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Créditos: DR.

Desde a sua chegada ao Vaticano, o Papa Francisco tem conseguido marcar pela diferença. Começando, em concreto, pela forma como vive a fé e, principalmente, pela mensagem que transmite ao praticá-la de maneira tão distinta do que tínhamos assistido até então.  Nesta edição do jornal Milénio Stadium em época Pascal, fomos à procura da opinião daqueles que, sendo católicos ou não, praticantes ou não, têm a sua própria visão sobre o trabalho desenvolvido pelo Papa Francisco e a sua personalidade.

  • João Duarte, 29 anos, Informático

Qual é a sua opinião acerca do Papa Francisco e o papel que ele tem desenvolvido nesse cargo?

Como ex-praticante da religião católica, tenho acompanhado o Papa Francisco sobretudo através das notícias. Penso que ele tem respondido a muitas questōes da sociedade moderna de uma forma que outros Papas não fizeram. Ele tem tornado a religião católica numa instituição mais inclusiva, tolerante, e tem passado mensagens mais práticas e realistas sobre o mundo em que vivemos, nomeadamente durante esta época da pandemia.

Considera que ele tem conseguido mudar, de algum modo, a igreja católica?

O poder de mudar a igreja católica não está inteiramente nas mãos do Papa. Ele é um líder, mas há outras pessoas a gerir os organismos internos, pessoas e subgrupos que realmente teriam o poder e influência para fazer mudanças significativas. Portanto, o Papa tem mudado ligeiramente a igreja de um ponto de vista ideológico, como mensageiro, no entanto o modelo da igreja enquanto negócio continua intacto.

Estamos a viver mais uma Páscoa em tempo de pandemia – como celebra estes eventos (por norma familiares) nesta nova realidade?

Num ano normal iríamos juntar-nos em casa para o almoço de Domingo de Páscoa, mas com as restrições da pandemia eles vão celebrar nas suas casas e vamos fazer videochamadas para partilhar um pouco esse momento juntos, ainda que distantes.

Até que ponto a religião, na sua opinião, tem sido afetada também pela pandemia da covid-19?

Por um lado, a igreja enquanto instituição financeira saiu prejudicada em alguns aspetos. Por exemplo o Santuário de Fátima em Portugal esteve fechado e muitas missas foram suspensas, além de inúmeros outros fatores que alimentam esta instituição. Por outro lado, as estatísticas dizem que 2020 foi dos melhores anos de sempre em termos de donativos. Com o desastre mundial de COVID-19 muitas pessoas refugiaram-se na fé como uma das poucas ou últimas muletas de sustento mental e esperança e com certeza este reatar do culto é benéfico para a igreja em muitos sentidos.


  • Mirelly Lisboa, 40 anos, Assistente Social

Qual é a sua opinião acerca do Papa Francisco e o papel que ele tem desenvolvido nesse cargo?

Acredito que ele entrou com um novo propósito de inserir mais a igreja em assuntos atuais. A igreja Católica sempre abordou temas interessantes nas campanhas da fraternidade, mas alguns como camisinha, aborto, união homoafetiva ainda eram considerados “tabu”.

O Papa que antecedeu Francisco era aparentemente bem fechado, o que nos faz involuntariamente comparar. Eu estava vendo como positiva essa atualização que ele gerou, mas particularmente acho que ele errou muito em fazer alianças com políticos e partidos políticos. Isso me decepcionou.

Considera que ele tem conseguido mudar, de algum modo, a igreja católica?

Como falei anteriormente, o erro dele, ao meu ver, foi esse posicionamento político. Aconteceu que ele recebeu apoio dos seguidores da filosofia política que ele apoia e repúdio dos que são contrários. O que não é legal para a igreja. Ele atraiu alguns fiéis e afastou outros.

Estamos a viver mais uma Páscoa em tempo de pandemia – como celebra estes eventos (por norma familiares) nesta nova realidade?

Morando longe da minha família e do meu país por alguns anos, essas celebrações solitárias com a pandemia não mudaram muito. Será como tem sido por alguns anos: se eu não estiver trabalhando, estarei em casa com meus filhos e agora com companheiro também.

