Temas de Capa

This is a man’s world

No próximo dia 8 deste mês celebramos mais um Dia Internacional da Mulher: uma data oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975 e que tem como propósito relembrar e exaltar toda a luta pela igualdade e consequentes conquistas das mulheres de todo o mundo. Assim, nesta edição do jornal Milénio Stadium decidimos debruçar-nos sobre o papel da mulher em diferentes contextos dentro da nossa sociedade. O assunto não é novo: a luta pela igualdade de género remonta ao século XIX, com a luta pelo direito ao voto. Desde então, o movimento foi dando mais e mais passos importantes – como a ampliação de direitos legais e sociais no que a família, direitos reprodutivos, sexualidade e mercado de trabalho diz respeito, por exemplo -, mas a “meta” ainda não foi, de todo, alcançada. 

This is a  man’s world-canada-mileniostadium
Crédito: Direitos reservados

No desporto, as grandes lutas têm que ver com a igualdade de oportunidades, diferença nas remunerações e prémios monetários, assédio moral e sexual, entre muitos outros. Terão as mulheres a mesma probabilidade que os homens de fazer do desporto carreira? Como é visto o futebol feminino? Quais são as diferenças salariais entre homens e mulheres no mundo desportivo? Vamos conferir alguns dados que nos podem responder a estas e outras perguntas.

Desigualdades salariais

Em agosto de 2020 a revista Forbes divulgou o top 10 das desportistas mais ricas do mundo nesse ano. Nesse top salta à vista que as nove primeiras são tenistas profissionais: Naomi Osaka, que recentemente conquistou o Open da Austrália, não só lidera esta classificação como também alcançou valores que nenhuma outra mulher havia, até então, alcançado: são 37,4 milhões de dólares, entre prize money e contratos publicitários. Serena Williams, com 36 milhões, e Ash Barty, com 13,1 milhões de dólares, completam o pódio. Seguem-se Simona Halep (10,9 milhões), a canadiana Bianca Andreescu (8,9 milhões), Garbiñe Muguruza (6,6 milhões), Elina Svitolina (6,4 milhões), Sofia Kenin (5,8 milhões), Angelique Kerber (5,3 milhões) e, finalmente, a futebolista norte-americana Alex Morgan, que atualmente joga pelo Orlando Pride.

Mas vamos comparar estes valores com os do sexo masculino: na lista dos 100 atletas (masculinos e femininos) mais bem pagos, divulgada pela Forbes, o primeiro lugar pertence a Roger Federer,  que faturou 106.3 milhões de dólares. Ao tenista suíço seguem-se os jogadores de futebol Cristiano Ronaldo (105 milhões) e Lionel Messi (104 milhões). Na realidade, nesta lista apenas constam duas mulheres: Naomi Osaka, que ocupa a 29.ª posição, e Serena Williams, 33ª classificada.

A formação, os cargos e a representatividade

Em Portugal, e segundo o estudo “ALL IN, Towards balance gender in sport” as mulheres correspondem a apenas um terço dos desportistas federados. Este estudo foi realizado pela União Europeia e pelo Conselho da Europa e teve como principal objetivo apoiar as autoridades públicas e as organizações desportivas na elaboração e implementação de políticas e programas que visem combater as desigualdades de género no desporto.

Para além desse dado, o estudo concluiu ainda que o cargo de treinador e a liderança no movimento desportivo eram, em 2018, atividades dominadas quase por completo por homens.

Nesse ano, o número de treinadoras registadas em Portugal era “de apenas 10%, sendo de 15% no conjunto dos treinadores de alto rendimento” e entre as federações “apenas 16% dos vice-presidentes e 14% dos membros da direção” eram mulheres.

Ao nível europeu, e centrando o estudo em seis campos estratégicos (liderança, treino, participação – do desporto de base ao desporto de elite -, violência baseada no género, comunicação/meios de comunicação e políticas e programas que abordam a igualdade de género no desporto), chegaram a algumas conclusões interessantes, entre elas:

  • Na Europa, as mulheres representam apenas 8% dos presidentes das federações nacionais de desporto olímpico;
  • Apenas uma em cinco mulheres são treinadoras de elite nas federações nacionais de desporto olímpico;
  • 11 desportos (37%) não têm presidentes mulheres nas suas federações nacionais.
  • A maioria das presidentes femininas encontram-se na patinagem (20%), ginástica (19%) e triatlo (12%);

A ginástica (46%) e a patinagem (40%) têm a maior proporção de vice-presidentes do sexo feminino.

Os progressos e as distinções

Em Portugal tem-se assistido a uma cada vez maior aposta nas modalidades – algo que já se fez sentir também nos desportos praticados por mulheres. Em 2017, por exemplo, Joana Schenker e Inês Henriques conquistaram, respetivamente, títulos mundiais no bodyboard e na marcha.

No mesmo ano, a  seleção feminina de futebol portuguesa marcou pela primeira vez presença no Campeonato da Europa. Já em fevereiro de 2021, na última jornada do Grupo E, estas mulheres valentes bateram a Escócia por 2-0 e seguiram para os playoffs do Euro 2022, competição que terá lugar em Inglaterra entre 6 e 31 de julho de 2022. O sorteio está marcado para hoje, dia 5 de março. A seleção feminina portuguesa ocupa atualmente a 38ª posição do “Ranking Mundial de Seleções” da Federação Internacional de Futebol (FIFA).

