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Pandemia agrava desemprego entre as mulheres no Canadá

O agravamento da pandemia de Covid-19 e as diversas restrições impostas pelas autoridades fez com que uma em cada três mulheres canadenses cogitasse a possibilidade de deixar o emprego devido à pressão em ter de gerenciar os cuidados com os filhos e demais responsabilidades domésticas durante esse período sensível. Foi isso que apontou um estudo feito pela The Prosperity Project, ainda em setembro do ano passado. Se algumas optaram por essa alternativa, outras tantas não tiveram escolha e simplesmente foram demitidas ou viram as horas de trabalho diminuírem drasticamente. Uma pesquisa mais recente, de janeiro deste ano, realizada a partir de dados da Statistics Canada analisados pelo RBC, aponta que quase meio milhão de mulheres perderam seus empregos devido à pandemia no país e ainda não haviam retornado ao trabalho, e mais de 200 mil delas são consideradas desempregadas de longa duração. Outras 100 mil com mais de 20 anos saíram do mercado de trabalho, o que significa que não estão mais procurando emprego.

Pandemia agrava desemprego -toronto-mileniostadium
Créditos: DR.

Muitas dessas mulheres trabalhavam em setores duramente atingidos, como hotelaria, comércio, alimentação ou turismo. As mais jovens foram mais afetadas, mostram os dados, assim como aquelas que chegaram ao Canadá na última década.

As três mulheres que o Milénio Stadium entrevistou essa semana se enquadram em muitas dessas categorias refletidas pelas pesquisas. Maria Cláudia Coelho, de 43 anos trabalhava como gerente em uma grande rede de lojas de roupas em Toronto e sentiu de imediato os efeitos da crise nesse setor: “Não teve jeito. Com o fechamento do comércio por um período longo, algumas lojas desta rede fecharam e eu perdi o meu emprego. E isso aconteceu comigo e diversas outras colegas”. Ela conta que nos primeiros meses tentou manter a tranquilidade, aproveitou para descansar e curtir a família. A ajuda financeira do governo foi fundamental para garantir a estabilidade financeira mas com o passar do tempo a esperança vai diminuindo e a preocupação é constante: “As coisas não voltam ao normal, a reserva de dinheiro já acabou e as contas continuam as mesmas”.

Lília, de 45 anos, também trabalhava no setor de venda de roupas. Casada e mãe de três filhos, de 12, 10 e seis anos, também perdeu o emprego devido à pandemia. O marido trabalha na área da saúde então coube a ela a tarefa de coordenar as atividades domésticas e monitorar os filhos nas aulas on-line. Ela confessa que estar em casa o tempo todo tem seus momentos desafiadores: “As pessoas estão se adaptando ao home office e a ter crianças perto o tempo todo. O estresse é real, a falta de privacidade, e pequenas coisas se tornam enormes… Ninguém jamais imaginou que viveríamos esse cenário de filme! Acho que cada um está tentando manter a sanidade do jeito que pode. Sou uma pessoa de fé e creio que tudo isso vai passar”. Ela acredita que o fardo para as mulheres têm sido mais pesado mas tenta se manter positiva e focar na saúde porque faz parte do grupo de risco e pretende pensar no futuro profissional quando tudo isso acalmar: “É fato que em muitas famílias as mulheres tiveram que se sacrificar mais para ficar com as crianças. Mas acho que apesar da crise, vivemos num país maravilhoso e depois que a ventania passar as coisas todas voltarão ao seu lugar. Daí a gente readapta os planos. Se servir de consolo, o atraso será geral”.

Esse atraso na volta ao mercado preocupa as mulheres e também os pesquisadores. Um dos autores da pesquisa realizada pela RBC, o economista Dawn Desjardins, analisa: “À medida que a economia começa a se reabrir, muitos dos empregos que essas mulheres ocupavam não existirão mais, seja por causa de mudanças estruturais, como o aumento do comércio eletrônico, ou o grande número de empresas fechadas em setores duramente atingidos”.

Maria Cláudia também assegura a vontade de voltar ao mercado de trabalho e tenta ser otimista:“Quero muito retomar minha vida profissional, não acho que vou encontrar dificuldades para me recolocar, o maior problema, na minha opinião, é saber quando as coisas voltarão definitivamente, pois enquanto ficarmos neste “abre e fecha” do comércio, vai e volta de lockdown, ficaremos na instabilidade e na falta de trabalho”.

Outra mulher que integra esse grupo que viu o emprego desaparecer de uma hora para outra desde a chegada da pandemia, tem 39 anos e atuava no setor de serviço ao cliente de uma companhia aérea no aeroporto de Toronto. Ela prefere não divulgar o nome, mas conta que o impacto sofrido pelo setor aéreo, com as restrições de viagens, atingiu em cheio a ela e seus colegas: “Primeiro entrei de licença não remunerada e voluntária por três meses. Após, fui dispensada até que a empresa precisasse novamente de funcionários para suprir a demanda (que baixou muito) e não vejo perspectiva de melhora tão cedo”. Diante dessa realidade, a mãe de três filhos preferiu investir em novas oportunidades e não se arrepende: “Fui atrás de um novo emprego, e consegui. Para mim acabou sendo melhor, agora trabalho em tempo integral e minha renda aumentou”. E acrescenta: “Acho que a perda de empregos foi geral, então não importa se mulheres ou homens, é preciso correr atrás”.

Aliada à determinação, a ajuda dos governos também será fundamental para a recolocação dessas mulheres no mercado de trabalho, segundo análise do economista Desjardins: “Isso representa um desafio para os formuladores de políticas e líderes empresariais canadenses – treinar novamente os trabalhadores mais afetados para novas formas de trabalhar em setores que mudam rapidamente ou ajudá-los na transição para novos setores”.

Lizandra Ongaratto/ MS

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