Música

Pedro Burmester e Mário Laginha – “Música a 4 mãos”

Unidos por uma formação musical clássica, Mário Laginha e Pedro Burmester escolheram carreiras diferentes – Laginha mais próximo do jazz e cultor da fusão e recriação de múltiplas músicas do mundo, Burmester mais orientado para a interpretação de um repertório clássico nos seus vários formatos, do concerto a solo até atuações com grande suporte orquestral. Há pouco mais de 20 anos, os dois pianistas uniram inclinações e divergências musicais, experiências e gosto pelo risco, e iniciaram uma colaboração cimentada por uma amizade e grande cumplicidade.

Milénio Stadium: Vocês têm andado juntos há 20 anos, como tem sido esse percurso, de uma forma muito resumida?
Pedro Burmester: Tem sido muito rico, muito intenso, muito bom. Com muito boa música, muita música nova, muita música que anda ali nas fronteiras na difícil definição da sua própria essência, é clássica, é jazz não é portanto as músicas que nós gostamos e que vá ao encontro de várias músicas e são muitos anos de amizade, de cumplicidade e de muitos concertos em muitos lados do mundo – infelizmente, nunca no Canadá.
Mário Laginha: Juntos nunca tocámos no Canadá, não.

MS: E isso ficou registado em 1994 no disco.
PB: Sim, foi logo relativamente no início.
ML: Sim não tocávamos há muito tempo quando fizemos esse disco, depois tivemos uns anos em que não tocamos; na altura pensámos: “Bem, nós já tocámos mais ou menos em todo o lado”, e cada um tinha os seus projetos e tal, mas depois regressamos, voltamos a tocar juntos e tem sido um prazer enorme.

MS: Ainda se recordam do primeiro concerto que fizeram juntos?
PB: Nos Capuchos não foi?
ML: Se fosse um do meio se calhar era mais difícil, mas do início lembro-me que foi nos Capuchos, no Convento dos Capuchos. Havia uma série de concertos de música clássica. Foi uma coisa que foi despoletada por uma amiga que disse “vocês podiam experimentar tocar juntos”.
PB: Nós não nos juntamos por nossa vontade, embora nos conhecêssemos já, mas foi uma amiga comum, como o Mário estava a referir, que nos disse “eu acho que vocês os dois a coisa era capaz de funcionar”.

MS: Apesar de terem influências completamente distintas.
PB: Sim, sim. Apesar de virmos de mundos relativamente diferentes mas quando se é músico e se gosta de música é muito fácil encontrar as pontes.

MS: Esses mundos tão diferentes a nível musical têm resultado na perfeição? Conseguem encontrar o equilíbrio?
ML: A verdade é que há muitos pontos em comum e que há todo um universo, até há um repertório que eu acho que aponta para essa área um bocado de mistura e, portanto, nós temos andado aí a experimentar nessas fronteiras.

MS: Existem obras difíceis de tocar? São as mais desafiantes?
PB: Então não? Claro que sim. Neste programa que temos feito ultimamente, para mim, a obra mais difícil de tocar é precisamente o Concerto do Mário que reescreveu só para dois pianos e que é muito difícil. Ainda há pouco no ensaio estava a referir: por mais que a toque não fica mais fácil. Portanto há coisas muito difíceis – eu gosto de coisas difíceis, são sempre mais desafiantes e, sendo a exigência grande, qualquer coisa simples se torna difícil mas, objetivamente há coisas mais difíceis.

MS: O Bernardo Sassetti passou a fazer um trio convosco – que mais valia vos trouxe a participação dele?
PB: O Bernardo já tinha um duo com o Mário – também alguém se lembrou, o António Cabrita.

MS: Bem, vocês têm amigos que se lembram de vocês, ainda bem (risos). O que será que reserva o futuro?
ML: Exato (risos). Na realidade a ideia era haver um concerto com um duo entre mim e o Bernardo e um duo entre mim e o Pedro que eu também já tinha tocado com o Pedro – eu também já tinha tocado com o Pedro. Até foi a Olga Carneiro que disse: “era giro que tocassem os três, juntos”. Aí começamos a pensar que tínhamos que assumir isso – que estávamos lá os três, tocávamos os três, por vezes, fazíamos alguns duos e tal. Acabou por funcionar muito bem!

MS: Como é que se consegue ter um repertório tão vasto e em constante mudança?
PB: Eu acho que também com a experiência nós conseguimos aprender mais depressa. Obriga a trabalho diário. Eu comparo sempre a nossa profissão à dos atletas de alta competição – têm de treinar todos os dias. Se deixam de treinar os músculos saem do sítio e connosco é parecido.

MS: E por falar em treinar, como é que avaliam a formação dos jovens hoje em dia, concretamente na parte do piano?
PB: Acho que Portugal deu um salto absolutamente incrível nos últimos 25 anos a esse nível. Abriram muitas escolas, a maior parte dos professores são já, eles próprios, muito bons músicos e portanto bons músicos dão bons professores. Geralmente, às vezes há exceções. Com a abertura de muitas escolas, com um bom corpo de docentes, eu acho que Portugal está ao nível do melhor que se faz na Europa hoje em dia. É preciso ir para fora porque é bom, faz bem, porque é importante sair, é importante sairmos do nosso contexto, ver outras coisas mas, se se quiser aprender bem música em Portugal estamos muito bem servidos.
ML: Tanto no clássico como no jazz, aplica-se a mesma coisa.

MS: E como está o jazz Mário?
ML: Isso também se aplica no jazz. Não havia escolas de jazz e agora há várias com professores bons, alguns deles estudaram uns na Juilliard outros na Berklee, e portanto, o ensino neste momento é sólido, é um bom ensino. E a verdade é que agora há muitos músicos de jazz a aparecer, jovens a tocar muito bem, e já não é como antigamente que raramente aparecia um e era uma festa. Agora há muitos mais e ainda bem.

MS: Como está a correr esta tour pelo país nos auditórios?
PB: Bem. Diria que a maioria dos concertos são em Portugal mas também temos ido muito à América do Sul, à Colômbia, ao Brasil, aos EUA, à Bélgica, Holanda enfim, vários sítios mas muito em Portugal. Lá está, ao Canadá não fomos ainda! A prova em que, nesse aspeto, Portugal também mudou muito é que hoje há salas, como o caso desta hoje aqui em Ílhavo, com excelentes condições, com público, com programação, com hábitos culturais e isso também é uma mudança enorme. Há 20 anos tocava-se em Lisboa e no Porto e mais dois ou três sítios que faziam festivais esporadicamente. Hoje em dia toca-se em 30/40/50 sítios que têm programação regular e isso é muito bom e muito mais fácil.

MS: Existem planos para registar a vossa obra em estúdio?
PB: Nós temos gravado ao vivo. Eu acho que este programa funciona melhor ao vivo do que em estúdio, portanto temos gravado ao vivo e depois se calhar fazemos uma espécie de best off do live (risos). Eu acho que é mais interessante.

MS: Podemos dizer que o piano é uma artéria do vosso corpo?
PB: É uma extensão. A música se calhar é uma artéria mas o piano é uma extensão.

MS: Vocês não passam sem ele, verdade?
PB: Não passo sem música, mais do que sem piano.
ML: Sim, quer dizer, a resposta é fácil e é difícil porque nós somos músicos, escolhemos esta profissão por termos um amor profundo à música que faz parte de nós, sempre fez e vai continuar a fazer.

Paulo Perdiz

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