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Com um evidente aumento de custo de vida sentido pelas famílias que residem no Ontário e com as eleições federais à porta, o Milénio Stadium foi para a rua saber o que sentem os canadianos no dia-a-dia do seu orçamento familiar e o que pensam sobre as várias propostas políticas e se já decidiram em quem vão votar a 21 de Outubro.

Millenials

Serena, 19 anos, estudante de Direito

Milénio Stadium: Qual é a melhor proposta nestas eleições federais?

Serena: Ainda não decidi em quem vou votar, mas encorajo todos os jovens a fazê-lo porque nós temos uma voz e temos de nos fazer ouvir. As redes sociais estão inundadas de propaganda e temos de ter cuidado porque eles deturpam a informação e os factos não estão lá todos.

Preocupo-me muito com as alterações climatéricas que felizmente fazem parte da agenda dos candidatos nestas eleições. Quero uma plataforma que ajude o meio-ambiente e defendo que as grandes empresas poluidoras têm de pagar a sua parte da fatura.

Milénio Stadium: As propinas são caras?

Serena: Eu tenho duas irmãs e todas nós frequentamos a universidade. Nós usamos o Ontario Student Assistance Program (OSAP) e este ano recebemos muito menos dinheiro, o que não nos ajuda em nada. Mesmo que os meus pais possam pagar, acho que o governo também tem obrigações porque ao fim e ao cabo se todos nós estudarmos criamos uma sociedade mais informada e melhor. A educação beneficia qualquer país e qualquer democracia, e o Canadá não é exceção.

Milénio Stadium: Gostavas de viver em Toronto?

Serena: Eu sou de uma cidade pequena e gosto muito de Toronto, mas honestamente acho que comprar casa cá é irrealista. Quero ser advogada e gostava de trabalhar em Toronto, mas acho que vai ser impossível conseguir pagar uma casa cá.

Milénio Stadium: Quem é que paga a tua conta de telemóvel?

Serena: Os meus pais pagam-me a conta do telemóvel, mas alguns dos meus amigos têm de ser eles a pagar e as contas são muito caras. É assustador, temos as contas de telemóvel mais caras do mundo, não faz nenhum sentido, as telecomunicações deveriam ser mais acessíveis, sobretudo num país desenvolvido. Cada vez mais precisamos de recorrer à tecnologia para resolver problemas do nosso dia-a-dia e nos serviços temos muito menos papel, por isso as pessoas não podem ficar excluídas porque têm menos rendimentos.

 

Abbi, 18 anos, estudante de Marketing

Milénio Stadium: Qual é a melhor proposta nestas eleições federais?

Abbi: Ainda tenho de fazer mais pesquisa antes de votar, mas provavelmente com os cortes do OSAP não vou votar nos Conservadores. Antes de mudar para Ontário vivia na Nova Scotia e se ainda estivesse lá todas as minhas propinas seriam pagas por fundos públicos. Com os cortes do OSAP não tenho praticamente nenhum apoio e não estou contente com isso.

Milénio Stadium: Na Nova Scotia o nível de vida é igual?

Abbi: Lá o ordenado mínimo é $11,50 enquanto que em Ontário é $14. Os meus pais mudaram para cá porque conseguiram trabalhos melhores. Pelo que percebi as casas cá são muito caras, mas na Nova Scotia não há tanta oferta no mercado de trabalho. Eu vivo em Burlington e hoje comprei um cartão presto pela primeira vez. Acho que será difícil viver um dia em Toronto porque o custo de vida é muito elevado.

Milénio Stadium: Qual é a tua opinião sobre imigração? Identificas-te mais com que partido?

Abbi:  Nasci em New Brunswick, mas toda a minha família é oriunda da Itália. Espero que o Canadá nunca se transforme nos EUA. Se o Canadá não tivesse uma política tão aberta em matéria de imigração eu nunca estaria cá. Quase toda a gente no Canadá tem imigrantes na família e para além disso se os imigrantes estão a viver um momento difícil nas suas vidas, acho que os devemos deixar entrar.

 

Newcomers

Rob (nome fictício), 41 anos, imigrante da Etiópia

Milénio Stadium: Qual é a melhor proposta nestas eleições federais?

Rob: Infelizmente estou cá há apenas quatro anos e como tenho residência permanente ainda não posso votar, mas se pudesse votava Partido Liberal: eu sou imigrante e eles estão do nosso lado. Com um partido Conservador no poder os imigrantes nunca estão protegidos, somos sempre uma ameaça, para nem dizer que será sempre mais difícil entrar no Canadá.

Milénio Stadium: Foi fácil encontrar trabalho?

