Temas de Capa

Venha de lá este 2020!

Nunca tive dons de adivinhação. Antes pelo contrário, todos os meus palpites saem furados. E acreditem que não é por falta de tentativa – tantas semanas a tentar adivinhar os números do Euromilhões e… nada. Enfim, tenho que me convencer de que, de facto, adivinhar e sorte ao jogo não são mesmo o meu forte. Também não consigo perceber, no meio de um baralho de cartas com umas figuras estranhas ou numa bola de vidro que tenta imitar o cristal, o que me espera no futuro.

Cedo aprendi que o melhor mesmo é trabalhar para ser eu a construir o amanhã – com muitos erros, muitas batidelas com a cabeça nas paredes, muitos passos em falso e no meio de pessoas falsas, com algumas vitórias e conquistas e com toda a aprendizagem que tenho acumulado com tudo, desde o mais negativo ao mais maravilhoso. É, sou mesmo uma pessoa normal, sem quaisquer dons de adivinhação. No entanto e porque estamos no início de mais um ano, vou tentar entrar no espírito que invade tantos e escrever aqui algumas linhas sobre o que penso irá acontecer neste ano 2020, que nos oferece mais um dia (sim, trata-se de um ano bissexto). Ora aí está a primeira boa notícia do ano – temos mais um dia para viver. Este é um facto particularmente relevante para quem, como eu, já olha para trás e vê mais anos do que aqueles que espera vir ainda a viver. Depois também é uma boa notícia para quem já há quatro anos espera festejar o seu aniversário no dia em que realmente nasceu – 29 de fevereiro (coitados!!).

Agora um pouquinho mais a sério (mas não muito, porque como já vos disse nada que diga respeito a adivinhar o futuro deve ser levado a sério, vindo de mim…), em 2020 penso que vamos, finalmente, assistir ao Brexit. Finalmente! Já ninguém atura esta telenovela do sai, não sai. Se querem que vos diga, mesmo correndo o risco de escandalizar mentes mais economicistas – já vão tarde. Na realidade, a Grã-Bretanha nunca esteve inteiramente na Europa – funcionou sempre como aquele parente rico que olha com desdém e muita superioridade para os mais pobres e só os aceita por perto porque eles, de algum modo, lhes são úteis, nem que seja para fazerem o que os “seres superiores” não querem fazer. Mas pronto, agora que o despenteado Boris Johnson reforçou a sua base de apoio lá vão eles, de vez, da União Europeia. Esta acho que vou acertar…

Outra que acho que não me vou enganar – Greta Thunberg vai continuar a sua luta, de dentes cerrados e cara fechada. No entanto, acho que serão cada vez mais os que, percebendo que a convicção/preocupação da menina é genuína, se irão aperceber também dos muitos interesses económicos e políticos que a estão a apoiar e financiar. E a força das suas iniciativas poderá perder-se na mesma proporção que estas redes ficam cada vez mais evidentes. No entanto, há uma marca que fica e um chamar de atenção que abanou o mundo para a necessidade de se fazer alguma coisa para travar o processo de alterações climáticas. Ficamos com essa dívida, Greta.

A China continuará a ser o regime ditatorial e repressivo que todos conhecem, mas que praticamente todos os países poderosos vão continuar a fingir que desconhecem – afinal trata-se do maior mercado do mundo e, no fim de contas, o que interessa é fazer dinheiro. Por outro lado, dá sempre jeito às grandes corporações multinacionais ter a possibilidade de produzir a custos ridiculamente baixos, graças à mão-de-obra baratíssima que lá encontram. Prevejo então que vamos continuar a receber notícias de violência repressiva em Hong Kong, a ver vídeos sobre autênticos genocídios culturais que acontecem algures naquele país que mais parece um continente, vamos continuar a ficar incrédulos quando percebemos que, em pleno século XXI, ainda há campos de concentração em tudo parecidos com os que chocaram o mundo nos anos 40 do século passado. E o mundo assistirá, impávido apesar de pouco sereno.

Trump continuará a surpreender-nos. Sim acredito que, por incrível que pareça, ele vai conseguir. Não há impeachment que o trave. Aliás, tenho para mim que o mundo não se vai livrar deste homem tão cedo. O que poderá ser dramático. Reparem que escrevi “mundo”. Não foi engano, claro. É que, infelizmente, os atos de um presidente dos Estados Unidos da América têm sempre repercussão mundial. E sendo um Presidente tão pouco ponderado (acho que nunca escrevi um tão grande eufemismo), tão destravado em atos e palavras e com uma visão do mundo que se reduz ao seu umbigo… isto tem tudo para correr mal para o mundo. E se querem que vos diga acho que os nossos “amigos” americanos vão querer continuar com este homem e vão reelegê-lo no próximo mês de novembro. Apesar dos muros, das crianças separadas dos pais, das perseguições a imigrantes, das notícias que o envolvem em escândalos sexuais, ou em verdadeiros esquemas mafiosos, apesar do aperto de mão ao maior ditador do mundo… apesar de tanto… os americanos vão voltar a dizer que querem “America great again”.

Do outro lado do mundo, continuaremos a ter Putin, senhor da Rússia (será presidente/primeiro-ministro – a designação não interessa). Continuaremos a ver crescer a Índia. De forma silenciosa, quase a passar despercebida, mas a dominar o mundo em grande medida pela via do saber. Continuará a ser uma das maiores potências económicas. Continuaremos a assistir à entrada numa Europa, já sobrelotada, de milhares de migrantes. Os que conseguirem chegar vivos. Continuaremos a passar ao lado e não querer ver a forma como estes homens, mulheres e crianças são tratados nos campos de refugiados. Continuaremos a achar que o problema da guerra na Síria, o Estado Islâmico etc., são assuntos que não nos dizem respeito. Até uma bomba rebentar ao nosso lado.

Em Portugal vamos continuar a ouvir dizer que é preciso travar a violência doméstica e os números de mortes assustadores, vamos continuar a ouvir falar de uma justiça que não funciona, de uma assistência social que não atua de forma rápida e eficaz, de impostos que não param de aumentar, de poder de compra que diminui, de dívida, de um Serviço Nacional de Saúde que está doente, de incêndios e da imensa nuvem de fumo que os envolve (ou seja, de tudo o que está tão mal explicado e que ninguém quer explicar realmente).

No Canadá vamos ter um Governo inseguro, que precisa de muletas para se apoiar, mas que mesmo assim pode, a qualquer momento, tropeçar e cair. Teremos uma oposição à procura de uma liderança forte para tentar unir um país que está cada vez mais dividido entre pipelines, legalização de consumo de canábis, políticas de imigração estranhas num Canadá feito por e de imigrantes. Um país sui generis que sendo o mais multicultural do mundo, ainda tem problemas sérios por resolver no seu relacionamento com os povos indígenas, que acolhe refugiados e afugenta imigrantes que, ao longo de tantos anos, contribuíram com o seu trabalho e boa inserção social para o seu desenvolvimento.

Bem… o melhor será parar por aqui. De facto, os meus dons de adivinhação são fracos e, pelos vistos, ainda por cima apontam em demasia para o lado mais negro ou negativo. Esqueçam tudo o que vos disse. Ou talvez não… No final do ano falamos, pode ser? E aí veremos se tenho ou não futuro, com um turbante na cabeça, paus de incenso a arder, num ambiente à média luz, com baralhos de cartas com figuras estranhas e uma bola de vidro a fingir que é de cristal.

Venha de lá este 2020! Feliz ano novo para todos!

Madalena Balça/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER