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Ouvidos de tísica

Aida Batista

Há bem pouco tempo, inscrevi-me num colóquio onde se encontravam algumas pessoas minhas conhecidas, mas muitas outras de quem não tinha a mínima ideia de quem eram ou quais os seus interesses pessoais e profissionais, conside-                rando que a temática do evento era bastante abrangente. Após a cerimónia protocolar de abertura pelas entidades responsáveis pela tutela do espaço e organização da iniciativa, iniciaram-se as habituais comunicações, de acordo com o programa previamente dado a conhecer. Há bem pouco tempo, inscrevi-me num colóquio onde se encontravam algumas pessoas minhas conhecidas, mas muitas outras de quem não tinha a mínima ideia de quem eram ou quais os seus interesses pessoais e profissionais, conside-                rando que a temática do evento era bastante abrangente. Após a cerimónia protocolar de abertura pelas entidades responsáveis pela tutela do espaço e organização da iniciativa, iniciaram-se as habituais comunicações, de acordo com o programa previamente dado a conhecer. Como já é habitual, para quem com alguma regularidade parti-  cipa em iniciativas desta natureza, há oradores que tem textos muito bem documentados do ponto de vista científico – percebe-se bem o labor que está por trás do que está ser exposto -, mas estragam todo o trabalho assim que o começam a ler – ou porque o fazem de forma muito rápida, preocupados que estão em passar demasiada informação em pouco tempo, ou, porque, de olhos fixos no papel e de forma monocórdica, sem  o mínimo jogo fisionómico e interação com o público, debitam o que escreveram como se falassem  para o vazio. Outras, respeitando escrupulosamente o tempo que lhes é dado, conseguem do muito que têm para dizer, retirar o que há de mais importante, e fazê-lo de uma forma sintética e  muito expressiva, numa constante interação com a assistência que dali sai bem mais esclarecida. É a velha máxima de que quantidade não representa qualidade, e em que  “menos é mais”!Afinal, todos os que se inscrevem estão ali movidos pelo interesse e curiosidade de aprender, ou alargar o campo do saber que, eventualmente, possam já ter sobre a temática a ser abordada.Com a idade, já o sabemos, vamos perdendo capacidades auditivas. Cada dia que passa, sinto que vou fazendo parte deste grupo que tem de estar mais atento para não deixar escapar uma ou outra frase, dita num tom menos audível. Já não tenho ouvidos de tísica, como dizia a minha avó e  a minha mãe repetia vezes sem conta. Esta expressão “ter ouvidos de tísica” sempre me fez alguma confusão pois, correspondendo a tísica à tuberculose, não percebia como é que alguém doente teria maior acuidade auditiva do que outra saudável. Nos cegos, eu achava normal, porque estes, por necessidade, desenvolvem capacidades que todos nós temos, mas a que não recorremos por não precisarmos de as utilizar.Só muito mais tarde – e porque tudo quando fica  a martelar na minha cabeça, mais dia menos dia tem de ser resolvido -, é que consegui saber de onde vinha tal designação que, já agora, passo a explicar para os que também vivem com esta dúvida. Antes da Segunda Guerra Mundial, muitos jovens sofriam desta doença, cuja forma mais mortífera era a da tuberculose pulmonar. A verdade é que, com base em muitos casos relatados, se concluiu que estes doentes se tornavam bem mais sensíveis, e adquiriam uma mais apurada capacidade auditiva.Depois deste parêntesis, retomo a narrativa para vos dizer que, apesar de nunca ter tido ouvidos de tísica, consegui ouvir alguém sentado na fila atrás de mim, confessar em surdina para quem estava a seu lado: “Que péssimo orador!” Concordei em absoluto! No intervalo das sessões, entre uma chávena de café e uns biscoitos, aproximei-me intencionalmente da pessoa, que não conhecia nem nunca  vira naqueles eventos, para lhe dizer que ouvira o seu comentário e partilhava da mesma opinião. Rimo-nos, falámos sobre o assunto e, a partir daquele momento, iniciámos um diálogo muito produtivo sobre outros temas. Ficámos a saber as áreas de interesse de cada uma e a forma como estas preenchiam as nossas vidas. Trocámos os respetivos endereços eletrónicos, enviámos e-mails e a manutenção da comunicação está agora ao alcance de um clique.Aprendi uma coisa nova neste colóquio: que a deselegância de partilhar que se ouviu uma confidência (sim, porque é sempre deselegante admiti-lo), sussurrada ao ouvido de um terceiro, pode enriquecer (e muito) o campo das nossas amizades.

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