Rob: Vim para Manitoba através de um programa destinado a trabalhadores com qualificações baixas e pela minha experiência acho mais difícil conseguir um trabalho lá do que aqui em Ontário. Além disso aqui o ordenado mínimo é superior, lá é $11,65.

Milénio Stadium: O Canadá tem um custo de vida elevado?

Rob: A vida cá não é barata, mas temos trabalho e se tivermos saúde conseguimos construir uma vida melhor. Na Etiópia os salários são muito baixos e a vida é muito difícil, somos um país muito pobre, nem sequer temos salário mínimo. Não sei se algum dia vou conseguir comprar casa cá porque o aluguer é muito caro. Tenho a minha esposa na Etiópia e espero um dia trazê-la para cá e ter filhos, mesmo sabendo que o custo de vida não é barato, o Canadá será sempre melhor que a Etiópia.

Milénio Stadium: O NDP tem uma proposta para poupar às famílias cerca de $500 por ano em pharmacare. A saúde pesa no orçamento?

Rob: Felizmente nunca tive problemas graves de saúde e quando preciso de medicamentos o Ontario Health Insurance Plan (OHIP) cobre quase tudo, mas tenho um amigo que teve cancro e está a pagar um seguro de saúde para aguentar as contas porque o OHIP não paga todos os tratamentos.  Ninguém deveria ter de ser rico para ter acesso à saúde e acho que os governos poderiam cortar noutro tipo de despesas e manter os apoios na saúde.

 

Idosos

Maria Aguiar, 71 anos, proprietária de uma ourivesaria

Milénio Stadium: As eleições federais são a 21 de outubro e os Conservadores acusam o primeiro-ministro Liberal, Justin Trudeau, de ter contribuído para o aumento do custo de vida no país. Qual é a sua opinião?

Maria Aguiar: Cheguei ao Canadá em 1968 e naquele tempo fazíamos compras de mercearia com $30, agora com $100 não compramos praticamente nada, sobretudo se quisermos carne ou peixe. E os ordenados eram muito mais baixos do que hoje. Hoje o salário mínimo na província de Ontário é de $14 à hora, mas nem mesmo com esse aumento as pessoas conseguem comprar casa própria. Nós compramos casa pouco depois de casar e pagámos a hipoteca em cinco anos, agora é praticamente impossível, a não ser que queiram ir para os subúrbios ou a família os possa ajudar.

O custo de vida aumentou muito, mas não foi só em Toronto, todas as cidades estão caras. Na Europa não é diferente, veja-se o caso de Lisboa, Barcelona, Madrid ou Paris, onde há pouco tempo a classe média se manifestou porque não ganhava o suficiente para fazer face às despesas.

Mas as pessoas hoje querem gozar mais a vida, nós só sobrevivíamos, não viajávamos, não íamos jantar fora, não íamos ao cinema, a nossa vida era só trabalhar e poupar.

Milénio Stadium: Acha que a rede de transportes públicos é eficiente?

Maria Aguiar: Eu não sou utilizadora de transportes públicos por isso não tenho uma opinião formada sobre o assunto, mas moro em Mississauga e todos os dias tenho de apanhar a autoestrada. Antigamente o percurso demorava 25 minutos, hoje é praticamente uma hora, está cada vez pior. E a nossa loja abre às 10 am, ou seja, se conduzisse na hora de ponta ainda era pior.

Milénio Stadium: Os medicamentos deviam ser mais baratos?

Maria Aguiar: Felizmente não tenho doenças graves e como já sou idosa a maioria da medicação é gratuita. Tomo medicamentos para o colesterol, tensão e retenção de líquidos e o meu marido já fez quatro cirurgias ao coração e não pagámos nada. Mas para os jovens deve ser difícil de aguentar porque os medicamentos são muito caros. E se os Conservadores ficarem no poder também podem começar a fazer cortes como o Premier Doug Ford aqui em Ontário.

Milénio Stadium: Concorda com a legalização da canábis?

Maria Aguiar: Acho que isto foi muito mal feito e trouxe mais criminalidade. Agora todos os dias há tiroteios e os jovens estão perdidos. Votámos no Justin Trudeau porque achámos que ele ia dar seguimento às políticas do pai, o Pierre Trudeau, mas ele foi uma desilusão.

Milénio Stadium: Acha que o Canadá deveria fechar as fronteiras?

Maria Aguiar: Há muito trabalho que os canadianos não querem fazer e por isso acho que vai haver sempre mercado para receber novos imigrantes. Os portugueses são um bom exemplo de um grupo étnico que ajudou a construir o país, a província e a cidade, por isso não faz nenhum sentido sermos contra a imigração.

 

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