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Sindicatos preocupados com saúde dos membros

“Vamos criar regras nos contratos de trabalho para que os membros estejam mais conscientes e visitem o médico com mais frequência”, Omar Passos, Assistant Training Director da LiUNA Local 506

No próximo domingo (28 de abril) o Canadá presta homenagem a todos os trabalhadores que perderam a vida ou que ficaram feridos no local de trabalho. O National Day of Mourning acontece desde 1984 e fomos tentar saber qual o trabalho que os sindicatos desenvolvem para reforçar a segurança neste setor.

Omar Passos é Assistant Training Director da LiUNA Local 506 que representa cerca de 8,000 membros. O sindicato tem cerca de 3,000 membros portugueses e realiza cerca de 8,400 treinos por ano, entre aulas práticas e teóricas.
Este ano, na construção civil, um trabalhador perdeu a vida e foram registados 27 acidentes graves. Os dados são referentes ao primeiro trimestre do ano na província de Ontário. No orçamento provincial, que foi apresentado este mês, o primeiro-ministro Doug Ford, eleito pelo Partido Conservador, anuncia um corte de $11 milhões na pasta do trabalho. Para Vic Fedeli, que tutela a pasta, o objetivo agora é fazer com que “os trabalhadores se eduquem a si próprios”, enquanto que o governo “se foca no alto risco”.
Ao todo são $306,1 milhões para este ano e segundo Fedeli, “Ontário está de novo aberto para o negócio e para novos postos de trabalho”.

Milénio Stadium: A LiUNA Local 506 tem um centro de treinos aberto desde 1978. Qual é a função deste centro e quantos trabalhadores é que treinam por ano?
Omar Passos: Nós realizamos cerca de 8,400 treinos por ano. O trabalho que desenvolvemos é importante porque tem como objetivo a proteção e a segurança do trabalhador no seu local de trabalho. Os trabalhadores têm de entender a lei do trabalho ao nível de direitos e deveres. Segundo esta lei, o empregador tem de providenciar segurança e o equipamento necessário para o trabalhador. Por outro lado, cabe ao trabalhador seguir os regulamentos da construção e utilizar o equipamento que a lei obriga.
No nosso setor, os trabalhadores caem muito, mas a lei obriga a empresa a prevenir as quedas cada vez mais.

M.S.: Como é que se evitam as quedas?
O.P.: Alguns dos prédios que construímos são muito altos. Sempre que os trabalhadores estão num local com mais 2 metros e meio de altura há um risco mais elevado e por isso têm de utilizar sempre um cinto. A partir desta altura uma queda já pode causar danos graves no trabalhador.
As sequelas mais comuns são ossos partidos e normalmente existe um período de reabilitação para que o trabalhador volte aos poucos ao trabalho. Para terem uma noção, os prédios que os nossos membros constroem podem ter entre 5 e 50 andares, mas em média trabalhamos com 40 ou mais andares.
Mas as empresas também têm que cumprir regras – se por exemplo existir um buraco a empresa também é obrigada a cobri-lo para que os trabalhadores estejam em segurança.
No Canadá há muita pressão para que se gere produtividade e o trabalhador acaba por não estar tão atento à segurança porque tem prazos a cumprir. O inverno é muito longo e no verão temos pouco tempo para concluir os trabalhos.

M.S.: Os trabalhadores, os supervisores e os representantes têm deveres diferentes para que no terreno exista o máximo de segurança possível?
O.P.: Qualquer um dos nossos 8,000 membros tem de ter um local de trabalho seguro, só assim é que eles podem produzir. Os supervisores e os representantes são os nossos olhos no terreno e cada um deles tem de ter a certeza de que o local de trabalho está seguro. Mas ao mesmo tempo o trabalhador tem de seguir certas regras.
M.S.: Quantos acidentes de trabalho é que a construção civil regista por ano?
O.P.: Segundo o ministério do trabalho, desde janeiro deste ano que já ocorreu uma morte e 27 acidentes graves. Os números são referentes à província de Ontário e vão desde janeiro a março, mas dizem respeito a todo o setor da construção civil.

M.S.: As competências na área da segurança têm de estar em permanente atualização?
O.P.: Temos a obrigação de estar sempre a acompanhar a legislação nova, nomeadamente ao nível do equipamento. Estamos em pesquisa permanente sobre os perigos e no centro de treinos os trabalhadores aprendem de tudo um pouco, desde maquinaria até construção. As aulas têm uma vertente teórica e prática, as duas são importantes.

M.S.: Um trabalhador tem o direito a recusar trabalhar quando considera que as condições de segurança não estão asseguradas?
O.P.: Completamente, aliás está na lei, mas não é muito comum porque a legislação está mais exigente. Nos anos 80 era muito comum, mas hoje há cada vez mais segurança.

M.S.: A construção civil é um trabalho duro que deixa algumas sequelas para o resto da vida…
O.P.: As doenças crónicas são uma das nossas maiores preocupações e às vezes os trabalhadores só as identificam muito mais tarde. Vamos criar regras nos contratos de trabalho para que os membros estejam mais conscientes e visitem o médico com mais frequência. Mas sabemos que às vezes é difícil provar que estas doenças foram adquiridas graças à construção civil.
Para além das doenças crónicas que afetam a coluna e os joelhos, devido ao esforço físico, problemas do foro respiratório e cancro, nomeadamente de pele, também são doenças preocupantes neste setor. Os nossos trabalhadores estão expostos a materiais que afetam as vias respiratórias e passam muito tempo em exposição ao sol.

Jona Leal

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