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Congresso do PSD O week-end dos “facas longas”

Luis Barreira
Correspondente em Portugal

Quem está habituado a ler as minhas crónicas já compreendeu que, para mim, “esquerda” e “direita” são designações que talvez fizessem sentido no séc. XVIII mas que, nos dias de hoje, são meras caricaturas destinadas a confundir a opinião pública ou a simplificar a compreensão de certos comportamentos sociais. Em pleno sec. XXI, com partidos políticos da chamada “esquerda” mais ortodoxa a defenderem energicamente a Independência Nacional e os da “direita” mais liberal o Estado Social, deixa de fazer sentido apelidá-los desta maneira. No entanto, torna-se cómodo à interpretação dos fenómenos políticos, razão que me conduz continuar a utilizar essas mesmas expressões, tendo em consideração o que elas contêm de maior (esquerda) ou menor (direita) sensibilidade social.
Vem isto a propósito do recente Congresso do Partido Social Democrata português, que ocorreu no último fim-de-semana, consagrando Rui Rio como presidente do partido.
Calculava-se que, depois da prévia eleição interna que deu a Rui Rio 54% dos votos e a Santana Lopes 46%, era inevitável um confronto entre as hostes de um e de outro candidato, face a um partido quase dividido ao meio. Mas, para além de algum radicalismo esporádico, patenteado pelo agora demissionário Luis Montenegro e alguns ruidosos comentários de delegados presentes, insatisfeitos com algumas nomeações, Rio e Santana decidiram “pacificar” o partido dividindo, entre os seus respectivos apoiantes, os lugares disponíveis nas diferentes comissões. E, no final, em “grande unidade”, todos aprovaram as propostas que deram entrada na Mesa do Congresso, por muito contraditórias que fossem entre si! Para além da constante farpa lançada a Rui Rio sobre se apoiava ou não fazer parte de um “bloco central” com o PS e que Rio sempre recusou, sem deixar de afirmar que eram necessários acordos pontuais com o PS, destinados às mudanças estruturais necessárias ao País, as vozes dissonantes do novo líder decidiram apostar em Rui Rio, exigindo-lhe, no entanto, que ganhe as próximas eleições legislativas de 2019. Ou seja, o PSD ficou com um líder a prazo!… À margem destes acontecimentos, um facto “estranho” que, no entanto, já vinha a ser testado há alguns dias, por declarações públicas de responsáveis do PSD, foram os elogios constantes a Passos Coelho e ao seu anterior governo, destinados a honrar o passado de um governante que não deixou saudades! Ou deixou? Se deixou, expliquem-me porque saiu?!…
Independentemente das considerações que este Congresso do PSD possa merecer, mas que esta breve crónica não permite, o essencial é que o resultado desta reunião magna dos social-democratas, por muito que todos se julguem inspirados em Sá Carneiro, está longe de dignificar a sua imagem e ousadia na condução das “tempestades” deste partido. Ao misturar “alhos com bugalhos”, na tentativa de manter o partido unido, Rui Rio esvaziou ideologicamente o seu partido e “colocou-se a jeito” de todos aqueles que, por perto, aguardam a oportunidade de lhe “espetar uma faca nas costas”! O PSD de Passos Coelho que, ao que parece, deixou as suas larvas no partido, deslocou-se profundamente para a direita liberal, deixando o PS ocupar moderadamente o centro social-democrata do espectro político e este, ao assegurar um bom desenvolvimento económico e social aos portugueses, dificilmente será batido pelo PSD nas próximas eleições de 2019, a não ser que cometa algumas asneiras básicas (das quais já esteve bem perto…) ou que deixe de ser apoiado pelo PCP e pelo Bloco, o que é imprevisível!…
Previsível é que, as críticas feitas ao governo de António Costa pelos novos dirigentes do PSD, de que, agora que Portugal está bem, o PS não está a assegurar o País para o futuro difícil do contra ciclo económico, não vão granjear votos para o PSD. Não só porque as populações ficaram fartas da ameaça do “diabo” de Passos Coelho, sem que ele tivesse aparecido, mas porque é a situação do presente e a perspectiva de um futuro melhor, que normalmente e numa democracia universal, determinam o voto das massas populares.
A Rui Rio, com Santana Lopes à “espreita” da sua derradeira oportunidade, apenas lhe resta diferenciar-se, pela positiva social e pela sua afirmação de dirigente não condicionado pelas facções do seu partido, do legado liberal do anterior governo do PSD, recentrando o partido nos seus princípios originais.
Mas,… voltar o barco do PSD à esquerda, num “Rio” social-democrata que a política de direita liberal de Passos Coelho quase secou, parece-me uma manobra muito difícil. Arrisca-se a que alguns tripulantes tomem conta das baleeiras e naveguem para outras águas!… O que não deixaria de ser uma meia solução, mas algo que já aconteceu noutros países!

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