Ambiente

Adaptação ao Clima: antigas e inteligentes soluções

O enquadramento geográfico, cultural, social e de recursos financeiros, condiciona a forma e a qualidade do conforto térmico de que o homem pode usufruir. Numa perspetiva global verificam-se a existência de uma multiplicidade de soluções, materiais e comportamentais.

Tanto no vestuário como nas habitações busca-se o conforto adequado à zona geográfica e às condicionantes meteorológicas e climatéricas.

Na realidade portuguesa, ainda há pouco menos de meio século, se verificavam diferentes formas tradicionais de adaptação às condições relativas à localização geográfica e respetivas diferenças climatéricas.

Vestuário

A capa minhota é bastante diferente, por exemplo, do capote alentejano. Enquanto o primeiro se pretende leve, não muito quente e impermeável uma vez que os invernos no litoral são mais chuvosos, sendo o Minho situado exatamente na chamada Barreira de Condensação, mas com temperaturas mais amenas devido à proximidade do mar. O capote alentejano mais frequentemente usado nas extensas planícies interiores, que têm invernos mais frios e secos, tinha de ser mais quente e não necessariamente impermeável.

Habitação

As casas das serranias do interior do país eram construídas em pedra e com pequenas janelas o que permitia um isolamento razoável, sendo frescas no verão e mantendo o calor no seu interior no inverno, tinham dois pisos, ficando os animais (gado) no piso inferior de forma a aquecer o primeiro piso nos invernos de frio mais rigoroso.
O clima Algarvio caracterizando-se por verões quentes e secos e invernos de temperatura amena e também de pouca pluviosidade ditaram que as habitações fossem de cores claras, de forma a tornarem-se mais frescas, além de terem terraços nos telhados para aproveitamento da escassa água proveniente das chuvas.

A casa Gandaresa era a casa típica da zona compreendida entre Aveiro e Figueira da Foz. Era uma casa simples mas robusta e com elevada eficiência energética, construída com adobes, era fresca no Verão e acolhedora no Inverno, era construída em L e sempre que possível com o pátio interior virado a Sul ou a Oeste. O pátio era ladeado de telheiros que proporcionavam sombra no Verão tornando a casa mais fresca e, no Inverno, devido ao Sol andar mais baixo nestas latitudes, deixava que os raios solares penetrassem na casa aquecendo-a. O pátio complementava este aproveitamento de calor solar por ser abrigado e virado ao Sol.

As lareiras, as braseiras e as botijas de água quente eram, até há poucos anos, algumas das poucas soluções para a obtenção de conforto térmico no lar durante o inverno. Nos verões quentes apenas a sombra ou uma corrente de ar conseguida com janelas e portas abertas (salvaguardando, claro, outras soluções de construção como nos exemplos apresentados anteriormente).

Desprezámos antigas e inteligentes soluções substituindo-as por novas. Podíamos no entanto aproveitar os benefícios de ambas e, de forma equilibrada, conjugá-las.

No atual ponto de desenvolvimento sociocultural e económico, as diferenças, relativamente ao conforto térmico, tendem a esbater-se. Com o advento dos aparelhos de ar condicionado e os sistemas de aquecimento, com as grandes superfícies comerciais e a massificação consumista, existe a tendência da padronização, ou seja, em qualquer ponto do país e mesmo de qualquer país ocidental, existem as mesmas soluções, os mesmos aparelhos, as mesmas vestes, descaracterizando-se desta forma a identidade dos povos e a aniquilação das soluções encontradas por cada povo na sua necessidade de adaptação ao clima.

Com certeza que devemos aproveitar e continuar a desenvolver novas soluções tecnológicas não podemos é esquecer de incorporar os antigos bons conhecimentos. A relação com o ambiente, de muitas das antigas soluções, tinha um impacto menor no ambiente e na vida da Terra, será importante preservar algumas dessas inteligentes adaptações.

Havendo vontade e bom senso podemos sempre melhorar a forma de usufruir, admirar e respeitar a natureza.

Paulo Gil Cardoso

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