuvenescimento da pele ou, simplesmente, relaxamento e bem-estar procuram as conhecidas termas. Ao percorrer com calma a ilha, deparamo-nos com pequenas freguesias onde se destacam igrejas ou ermidas centenárias. Os “currais” de vinha, onde as uvas adquirem características e doçura especiais, ocupam espaços próprios divididos em quadrados bem desenhados. As terras dedicadas à agricultura são férteis e é original o método para armazenamento da água em reservatórios. Os moinhos, a lembrar a presença dos flamengos no povoamento, adornam a freguesia da Praia.

Em 2007, a ilha da Graciosa, a par da do Corvo, foi classificada pela UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera, “cuja principal função é a defesa e proteção da biodiversidade, o desenvolvimento sustentado e o conhecimento científico”. As suas águas cristalinas são procuradas pelos mergulhadores de muitos países do mundo que ali encontram condições favoráveis para essas práticas por causa das rochas e cavernas onde se pode observar a grande biodiversidade marinha.

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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