Ambiente

Terra Viva – Lontras do Alasca com Vírus do Atlântico

Vírus que só existia no Oceano Atlântico chegou ao Oceano Pacífico em 2004.

O Morbillivirus, vírus da cinomose, também conhecido como vírus da “esgana” nos cães, e que afeta outros animais, no caso de focas e lontras na variante “Phocine morbillivirus” (PDV), até há poucos anos, apenas infetava mamíferos marinhos do Atlântico.

Em 2002 ocorreu um grande surto no Atlântico, durante o qual morreram cerca de 21,700 focas, essencialmente nos estreitos de Kattegat e Skagerrak, entre a Suécia e a Dinamarca. Apenas dois anos depois foram detetados anticorpos em mamíferos marinhos no Alasca e no ano passado foram encontradas centenas de focas vítimas deste vírus na costa americana do Pacífico.

Cientistas suspeitam que esta propagação está relacionada com o derretimento dos gelos do Ártico, provocado pelo aquecimento global e consequentes alterações climáticas, conforme artigo científico publicado na revista Nature com o título “Viral emergence in marine mammals in the North Pacific may be linked to Arctic sea ice reduction”, encabeçado por E. VanWormer e assinado por mais 21 cientistas. O estudo aponta para a possibilidade de focas nómadas do Ártico que se movimentam nesse oceano, terem transportado o vírus do Atlântico para o Pacífico, tendo este acontecimento sido potenciado pela abertura de passagem permitida pelo derretimento de gelos que até há poucos anos não acontecia. O estudo refere que: “Ao alterar o comportamento dos animais removendo as barreiras físicas nomeadamente a perda de gelo do mar, pode criar novos caminhos para o movimento dos animais e a introdução de doenças infeciosas no Ártico”.

Em agosto e setembro de 2002, registaram-se mínimos de gelo excecionais até aqui, existindo passagens sem gelo, em largas extensões no norte do Canadá, o que segundo os cientistas poderá ter permitido a deslocação de animais entre o Atlântico e o Pacífico, levando com eles o vírus e infetando animais do outro lado.

Os cientistas terminam a publicação dizendo: “Prevê-se que as reduções na extensão do gelo marinho no Oceano Ártico aumentem provocadas pelas alterações climáticas, e as rotas de águas abertas ao longo da costa norte da Rússia têm ocorrido a cada agosto e/ou setembro desde 2008. Os impactos na saúde destas novas condições no Ártico são desconhecidas, mas a associação de rotas de águas abertas através do gelo do Ártico com maior exposição ou infeção por PDV sugere que as oportunidades para este vírus e outras patogenias se cruzarem entre as populações de mamíferos marinhos do Atlântico Norte e do Pacífico Norte podem tornar-se mais comuns”.

O número e variedade de condições que se têm alterado pela ação direta ou indireta do Homem são de uma enorme dimensão. A única forma de diminuir o impacto, será reduzindo o número de coisas que alteramos à nossa volta, especialmente as ações que têm consequências de larga escala.

Como venho referindo há já alguns anos, a Terra é um imenso e intrincado puzzle – ao alterarmos o formato de algumas peças ou mudando-as de sítio, todo o quadro se alterará e ninguém sabe bem qual será o resultado final. Sem respeito pela natureza será difícil poder admirá-la e dela usufruir.

Paulo Gil Cardoso

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