Saúde & Bem-estar

Despertar não é cair, é voar

Passando pela timeline das minhas redes sociais, me deparei com a foto em preto e branco do ator consagrado como o melhor de 2020 pelo Óscar, Joaquin Phoenix, e sua noiva, a atriz Rooney Mara, sentados numa calçada comendo um cachorro-quente vegano, olhando um para o outro com sorrisos largos. Seria apenas uma foto bonita não fosse por um “pequeno” detalhe: ele se recusou a ir à festa pós-Óscar para comemorar a premiação com sua noiva de forma nada convencional, demonstrando todo seu desprendimento em relação a status e aos flashes das câmeras que estampariam revistas, jornais e websites do dia seguinte.    

Talvez essa atitude tenha chamado ainda mais a atenção do mundo, o que, inclusive, pode ter sido a intenção do ator – demonstrar a desconstrução da ideia de correr desenfreadamente em busca da aprovação alheia em detrimento daquilo que realmente se é e se quer fazer. As pessoas, geralmente, querem se sentir significantes e, principalmente, nesse mundo da arte onde o ego é muito presente, elas precisam ser o centro das atenções, estar sempre em destaque e não serem esquecidas pelo público. É uma paranóia! Talvez seja até por isso que muitos desses artistas não aguentam a pressão e acabam por se envolver, como válvula de escape, com substâncias que lhes dêem alívio.

Estou apresentando todo esse cenário porque ele me fez refletir sobre mim mesma, sobre os outros, sobre a sociedade e o mundo que estamos vivendo. Comecei a fazer um paralelo com a necessidade de estar o tempo todo conectada, postando, marcando presença nas redes sociais como se só a minha existência fosse possível se mostrasse a comida que estava comendo, as pessoas que estavam comigo, a roupa que estava vestindo, o país que estava visitando, e, acima de tudo, como era uma pessoa rodeada de amigos! Com essa percepção, comecei a sentir um senso do ridículo tão grande! Me questionei: por que as pessoas estão nesse ritmo, nessa disputa de quem é mais feliz nessa vitrine? Que necessidade é essa de se colocar em evidência o tempo todo? Com essas reflexões e questionamentos me deparei com… um imenso vazio.  Um vazio que se tenta preencher com essas fantasias quando o nível de maturidade ainda não consegue lidar, não consegue resolver. Então me vi uma criança olhando para uma vitrine e enquanto passava a minha timeline, via outras crianças travestidas de personagens adultas.

Foi bem chocante! Fiquei dias sentindo como se não tivesse chão. Onde iria me apegar? Por um instante, por um insight, estampou-se em minha mente: “ajustes são necessários”. Nessa hora, alguém poderia sugerir o apego a uma religião, mas eu estaria trocando seis por meia dúzia, um apego pelo outro. Arriscado. Religiosidade, a meu ver, não pode ser tapa-buraco. Então, decidi que era hora de me desconstruir para poder me reconstruir. Comecei por me olhar, analisar o que precisava ser aparado e reparado, quais os vícios de comportamentos que me impediam de progredir, a que tipo de ilusões eu estava me apegando. E esse conflito existencial é um tanto quanto doloroso. Como eu disse, a sensação é de que o chão já não mais existe, um cair sem fim.

Por outro lado, quando se tem consciência de que estamos enfrentando um conflito necessário, essa queda adquire uma outra conotação:  representa a oportunidade de sentir o prazer de voar e apreciar a jornada para um novo despertar.

Adriana Marques

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