Temas de Capa

Para lá do sonho… a vida real

Ser desportista profissional – seja em que modalidade for – é para muitos jovens um sonho. Primeiro movido pela paixão pura à atividade física, de uma forma geral, e àquela modalidade em particular. Mais tarde o sonho passa a ser alimentado pelo fascínio pelas vidas, de riqueza mais do que evidente, dos seus ídolos.

O sonho passa então a dormir numa cama feita de ilusão – que leva tantos a pensar que também eles atingirão a fama que os transportará para uma vida glamorosa e rica.

Efetivamente a percentagem dos que enriquecem à custa da sua habilidade física é infinitamente pequena, quando enquadrada no total de jovens que alimentam esse sonho, carregado de ilusão. É que não basta ter talento – será necessário ter cabeça para gerir uma vida profissional sempre muito curta e, ainda por cima, é preciso ter sorte. Sorte porque o físico se mantém forte – sem que as lesões o destruam em segundos; sorte porque “não há campeões sem ela”; e sorte porque há escolhas que se fazem na vida que resultam bem ou mal conforme o “alinhamento das estrelas”.

Trago-vos a este propósito duas histórias de vida – dois desportistas profissionais que podemos considerar “diferentes”. Por um lado, porque trabalham num mercado de trabalho que os compra e vende, determinando assim muito do seu percurso. Um mercado dominado por agentes que vivem à custa do talento dos que representam, mas que são considerados essenciais (pelo menos por alguns…) para lhes garantirem um futuro na vida profissional que escolheram. Mas o que marca a diferença nestes dois desportistas é a evidente sensatez. É terem tido a consciência de que precisavam de garantir o futuro, quando o talento desportivo se perder no meio de lesões ou a idade começar a pesar demasiado e a prender movimentos.

Estes dois desportistas apostaram no seu sonho, mas não deixaram de investir na sua formação académica. O sonho concretizou-se, pelo menos, parcialmente – são ambos profissionais que têm ganhado a vida a fazer o que mais gostam, mas a consciência da efemeridade da profissão que escolheram manteve-lhes os pés bem assentes na terra.

Deste modo, Tarantini e Brian Ofori garantem que “há mais vida” para lá do futebol ou basquetebol e não correm o risco de engrossar a lista dos que de uma boa vida (às vezes mesmo muito boa!!) passaram para a situação de vida miserável.

Madalena Balça

Name: Brian Ofori
Basketball player
Montreal, Canada
Age: 27 years old
Education: Bachelor degree in psychology, a diploma in general social sciences and a certificate in public relations.
Played in:
Canada: University of Regina and others
USA: Brookwood Elite
British Virgin Islands: St. Vincent national team
Spain: Iraurgi
Portugal: Sampaense

Milénio Stadium: When did you feel like you needed an agent to manage your career?
Brian Ofori: Ever since I graduated from university. As a player in north’s America who is looking to play in other regions of the world, it is almost essential that you have an agent or someone who can represent you in other parts of the world. Agents have a list of contacts world wide and therefore make it easier to get connected to various clubs.

MS: What kind of agreement do you have with him?
BO: Our agreement is a standard agreement. He will find me jobs playing basketball in leagues worldwide, and as compensation he gets 10% of my total salary.

MS: You’re an international basketball player, who’ve been playing in different countries. What moves you: the love for the game or the love for money?
BO: It’s almost a combination of both. The love of the game is what got me this far and has given me the strength needed to grind through difficult times. My love for money or more specifically traveling is what makes me want to continue to work hard so I can extend my career and see and experience the world around me.

MS: When your agent is negotiating your future, do you feel like you’re just like merchandise in the market?
BO: It’s more so as an employee for that business. My agent advertises me as an employee that can most benefit the particular business most interested in a player such as myself.

MS: Do you consider your agent also your friend?
BO: I consider my agent a partner. He gets paid if I get paid. The more I get paid, the more he gets paid. So our partnership allows for appropriate communication that isn’t too formal but also gets the job done.

Nome: Tarantini
Jogador de futebol
Gestaçô, Baião, Portugal
Idade: 35 anos
Formação académica: Licenciatura em Desporto, Mestrado em Ciências da Educação, Doutorando na área “Transições de carreira no desporto”
Clubes representados:
Amarante
S.C. Covilhã
Gondomar SC
Portimonense
Rio Ave (há 12 épocas seguidas)

A escolha de vida profissional

“Sempre quis ser jogador de futebol. Nunca fui um mago da bola, mas tinha uma enorme vontade de triunfar, de jogar nos grandes palcos do futebol português. Entre derrotas, empates e vitórias continuo a viver o sonho há 16 anos sempre com a alegria e as maravilhosas sensações que este jogo me dá.”

Percurso escolar

“Gosto de projetar a vida desafiando-me constantemente a alcançar objetivos que me permitam sentir o caminho do sucesso. Para tal equacionei desde sempre a educação como um forte pilar na minha vida. Na Universidade da Beira Interior concluí as licenciaturas em Ciências do Desporto e Educação Física e Desporto Escolar, o mestrado na área do futebol, sendo atualmente doutorando na área das transições de carreira. Em 2016 criei “A Minha Causa”, um projeto que está a despertar uma geração de pessoas por todo o país, seja através de palestras, investigação, documentários ou livro. Acredito que o meu percurso possa servir de inspiração para outros transformarem os seus sonhos em intenções.”

12 épocas a jogar no Rio Ave

“O sonho de jogar por um clube maior existe, mas a oportunidade é cada vez mais estreita. Em 2014, a grande época do Rio Ave, tive convites da Grécia, Itália e Irão, mas de clubes que fossem bons para a minha carreira… “Vais resolver o resto da tua vida?”, perguntou-me a minha mulher [que é médica]. A conclusão fácil foi: não. E trocar por trocar não faz sentido, nem mesmo por mais dinheiro.”
Os desportistas profissionais e os estudos
“Infelizmente os jogadores de futebol ao nível da formação académica são limitados. Segundo disse há tempos o presidente do Sindicato dos Jogadores numa entrevista, apenas 4% dos jogadores em Portugal têm uma licenciatura. Nos olímpicos, 65% dos nossos atletas presentes no Brasil tinham licenciatura ou frequência do ensino superior. E não se pode dizer que os futebolistas são profissionais e os outros atletas de alta competição não. É mentira. Nem se pode utilizar a desculpa de o futebol ser o jogo coletivo. Temos muito tempo livre. Admito que nas modalidades individuais haja mais agilidade de tempo, mas também cumprem horários.”

Os jogadores, os seus agentes e os milhões

“Em geral, acreditam que alguém vai fazer alguma coisa por eles, quando o mais importante é o que fazemos por nós próprios. Mas há agentes sérios e competentes. Em Portugal, 90% dos profissionais de futebol ganham em média €50 mil líquidos/ano. Os outros 10% têm ordenados bem acima. A disparidade é muito grande. Nas maiores ligas europeias são valores bastante mais elevados. Há uma tendência para generalizar os jogadores como estrelas. O futebol é uma bolha, um mundo à parte, mas se esses valores são praticados é porque o futebol gera milhões. Costumo dizer que somos palhaços num circo de milhões, por isso devemos ser bem pagos. Se o Cristiano Ronaldo ganha o que ganha é porque merece e porque os clubes fazem muito dinheiro com ele.”

Tarantini in Declarações feitas a diversos orgãos de comunicação

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