Lucy Bronze, jogadora inglesa que atualmente alinha pelo Manchester City, foi eleita a melhor jogadora do mundo na cerimónia FIFA The Best, que consagra os principais nomes do futebol. Foram também premiadas a francesa Sarah Bouhaddi – eleita melhor guarda-redes do mundo -, e a holandesa Sarina Wiegman, da seleção da Holanda, como melhor treinadora.

Kadeisha Buchanan, jogadora canadiana, faz parte da Equipa do Ano Feminina 2020 da UEFA, juntamente com Sarah Bouhaddi, Lucy Bronze, Wendie Renard, Magdalena Eriksson, Kheira Hamraoui, Amandine Henry, Sara Björk Gunnarsdóttir, Daniëlle van de Donk, Delphine Cascarino e Pernille Harder. 

Ada Hegerberg foi a primeira mulher da história a receber, em 2018, um dos mais prestigiados prémios do futebol: a Bola de Ouro da revista “France Football”. A ela seguiram-se Megan Rapinoe e Lucy Bronze.

Na Arábia Saudita, país que até 2018 proibia a entrada de mulheres em recintos desportivos, fez-se história graças ao lançamento de um campeonato de futebol feminino. A iniciativa, impulsionada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, teve como objetivo reforçar a participação das mulheres no desporto.

Para além do futebol, também a Fórmula 1 é vista como uma modalidade “masculina”. Ainda assim, e a título de exemplo, em 2018 a Alfa Romeo Sauber, equipa desta modalidade de automobilismo, anunciou a promoção de Tatiana Calderón, de 24 anos e que integrava a equipa de desenvolvimento, ao cargo de piloto de testes para essa época.

Campeã canadiana lusodescendente

Natural de Montreal, Meaghan Benfeito nasceu a 2 de março de 1989, filha de portugueses – Arthur Benfeito e Margarida Correia. A medalhista olímpica originalmente competiu como nadadora, mas em boa hora mudou para o mergulho. Estreou-se nas olimpíadas em Pequim 2008 com sua parceira Roseline Filion. Embora tenham ficado em sétimo lugar no mergulho sincronizado, a experiência preparou-as para o futuro. Benfeito e Filion conquistaram o bronze no mergulho sincronizado de 10m em Londres 2012 e Rio 2016 onde Benfeito também conquistou o bronze na categoria individual de mergulho de 10m. Também participou em competições de Campeonatos Mundiais, Jogos da Commonwealth e Jogos Pan-americanos. Benfeito foi nomeada a porta-bandeira do Canadá nos Jogos da Commonwealth de 2018 em Gold Coast, Austrália. 

As personalidades

Felizmente são inúmeros os nomes de mulheres com feitos incríveis no mundo desportivo que poderíamos destacar. Na impossibilidade de o fazermos, eis a nossa seleção de nomes de mulheres que têm vindo a deixar a sua marca na história do desporto:

Kathrine Switzer

Kathrine foi a primeira mulher a participar na Maratona de Boston, uma prova que, na época, era exclusiva a atletas masculinos. Quando foi descoberta, tentaram retirá-la da prova de forma violenta. Terminou a prova em quatro horas e 20 minutos, mas acabou desqualificada. Este episódio tornou-se num símbolo da luta das mulheres pela igualdade no desporto.

Telma Monteiro

A judoca Telma Monteiro é um verdadeiro orgulho nacional. Estreou-se nas competições europeias com apenas 18 anos, em 2004, e nas suas 14 participações subiu sempre ao pódio: acumula cinco medalhas de ouro, duas de prata e sete de bronze. 

Conseguiu o ouro nos Jogos Europeus em Baku, 2015, e bronze em Minsk, em 2019. Nos Jogos Olímpicos foi medalha de bronze, no Rio de Janeiro, em 2016. No campeonato mundial de judo soma quatro medalhas de prata e uma de bronze.

É a judoca portuguesa mais medalhada de sempre, 11ª no ranking mundial.

Naomi Osaka

Foi em 2018 que Naomi Osaka se tornou na primeira japonesa a ganhar um torneio Grand Slam, batendo a lendária Serena Williams na final do US Open desse mesmo ano. Em fevereiro deste ano venceu o Open da Austrália pela segunda vez, somando assim o seu quarto título de Grand Slam.

Com apenas 23 anos, Osaka tornou-se na terceira pessoa, desde 1968, a vencer as quatro primeiras finais de Grand Slam – é ultrapassada pelo suíço Roger Federer (sete títulos nos seis primeiros torneios do Slam que disputou) e pela ex-tenista americana Monica Seles (seis).

Simone Biles

A ginasta profissional dos Estados Unidos, especialista em ginástica artística, tem vindo a encantar tudo e todos. Com apenas 23 anos, conta já com 25 medalhas em campeonatos mundiais, 19 delas de ouro, o que a torna na ginasta mais condecorada na história do seu país em mundiais. A verdadeira rainha da ginástica artística. 

O caminho é feito de obstáculos, mas nem isso impede mulheres de todo o mundo de brilharem neste que (ainda) é um mundo de homens. Como diria James Brown, “this is a man’s world, but it wouldn’t be nothing without a woman or a girl”!

Inês Barbosa/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER