Temas de Capa

Reais irrealidades

Numa era em que as redes sociais servem de porta de entrada direta nas nossas vidas, ou naquelas que decidimos inventar que temos, os parâmetros pelos quais nos seguimos são – posso garantir – completamente diferentes de há 10 anos atrás. Não preciso ir mais longe que isso. Acho que nem cinco, mas vá. 

Podia falar-vos do Fotolog, do Hi5, desses inícios mais reais desta irrealidade que é a vida virtual, mas basta analisarmos o Facebook, que agora não é tanto usado pela minha geração – Millennials – e por isso vou focar-me no Instagram para vos dizer que chega a ser preocupante o misto de consequências que esta plataforma tem.

Sou utilizadora assídua, é por lá que sei da maior parte das notícias do mundo e dos mundos dos que conheço – eu digo que conheço, mas a maioria nunca vi na vida. Mas é esse o fascínio, podemos conhecer novas pessoas, podemos seguir a vida de celebridades que gostamos (mas que tantas vezes nos fazem sentir inferiores), temos acesso primordial às novas tendências da moda, às novidades do mundo da música, ao que há de novo a acontecer na cidade e ao que não muda na cidade de outros – aqueles que por ali ficam, nesta cidade online e que não procuram um lugar real onde a vida aconteça, de facto, socialmente. As pessoas publicam online o que querem que se entenda como real e isso é algo que temos que perceber muito bem (vejam, por exemplo, a fotografia que aqui deixo).

As redes sociais são uma mais valia na vida de tantos, da maioria eu arrisco dizer, quando usadas para comunicar e partilhar momentos com aqueles que nos dizem mais, para nos rimos de vídeos hilariantes, para nos ajudarmos uns aos outros quando uma campanha surge em busca de auxílio porque, Moçambique, por exemplo, precisa de nós. As redes sociais podem ainda ser, e são no meu caso concreto, uma ferramenta de procura de inspiração para as mais variadas criações – a fotografia e o vídeo são duas delas. Servem para nos “empurrar” e fazer com que procuremos seguir os nossos sonhos. Acreditem, ou não, isto acontece muito.

No entanto, há obviamente o lado menos positivo – muitas vezes muito negativo – destas plataformas. Podemos referir casos graves de rapto, no entanto prefiro falar de coisas menos assustadoras, mas que podem também acabar com um crime.

Os estereótipos criados à volta da imagem da mulher, por exemplo, estão cada vez mais exigentes. Quero acreditar que se vos falar da família Kardashian sabem ao que me refiro – e uso este exemplo para vos dizer que é ridículo o quão intensa é a vontade da maioria das mulheres de ter uma “imagem Kardashiana”. 

Infelizmente, nem todas têm a genética e muito menos o dinheiro para conseguir “atingir” os contornos da – quase – perfeição exigida. Sim, exigida. A maioria das mulheres, das mais variadas idades, sente que é um requisito ter uma determinada imagem, porque é assim que o mundo das redes sociais nos faz pensar. São essas mulheres, cirurgicamente perfeitas e com roupas da marca X e Y, que têm mais likes, mais DMs (direct messages), mais atenção! Tudo se resume a isso – atenção. 

A “banha” a mais, o “pneu”, é criticado e posto de lado. As comparações são inevitáveis, a frustração toma proporções preocupantes e, tantas vezes, a depressão acontece.

No entanto, há o outro lado – para personalidades diferentes, que têm a força de vontade de mostrar que a determinação é maior que os complexos. 

Tantos são os casos, como este que vos trazemos hoje, de jovens que, perante as centenas de seguidores, ou milhares, mostram que querem mudar de estilo de vida e, como uma espécie de compromisso, partilham essa difícil, mas tão gratificante, jornada. Aqui, as redes sociais servem de motivação para outros com a mesma vontade. Servem de fonte de energia para não desistir, porque sentem que querem provar que são capazes, sem pressões – há uma vontade boa de atingir resultados para se partilharem alegrias – os tais likes e comentários de força ajudam sempre, muito. Essa vontade de atingir um objetivo com uma plateia a torcer para que isso aconteça é, para tantos, como uma bomba de oxigénio.

Catarina Balça

Redes Sociais - Comentários

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