Temas de Capa

“Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”

O telefone toca às 4h. Amélia, (nome fictício), lembra-se automaticamente do seu filho Tiago, que foi sair com os amigos madrugada fora. O telefonema é do hospital e a mensagem é de que ela perdeu o filho num acidente de carro. Nesse minuto, o álcool e a canábis mataram um jovem adulto, e sua mãe, por muito que os anos passem, nunca irá conseguir conformar-se; nenhuma mãe consegue.

Esta é uma situação fictícia, sim, mas vivida todos os dias no Canadá: quatro canadianos são mortos nas estradas, devido ao álcool ou as drogas, em acidentes de carro. Muitas das vezes, nem é o próprio condutor a principal vítima, mas sim a pessoa ao lado, ou a pessoa que por um acaso estava a passar no local nesse momento.

Estima-se que em cerca de 3000 mortes o álcool ou as drogas estiveram envolvidos em 55,4% dos acidentes (2014). Embora os casos relacionados com o álcool continuem a diminuir, 33% dos testes das vítimas de acidente foram positivos apenas para o álcool, 40% foram positivos para as drogas, e 17% foram positivos para ambos. Cerca de 20% dos condutores que morreram nas estradas revelaram a presença de canábis. No entanto como a substância só foi legalizada em 2018, estes números poderão aumentar à medida que forem surgindo mais estudos.

Há zonas do Canadá que têm mais casos destes acidentes rodoviários que outras Northwest Territories, Yukon and Saskatchewan estão nos primeiros lugares. Saskatchewan registou a maior taxa entre as províncias em 2015, com 575 incidentes por 100.000 habitantes. Esta taxa é consideravelmente maior do que a de qualquer outra província; Alberta ficou em segundo com uma taxa de pouco mais da metade da de Saskatchewan (314 por 100.000 habitantes). No entanto, os números de condução perigosa em dois dos três territórios – Yukon e nos Territórios do Noroeste – foram maiores do que as de Saskatchewan. As províncias menos afetadas são Ontário, Quebec e Manitoba.

Quase 3.000 incidentes (2014)  de condução com drogas foram relatados, representando 4% de todos os acidentes com condução perigosa, o dobro dos números de 2009.

A maioria das pessoas acusadas em 2015 foram do sexo masculino, no entanto a proporção de mulheres aumentou substancialmente nos últimos 30 anos, passando de 8% em 1986 para 20% em 2015. Os jovens adultos com idades compreendidas entre os 20 e os 24 anos são predominantes, contudo as maiores quedas nas taxas desde 2009 também foram observadas entre condutores jovens. Quase metade dos acidentes relatados pela polícia em 2014 ocorreram entre as 11 pm e as 4am.

 

As acusações e acidentes com drogas são menos suscetíveis de serem perdoadas em tribunal, comparativamente com o álcool; quando ouvidos pelos tribunais, esses casos também levam mais tempo para serem resolvidos e são menos propensos a resultar numa declaração de culpa. Pelo menos uma em cada seis pessoas acusadas de um processo judicial deste tipo em 2014/2015 já tinham sido acusadas durante os 10 anos anteriores. Pouco menos de um em cada 20 condutores em Ontário, Manitoba, Alberta, Yukon e Nunavut admitiu conduzir depois de consumir duas ou mais bebidas na hora antes de dirigir. Desses indivíduos, mais de três quartos (76%) tinha feito isso mais de uma vez.

Estilos de vida saudáveis são geralmente ligados a uma menor probabilidade de condução perigosa, mas as pessoas que fazem desporto de competição são mais propensas a relatar ter conduzido depois de beber. As pessoas que relataram outros comportamentos de risco durante a condução como excesso de velocidade ou o uso de telemóvel são, também, mais propensas a relatar ter conduzido depois de beber. Em 2015, a polícia informou que 596 incidentes causaram danos corporais; em comparação com 1986, a polícia relatou 1.581.

Os números ainda são difíceis de digerir, mas estas mortes são completamente evitáveis se conduzir não beba nem consuma drogas. Sabe aquele último copo de vinho que não deveria ter bebido? Ou aquele “bolo” de canábis de que não conhece o efeito nas próximas horas? Em caso de dúvida, não coma, não beba, não fume.

Todos conhecemos os efeitos do álcool na estrada, mas muitos podem não ter noção dos efeitos da canábis na condução. Tanto um como o outro influenciam o nosso tempo de reação, a nossa visão, o nosso cérebro e o nosso corpo. Os efeitos da canábis podem permanecer no sangue até seis horas ou mais, dependendo de fatores como os níveis de tetra-hidrocanabinol (THC) e da forma como ela é consumida.

Na dúvida, use os transportes públicos, telefone a alguém para uma boleia, apanhe um táxi ou simplesmente aguarde que os efeitos da substância deixem de se manifestar.

Sara Oliveira/ MS

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