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Ser mãe depois dos 40

Ser “mãe tardia”. Uma realidade que, por motivos vários, acontece a tantas mulheres. Ou porque o trabalho foi sendo prioridade, ou porque a pessoa “certa” demorou a surgir, ou porque simplesmente o organismo não responde aos desejos de maternidade no exato momento que queremos. E acontece ali: no momento que tem que acontecer, com a idade que tem que acontecer.

Florbela Lopes e o filho mais novo

Florbela foi mãe pela terceira vez aos 42 anos. No caso dela, esta última gravidez não foi planeada. A filha mais velha tinha já 18 anos e a, entretanto, filha do meio estava com 12 quando o bebé nasceu.
A dúvida e o medo andaram de mãos dadas, no entanto a vida encarregou-se de dar a esta “mãe tardia” a oportunidade de ver um sonho realizado. Um sonho que, na vida real, lhe trouxe isso mesmo: vida.

“Eu brinco com ele e tal, digo que sou uma “mãe-avó”e ele responde “não és nada, tu és só minha mãe””

Milénio Stadium: Não sendo esta a primeira gravidez – ou seja, não havendo aquela ânsia de ser mãe e de se saber o que isso é ou ter até “medo” dessa função – foi algo que, no entanto, aconteceu sem estar nos planos e depois dos 40 anos. O facto de ter sido assim, inesperado e tardio, trouxe-lhe medos?
Florbela Lopes: Trouxe-me muitos medos. Por várias razões, mas essencialmente por questões de saúde. Eu já tinha tido um aborto e tive que fazer um tratamento para conseguir ter a minha primeira filha, a Sara. Entretanto tive a Inês e depois dessa minha segunda gravidez foram-me diagnosticados dois miomas no útero, sendo que o meu útero foi já aí considerado muito velho. Portanto: estava posta de lado uma outra gravidez. A questão era mesmo o útero não aguentar. Claro que tendo essa informação do meu lado, quando descobri que estava grávida novamente, 12 anos depois, tive muito medo – como é que o meu bebé iria nascer? Essa era a pergunta que mais me atormentava.

Sara, Florbela, Inês e Mário

MS: Alguma vez lhe passou pela cabeça que o facto de ter tido um filho depois dos 40 pode significar que um dia ele pode precisar de si, fisicamente ativa, e a certa altura a Florbela já vai estar com menos “capacidade”, digamos assim, para o acompanhar?
FL: Sim. Sempre tive medo. Se calhar depois de fazer todos os exames médicos e saber que o meu bebé estava bem, era saudável, essa preocupação atenuou, mas realmente o que mais me deixava com medo era o facto de saber que tendo eu já 42 anos, e se o meu filho nascesse com alguma doença incapacitante, eu não seria capaz de o ajudar durante a sua vida – o que é que iria acontecer a uma criança nessa circunstância, um dia que eu partisse? Esse era realmente o meu maior receio. Mas tive sempre medo e ainda hoje penso e digo muitas vezes que quero chegar aos 80 e muitos para conseguir ver o meu filho com 40 anos! Tive sempre muito apoio e tinha uma Sara (na altura já com 18 anos) que sempre esteve, e estaria sempre, ao meu lado – fosse qual fosse o cenário.

MS: Alguma vez se sentiu mãe e avó ou até mais avó que mãe? Ou isso, no seu caso, é ridículo?
FL: Não, nada ridículo! Eu senti-me mesmo mãe e avó! Aliás, durante os primeiros anos do Mário, ele era mais… meu neto! (risos) Para qualquer lado que eu fosse com ele e com a Sara, por exemplo, que na altura já tinha 18 anos, as pessoas pensavam que o Mário era filho dela. A primeira vez que fui com ele ao hospital, tinha ele um mês de vida, a enfermeira na triagem estava a meter-se com ele e a certa altura diz “ai que bebé tão lindo… vieste com a avó foi? A mamã está a trabalhar é?” e eu desatei a rir, claro, e com muito orgulho disse “não senhora enfermeira, eu sou a mãe!”. A pobre da rapariga nem sabia onde se meter (risos). Mas até mesmo quando o Mário entrou na escola surgiram algumas situações engraçadas – uma vez passei por lá e um dos miúdos disse-lhe “oh Mário, olha ali a tua avó!” ; o Mário olhava para todos os lados a tentar encontrar a avó e a bicicleta! Por acaso, entretanto, viu o meu carro, ficou muito triste e disse ao colega “não é a minha avó, é a minha mãe!”. Mais tarde, no futebol, aconteceu a mesma coisa. Gritava eu “Mááário!” e eles “Mário, olha a tua avó a chamar-te!”. Ele ficava danado. Ele não gosta. Eu brinco com ele e tal, digo que sou uma “mãe-avó” e ele responde “não és nada, tu és só minha mãe”. Hoje se calhar já não se nota tanto, porque ele está grandito, mas quando era bebé notava-se muito.

“Os meus sonhos,
nem que seja tarde,
vão-se concretizando.”

MS: O nascimento desta criança criou uma nova realidade na família. A diferença de idades das suas filhas em relação ao irmão acabou por trazer algumas dificuldades de relacionamento ou, por outro lado, foi até benéfico?
FL: Eu digo muitas vezes que o Mário, pela diferença de idades, podia ter sido tratado quase como filho único. A Sara já era uma mulher, a Inês também com 12 anos já estava bem crescidinha, mas sinceramente acredito que os criei a todos da mesma forma. É o meu terceiro filho, não é o meu “terceiro-primeiro”. Em relação às irmãs, acho que elas são um bocadinho mães dele também. Cada uma com a sua personalidade, mas ambas muito presentes na vida dele. Eu sempre achei que a Inês, por adorar crianças – foi sempre muito ligada a crianças e tinha muito jeito – me ia apoiar muito mais que a irmã. Mas por acaso tive uma surpresa em relação à Sara. A Sara tinha “medo” de bebés, dizia que não pegava nele ao colo etc. – foi a primeira a pegar, foi a primeira a tratar, foi a primeira a fazer tudo! A Inês ajudou-me imenso, porque eu trabalhava por turnos e ela foi fundamental nessa fase quando o pai não estava. Portanto tive muita sorte, ambas ajudaram muito e continuam ainda hoje a ser um grande apoio.

MS: O Mário Afonso trouxe-lhe esperança para o futuro ou medo?
FL: O Mário Afonso veio dar uma lufada de ar fresco à minha vida. Talvez se eu não tivesse o Mário, a minha vida não fosse esta. Acredito mesmo que nada acontece por acaso e o nascimento do meu filho é a prova viva disso. Sempre sonhei ter um menino. Na minha segunda gravidez apercebi-me que tinha realmente esse desejo. Quando descobri que, sem planear, ia ter um terceiro bebé, veio um menino. Por alguma razão, tenho a certeza. Os meus sonhos, nem que seja tarde, vão-se concretizando. Aquilo que realmente é importante, pode demorar, pode custar muito, mas acaba por acontecer. O Mário deu-me força para viver mais tempo ainda. Deu-me esperança de vida.

Catarina Balça

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