Até que ponto a religião, na sua opinião, tem sido afetada também pela pandemia da covid-19?

O fechamento de tudo, inclusive das igrejas no período de lockdown; As celebrações que ao retornarem foram reduzidas; O medo das pessoas; O incômodo de ter que usar máscaras e rituais de limpeza. Acredito que isso afastou muita gente, inclusive a mim que costumava ir pelo menos duas vezes por mês, ano passado só fui a igreja umas três vezes e antes de começar a pandemia.

Mas por outro lado, acho que diante dessa catástrofe toda, as pessoas buscaram mais, uma forma de se conectar com Deus, online, por livros, rádio e tv. Como diria a minha mãe “quem não procura Deus por amor, procura na dor.”


  • Mário Figueiredo, 67 anos, Reformado

Qual é a sua opinião acerca do Papa Francisco e o papel que ele tem desenvolvido nesse cargo?

Adoro o Papa Francisco. Acho que tem tido um pulso firme e principalmente justo, contra tudo e todos, a quebrar barreiras muito importantes de serem quebradas. Ideais desatualizados e assuntos tabu que agora são trazidos pelo próprio Papa a discussão pública. Não tenho dúvida nenhuma que este foi dos melhores Papas que a Igreja podia ter e temos todos a ganhar com isso – católicos e não católicos! Porque as mentalidades dos católicos começam a mudar (aquelas mais retrógradas) e isso, por sua vez, ajuda também aqueles que apesar de não serem católicos, só têm a ganhar com uma população mais atualizada e inclusiva.

Considera que ele tem conseguido mudar, de algum modo, a igreja católica?

Tem tentado. Como eu dizia anteriormente, o Papa Francisco tem trazido para cima da mesa assuntos com muita importância e que até então eram um pecado só de se ter em mente, quanto mais um cristão falar do assunto. Acho importante essa parte da inclusão (seja ela qual for), mas também acho importante a mensagem de respeito entre religiões, por muito distintas que sejam. Este é um Papa que promove, verdadeiramente, a paz e isso está à vista de todos, até dos que não são católicos.

Estamos a viver mais uma Páscoa em tempo de pandemia – como celebra estes eventos (por norma familiares) nesta nova realidade?

Nunca celebrei muito a Páscoa ao ponto de ir à Igreja e assim, mas tinha sempre um almoço em família e isso deixou de haver enquanto estamos na pandemia. Mas eu acredito que, até um católico absolutamente praticante, compreende que almoços em família e celebrações de amor podem (e devem) ser noutra fase da vida, quando já não estivermos com medidas de restrição. Até porque celebrar, seja o que for, com a família ou amigos, devia ser em qualquer dia do ano. Mas isto é um “não muito” católico a falar.

Até que ponto a religião, na sua opinião, tem sido afetada também pela pandemia da covid-19?

Eu acho que as beatas estão certamente mais tristes, aquelas pessoas que viviam para e pela igreja devem sentir-se de alguma forma afetadas negativamente. Por outro lado, não havendo missas, talvez a Igreja tenha perdido grande parte do seu público, já que os hábitos começaram a apagar-se um bocadinho. No entanto, acredito que muita gente se tenha agarrado à fé para conseguir sobreviver uma realidade tão diferente e momentos tão desesperantes. Portanto não sei se a religião será afetada.


Lucia Melo, 48 anos

Qual é a sua opinião acerca do Papa Francisco e o papel que ele tem desenvolvido nesse cargo?

Acho que o Papa Francisco tem uma enorme responsabilidade, deve ser muito difícil. Nós mudamos, a Igreja muda, a história muda.  Ele tem transmitido mensagens de muita solidariedade, recentemente li nas notícias:  “Aqui se chora e se sofre. Todos. Só podemos sair desta situação juntos, como uma humanidade inteira”. Portanto, devemos “olhar para o outro com espírito de solidariedade” e nos comportarmos de consequência. “

Considera que ele tem conseguido mudar, de algum modo, a igreja católica?

