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Saúde Mental – A importância de termos quem nos ajude

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DR/MS

Durantes todos estes estranhos dez meses que temos vivido desta pandemia criada pela covid-19, há um assunto da maior importância que deverá ser sempre trazido para cima da mesa: a saúde mental. No jornal Milénio Stadium temos tido esse cuidado, é uma questão que abordamos várias vezes nas nossas edições, precisamente por ser crucial que as pessoas saibam quando procurar ajuda ou saibam, pelo menos, estar atentos aos demais para que nos socorramos, uns aos outros, mais que não seja ao nos informarmos.

A propósito desta área tão peculiar da saúde, tivemos a oportunidade de conversar com Tania Zupanic, assistente social, que trabalha como conselheira num abrigo para mulheres que estavam a viver numa situação de abuso em casa. Para além disso, Tania Zupanic é também terapeuta numa clínica de saúde mental. 

Uma entrevista que nos faz perceber que é cada vez mais imprescindível procurar ajuda profissional quando sentirmos (mesmo que com dúvidas) que estamos a precisar. E se nós não precisarmos, é fulcral que estejamos vigilantes a quem nos rodeia.

Milénio Stadium: Dada à natureza do seu trabalho, ao longo deste tempo da pandemia, a Tania tem sido aquilo que se considera uma frontline worker, dando apoio a quem precisa. Que balanço faz ao fim destes 10 meses?

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Tania Zupanic. Crédito: DR.

Tania Zupanic: Independentemente da situação que a gente está enfrentando, temos de estar prontos para atender a população necessitada de serviços. Em meio a esse momento de incerteza, nós, os trabalhadores em geral, incluindo os da saúde mental, temos sido de grande importância para o combate desse vírus, seja cuidando da saúde física ou da mental. Algumas áreas tem sido mais afetadas que outras, por exemplo, com o aumento de pessoas trabalhando em casa os casos de violência doméstica também aumentaram. Agora, a mulher tem que se isolar com o seu parceiro abusivo em casa. O número de casais procurando ajuda com problemas conjugais também aumentaram, porque agora eles têm que conviver 24 horas por dia, por causa do isolamento e trabalho de casa.

O número de pessoas com ansiedade e depressão também aumentou durante a pandemia. O uso do álcool e de outras substâncias teve um aumento substancial. É muito importante que a população comece a investir em práticas de autocuidado, como exemplo yoga, meditação, exercícios, etc., antes de perder o controle emocional.

Até agora, os fatores de risco mais comuns são a idade, problemas cardíacos e diabetes. Porém, em muitos casos críticos, descobriram que as pessoas estavam com os níveis de vitamina D baixos. As pessoas que tem acesso a uma alimentação adequada e balanceada regularmente, também tem mais chances de sobreviver. Como dizem por aí, o vírus não discrimina, porém, as pessoas que sobrevivem geralmente são as que têm mais acesso as necessidades básicas. 

MS: Para além do desgaste físico há também, no trabalho de um profissional que está na linha da frente, a componente de desgaste mental. Como tem lidado com esta situação?

TZ: Os principais motivos que levam os profissionais da linha de frente ao sofrimento mental são: receio de ser infectado durante o atendimento; de perder os meios de subsistência; de não poder trabalhar durante o isolamento e de ser demitido do trabalho; de serem excluídos socialmente por estarem associado à doença ou de serem colocados em quarentena; de se separar de entes queridos e cuidadores devido ao regime de quarentena; de reviver a experiência de uma epidemia anterior; preocupação por seus filhos estarem em casa sozinhos sem cuidados e apoio adequado; aumento da demanda no ambiente de trabalho, incluindo longas horas de trabalho; e necessidade de se manter atualizado com as melhores práticas e as mais atuais, apoio social reduzido devido a intensos horários de trabalho e estigma da população em relação aos profissionais que trabalham na linha de frente dos cuidados aos pacientes com COVID-19. 

O  receio de levar o vírus para casa e atingir familiares, por exemplo, também é um sentimento que pode estar presente. Nessas horas, é essencial estar munido de informações, realizar uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e seguir as orientações de prevenção. Conversar com colegas de trabalho pode auxiliar a formar uma rede de apoio, pois podem estar passando por situações semelhantes, assim como auxilia a elaborar estratégias para minimizar este sentimento. É importante realizar intervalos durante e entre suas jornadas de trabalho, alimentar-se de forma equilibrada e manter contato com familiares e amigos, ainda que por meios digitais, de forma a manter-se vinculado a uma rede de apoio psicossocial. Além do trabalho, é importante manter atividades de lazer prazerosas, tais como atividades físicas, meditação e hobbies.

MS: Com a sua experiência no terreno, o que é que tem falhado e o que poderia ser melhorado no combate à pandemia? 

TZ: É muito difícil apontar erros nesse processo. A equipe de saúde tem tomado as decisões conforme dados coletados por profissionais da saúde. O estado vem aprendendo conforme vem enfrentando as dificuldades encontradas, porém, um dos erros, na minha opinião, foi a reabertura das escolas em setembro. E ainda pior, a demora a fechar tudo na segunda vaga (onda). Seria importante, por exemplo, olhar a Austrália, Nova Zelândia, Coreia do sul e Tailândia para ver o que o governo fez de diferente nesses países, que contiveram o vírus, e o impediram de se proliferar. Nesse momento, um fator importante é garantir que vacinas estejam disponíveis rapidamente para toda a população. Assim, conforme as variantes do vírus forem surgindo, a maioria da população já estaria protegida.

MS:  Esta segunda vaga está a ser mais fácil de lidar ou já há uma rotina adaptada para esta fase de lockdown?

TZ: Esta segunda vaga esta mais difícil de lidar, porque os números de casos de pessoas infectadas são maiores. O sistema de saúde já atingiu a sua capacidade máxima. Vejo também um aumento muito grande dos níveis de ansiedade entre a população. Na minha opinião, o governo deveria ter feito o lockdown antes do natal. Como pudemos observar, depois que o atual lockdown foi implementado, os números vêm diminuindo consideravelmente. 

Catarina Balça/MS

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