Ambiente

A poesia das árvores

Terra Viva

As mais antigas indicações da existência de árvores chegam-nos através de fósseis encontrados na região de Gilboa, no estado de Nova Iorque, datando de há 380 milhões de anos. Especula-se que nesta zona existiria a mais antiga floresta do mundo.

A poesia das árvores-mundo-mileniostadium
Créditos: DR.

A árvore mais antiga de Portugal situa-se em Abrantes, de nome “Oliveira do Mouchão”. É uma oliveira com 3.350 anos e contínua a dar azeitonas.

Pensemos na história a que esta árvore assistiu, que teve as suas azeitonas colhidas por povos e civilizações que já não existem. Deitaram-se à sua sombra crianças anteriores aos Romanos e aos Mouros, as suas azeitonas foram alimento de cerca de uma centena de gerações, o seu azeite queimou nas lamparinas anteriores a Cristo, é admirável!

Elas estão cá há muito mais tempo que nós, e agora que nos juntamos à sua existência, esperemos poder acompanhá-las na viagem do tempo, sendo verdadeiros companheiros de viagem.

“Árvore,

Ficas aí a crescer sem nunca mudar de lugar…

Porque não precisas!

O lugar vai mudando e tu assistes.

E assim, o mesmo lugar vai dando lugar a outros lugares, a maior parte das vezes lentamente, uma vez ou outra cataclismicamente.

Vão ficando os vestígios dos lugares anteriores que teimam em alimentar a memória e que vão deixando pistas sobre como respiravam.

E tu ficas aí a crescer sem nunca mudar de lugar…

Mas vendo os lugares passarem por ti.

Mudam as gentes, mudam as aves, mudam as formas e as construções humanas que te rodeiam, mudam os sons e os cânticos, muda o vento, o calor, o frio, a chuva e o estio…

E tu ficas aí a sorver o todo…

Sem nunca mudar de lugar.

Mas com todos os lugares contidos em ti!”

“(…)

Deito-me na sombra de frondosa e vaidosa árvore.

Fecho os olhos.

O cachoar da represa tudo engole, menos os gritos de brincadeira dos miúdos no rio, vozes e alegrias que rasgaram dois mil anos e que me chegam por entre o sibilar manso da brisa nas folhosas sem sede.

A paz é isto!

Ecos entrelaçados no chapinhar de infantes despidos de maldades,

Ecos medievais vindos das montanhas em festa e em feira, e ainda mais remotamente, ecos dos clãs com os seus gados, que em tempo de estio decretaram a paz por troca de água, saciando a secura nas gargantas e refrescando as almas.

Aqui me deixo na preguiça e contemplação, aqui me deixo no vento fresco e no conforto de uma areia escondida na sombra.

Descanso as divagações e as ânsias, descanso no espaço entre os carvalhos e granito, onde o ar cheira a terra molhada.

Perco-me nos recantos da minha terra, da nossa terra, da nossa casa…

E lá continuam as vozes dos miúdos, com frases que só eles entendem, gritos, risos, chapinhar…

E lá continuam as vozes, umas vindas de longe outras de perto, juntando-se numa sinfonia caótica mas serena, algumas atravessaram toda a história, outras nascem agora. (…)”

In “Tem dias” – Paulo Gil Cardoso, Seda Publicações, 2019

A 21 de março assinala-se o Dia Mundial da Árvore ou Floresta e também o Dia Mundial da Poesia. Que ambas se abracem.

Paulo Gil Cardoso/MS

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