O Papa Francisco representa, desde 2013, uma grande mudança nos caminhos do catolicismo. Tem enfrentado vários assuntos que há anos estavam escondidos ou sem resolver. O Papa Francisco indica que ainda há esperanças para a maior religião do mundo se tornar mais fraterna e menos punitiva, com menos pecados e mais aceitação. Isso já é um passo na sensibilização de assuntos importantes.  Alguns exemplos recentes salvo erro se me engano: “Muitos homossexuais católicos mantinham a esperança de que a abertura do Papa Francisco às uniões de pessoas do mesmo sexo em termos civis e ao acolhimento destas pessoas na Igreja (como crentes) também levasse a uma mudança nas leis da Igreja Católica em relação ao matrimónio, mas isso não se verificou.” ; “As uniões de homossexuais não poderão receber a benção dos padres da Igreja Católica, conforme Responsum ad dubium (resposta a uma questão formal colocada à Igreja) aprovado pelo Papa Francisco. Apesar de ter defendido, em outubro do ano passado, que os países criassem legislação que permitisse a união civil entre pessoas do mesmo sexo, o Papa não pretendeu que o casamento fosse permitido pela igreja, como agora se confirma.”O Papa Francisco decidiu reduzir em 10% os salários dos cardeais do Vaticano para assegurar a sustentabilidade financeira da Cúria Romana num ano em que as contas da Santa Sé foram fustigadas pelo impacto económico da pandemia da Covid-19, de acordo com um documento legislativo eclesiástico publicado (mars 2021). O Papa Francisco, tem em conta “o défice que há vários anos caracteriza a gestão económica da Santa Sé“, mas também “o agravamento dessa situação na sequência da emergência sanitária da difusão da Covid-19”.“O Papa apelou a uma conduta “irrepreensível e exemplar” das instituições vinculadas às finanças do Vaticano e pediu que se continue a reforma da justiça, fortalecendo a cooperação com instituições judiciais estrangeiras na luta contra o crime financeiro.”

“A justiça do Vaticano está atualmente a investigar um escândalo imobiliário que também pode levar a um processo: o opaco circuito de compra de um luxuoso edifício em Londres pela Secretaria de Estado (governo central do Vaticano), que permitiu que intermediários italianos reivindicam valiosas comissões.”

“Desde então, a Santa Sé decidiu transferir o património financeiro e imobiliário da Secretaria de Estado para outra administração.

Além disso, o tribunal do Vaticano é atualmente chamado a julgar pela primeira vez os abusos sexuais cometidos no âmbito eclesial e a examinar a alegada tentativa de alguns executivos de encobrir o caso. Nem o Papa nem o promotor da justiça mencionaram este procedimento nos seus discursos de hoje.”

Tenho esperança que tudo seja resolvido, justiça seja feita. Que haja modificações feitas para melhorar e proteger o bem estar de todos.

Estamos a viver mais uma Páscoa em tempo de pandemia – como celebra estes eventos (por norma familiares) nesta nova realidade?

Em casa seguimos os rituais religiosos e a leitura da Bíblia.  Assistimos às cerimónias na televisão e online via internet.   Vamos ter um local na sala decorado com rendas e tons de lilás com a cruz, água benta, flores e ramos.   Claro para rezar e relembrar todos os que partiram e ressuscitados no reino de Deus.

Vamos celebrar com uma   refeição do cordeiro, doces e amêndoas  tradicionais. Um bom vinho e vinho do Porto.  Os ovinhos de chocolate e coloridos da Páscoa. Tudo com respeito pelas medidas sanitárias.

Até que ponto a religião, na sua opinião, tem sido afetada também pela pandemia da covid-19?

O isolamento e a solidão criados pelos encerramentos escolares e restrições à socialização. O isolamento dos doentes no hospital ou idosos nos lares durante os bloqueios, piorou a sua saúde mental de muita gente.  Alguns perderam a estabilidade financeira, as famílias e amizades. Houve momentos de luto e tristeza até que algumas pessoas perderam a Fé e deixaram de praticar a religião.

