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Movimento #MeToo vai redefinir as relações entre homens e mulheres

Humberta Araujo

O assalto sexual e o assédio são formas persistentes de violência baseadas no género, enraizadas na desigualdade entre os sexos, e estão a aumentar no Canadá. Na realidade, o assalto sexual é o único crime violento neste país, que não está em declínio.
O seu impacto afeta não só as pessoas que a ele sobrevivem, mas a sociedade em geral, e as consequências do comportamento sexual abusivo, custam por ano aos canadianos, biliões de dólares. Estas são conclusões oficiais, recentemente publicadas pela “Canadian Women’s Foundation”, e não devem deixar de preocupar a sociedade no seu todo. Uma vez que a grande maioria dos casos de abuso sexual não é denunciada à polícia, as estatísticas possíveis baseiam-se nos acontecimentos relatados às autoridades, e os testemunhos pessoais, os quais são objeto de pesquisa e estudo por parte de organizações de apoio às vítimas. Segundo dados estatísticos no Canadá, em 2014 só 5% das ocorrências chegaram à polícia; 82% dos jovens com idades inferiores aos 18 anos, que enfrentaram violência sexual, são raparigas, sendo que só um, em três canadianos, sabe o que significa consentimento, em situações de abuso, envolvendo sexo. Estes comportamentos sexuais continuam submergidos num silêncio e secretismo trágicos, em parte por causa do medo, o embaraço que causa falar no assunto, o receio de fragilizar uma posição profissional, e muito especialmente pela descrença, que a sociedade ainda mostra perante este assunto. Para muitas mu-lheres da minha geração, e da geração das nossas mães e avós, a forma como havia de lidar com situações de abuso, era a de, apesar do sofrimento, calar, e assim obrigatoriamente perpetuar a ideia de que, “ser mulher tem destas coisas, e que sempre assim foi, e que nada vai mudar.”
Ora, aqui parece-me, e felizmente, que as nossas antepassadas se enganaram. A temática conheceu nos últimos meses uma reviravolta completa, com o surgimento nos EUA do movimento “MeToo”, quando um grupo de figuras públicas quebrou o silêncio. Ao trazerem ao mundo as suas histórias, milhares de outras mulheres decidiram partilhar as suas experiências. Estas denúncias, deram origem a uma bola de neve, que está a revolucionar a forma como se olha a problemática do abuso sexual, e a transformar as relações entre os sexos. Todavia, esta revolução, começou já a produzir danos colaterais, tomando dimensões tais, que muitos/as temem, que a própria natureza das relações “naturais” entre homens e mulheres, venha a sofrer prejuízos irreparáveis, que podem atingir de forma negativa o movimento, que pretende, com toda a justeza, calar centenas, dir-se-ia mesmo milhares de anos, de um modelo sexual centrado na submissão da mulher ao homem. As primeiras vozes que se levantaram contra o que chamaram “os exageros”, do movimento “MeToo” vieram de França, apoiadas pela conhecida atriz Catherine Deneuve, que, no entanto, viria mais tarde pedir desculpas às vítimas. Numa missiva que subscreveu, Deneuve havia considerado o movimento “puritano”, e defendia a “liberdade dos homens de importunar”, ato que considerara como “indispensável para garantir a herança da liberdade sexual. ”
De uma forma ou de outra, o diálogo está lançado. Quais as consequências do movimento “MeToo”, nas relações entre os homens e as mulheres? O que se vai perder? O que se vai ganhar? O futuro, sem dúvida o dirá. Resta contudo, olharmos para dentro de cada um de nós e perceber, que um homem, que ama realmente as mulheres – namoradas, esposas, amigas, filhas, mães e irmãs – reconhece o problema, e vai ser capaz, num diálogo sério e responsável com as mulheres, encontrar o equilíbrio, sem se perder de vista o belo da conquista, da sexualidade, da espontaneidade e do flirt, num patamar de igualdade e respeito pelo outro, sem usar o sexo como forma de subjugação feminina ou masculina, para benefícios próprios.

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