Ambiente

Terra Viva – Gatos, os bons ou os maus da fita?

Os gatos têm uma relação com os humanos com cerca de 10 mil anos, assim nos leva a crer a descoberta de um túmulo na ilha de Chipre, no Mediterrâneo, onde tudo indica que um gato foi sepultado cuidadosamente junto com restos mortais humanos há cerca de 9.500 anos. Esta descoberta arqueológica de 2004 faz recuar os registos da relação entre gatos e humanos em 4.000 anos relativamente à antiga civilização egípcia. Muitas dúvidas existem sobre a domesticação destes felídeos – existem investigadores que admitem que o Homem os domesticou e usou de forma a controlar pragas de outros animais, tais como ratos, cobras ou insetos, para proteger as suas colheitas, campos agrícolas e habitações. Existem no entanto estudiosos que são da opinião que foi o gato que se aproximou e passou a viver na esfera da vida e atividades humanas por sua própria conveniência, uma vez que os aglomerados humanos e seus consequentes resíduos, armazenagens de alimentos, agricultura, etc., atraíram muitas presas apetecíveis a este exímio predador de topo.

A esperança média de vida dos gatos varia entre os 13 e os 15 anos, no entanto o Guiness Book of Records regista um exemplar que atingiu os 38 anos de vida. Por falar em vidas, a célebre expressão popular portuguesa de que os gatos têm sete vidas tem uma correspondência na cultura anglo-saxónica de nove vidas, a qual por sua vez é coincidente com a mitologia egípcia onde os gatos eram tidos como as formas terrenas dos nove deuses da Enéade que, segundo a crença, sempre que um gato morria, outra das nove divindades assumiria o seu corpo, devolvendo-lhe a vida.

Amados por uns, desprezados por outros. Existem estudos que indicam que os gatos domésticos somados aos abandonados e errantes têm um enorme impacto ambiental. Em 2013 foi publicada uma investigação levada a cabo pelo Smithsonian Conservation Biology Institute, que apontava para os números impressionantes de 1,4 mil milhões a 3,7 mil milhões de pássaros mortos anualmente por gatos nos Estados Unidos. Não, não me enganei nos números, poderão consultar um artigo da BBC em www.bbc.com/news/science-environment-21236690 datado de 29 de janeiro de 2013. Em 2015, o Washington Post faz uma publicação referindo que afinal o impacto predatório dos gatos na vida selvagem não seria tão grande – no entanto esse artigo baralha mas não esclarece, não apresentando números concretos. Podem consultar esse artigo em www.washingtonpost.com/national/health-science/cats-may-not-be-as-much-of-a-threat-to-wildlife-as-previously-thought.

Certo é que o impacto de gatos noutros locais do mundo é há muito conhecido, havendo programas de erradicação em ilhas da Nova Zelândia e da Austrália, onde esta espécie é invasora e que tem um enorme impacto na vida selvagem, considerando-se que nestas terras da Oceânia ajudaram à extinção de cerca de 20 espécies de pequenos mamíferos nativos, e ameaçando atualmente mais cerca de 124 espécies. Inocentemente e ingenuamente o Homem introduziu o gato um pouco por todo o planeta, sendo as ilhas os locais onde o impacto foi maior. Desde as Caraíbas ao Oceano Pacífico, centenas de espécies de aves, pequenos mamíferos e répteis nativos desses locais estão ameaçados de extinção. Acredito que era imprevisível esta situação, não houve intenção humana de destruição no entanto o problema é agora efetivo: para além de termos de tentar reequilibrar os ecossistemas que ingenuamente perturbámos, devem estas situações promoverem a reflexão sobre o impacto que qualquer ação humana pode potenciar ou provocar. Vivemos com gatos, admiramos e respeitamos esta espécie, ajudam-nos a perceber melhor muitos aspetos da natureza, porém a reflexão deverá incidir sobre os equilíbrios e o respeito pela globalidade e biodiversidade.

Paulo Gil Cardoso

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