Durante vários meses, todas as celebrações e as atividades pastorais foram suspensas, criando assim uma situação difícil para a Igreja Católica, uma vez que os momentos coletivos ligados aos sacramentos são centrais na vida religiosa dos católicos.  Foi muito triste porque as famílias e amigos não podiam se reunir todos, fosse para apoiar uns aos outros em momentos difíceis ou partilhar momentos de alegria, devido às regras de distanciamento social.   

Houve a inovação de celebrações e atividade Litúrgica transmitida na web, e  na televisão, Facebook e no YouTube.  Estes meios de comunicação ajudaram muitos a ultrapassar este momento difícil e reforçou a fé e criaram novos rituais e grupos.   

As cerimónias agora vão decorrer em vários países, com um número limitado de pessoas, sem procissões e outras manifestações de devoção popular que marcam estes dias, devido ao estado de emergência que se vive por causa da pandemia de Covid-19. Mas acho importante continuar a relembrar as tradições. “O papel dos pais na educação é tão importante, que é quase impossível substituí-los para a formação espiritual.” Portanto, os pais precisam acompanhá-los, tanto no que estão vivendo e aprendendo, como complementar essa formação em casa, com bons exemplos, oração, meditação do Evangelho com eles, e participação na vida da Igreja, sobretudo da Santa Missa. 

Não sou suficientemente sábia para a complexidade deste assunto, não posso julgar ninguém. Não sou perfeita, espero não ofender alguém com as minhas palavras.

Desejo que nesta Páscoa todos estejam unidos em oração para que o amor, a esperança, e a alegria invada nossos corações. Para vocês e sua família e seus amigos, eu desejo uma vida feliz, com muita saúde e paz. Feliz Páscoa! Aleluia!


Maria Gomes, 55 anos, doméstica

Qual é a sua opinião acerca do Papa Francisco e o papel que ele tem desenvolvido nesse cargo?

Gosto imenso deste Papa. Por várias razões, mas talvez a principal seja por o sentir tão próximo de nós. Já gostava do João Paulo II, mas este ainda me toca mais. Desde que percebi que ele rejeitou muitos dos luxos do Vaticano, que fugia de noite à segurança para ir cuidar de pessoas sem-abrigo, que se sentava à mesa com eles… fiquei logo encantada. O Papa Francisco é acima de tudo um ser humano muito bonito.

Considera que ele tem conseguido mudar, de algum modo, a igreja católica?

Acho que já mudou alguma coisa, mas coitado, aquilo não é fácil. São muitos interesses instalados e à volta do Papa há muita gente que olha para a Igreja mais como fonte de grande rendimento, do que como casa de Deus. Sinto que por ele já havia mudanças bem mais visíveis, mas a estrutura que o rodeia não deixa. Porque não interessa. E agora também acho que ele já está muito velhinho, parece-me que lhe falta energia para avançar para uma luta que não seria nada fácil.

Estamos a viver mais uma Páscoa em tempo de pandemia – como celebra estes eventos (por norma familiares) nesta nova realidade?

A Páscoa sempre teve muito valor na minha família. Não tem a magia do Natal, mas para quem é crente é uma celebração tão ou mais importante. Gosto muito da ideia do renascer que a Páscoa nos transmite. E numa altura como a que estamos a viver, com esta desgraça da pandemia, é preciso acreditar que também nós vamos renascer quando ultrapassarmos este tempo difícil. Pela segunda vez em dois anos seguidos, não vamos poder reunir a família toda à mesa, para comermos e brindarmos à vida, mas temos que acreditar que melhores dias virão.

Até que ponto a religião, na sua opinião, tem sido afetada também pela pandemia da covid-19?

Eu acredito que quem é crente e praticante, não se sinta bem por não poder ir à mesa, como tem acontecido, mas também acho que, por um lado as novas tecnologias e, por outro, a força de vontade de cada um, não deixam que este maldito vírus afete a nossa Fé. Olhe eu por exemplo, sempre que posso acompanho o terço que é rezado junto no santuário de Fátima, em Portugal. Aprendi como fazer isso no computador e assim lá estou eu em minha casa, mas tão pertinho da nossa Senhora de Fátima. Gosto muito. Sinto-me mesmo bem.

 

Catarina Balça/MS

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