Temas de Capa

Ouvir e não ver. Há sempre aquela ideia: “Quem estará do outro lado?”

Sim… antes do 25 de Abril era necessária uma licença para se ter uma rádio a tocar e não se saía da mesa sem ouvir toda a radionovela. Aliás, recordo-me que, quando era ainda criança, em casa havia um silêncio profundo na hora do almoço para se ouvir a novela. Foi um sucesso!

 

Em finais de 1960, inícios de 1970, já havia televisão, mas não havia muitas casas com possibilidades de poder ter uma em casa e então a radio era a companhia de uma grande percentagem da população portuguesa. Era assim que seguiam o que se passava no país, muitos com o aparelho escondido – não o podiam mostrar porque não tinham licença para o ter à vista e por isso também se ouvia com o som baixo. Mais tarde o mesmo se passou com a chegada da televisão – escondiam-se as antenas debaixo das coberturas das casas. Mas a rádio foi e continua a ser a companhia de muita gente. Naquele tempo – para além das novelas que foram um sucesso, também em dias de jogos de futebol os adeptos andavam com o seu aparelho no bolso – sim, no bolso. E que luxo era ter um rádio de bolso! Sempre que podiam lá estavam com o auricular no ouvido. A rádio era a companhia das pessoas, durante muitos anos, e continua a ser para muitos. Hoje é muito mais fácil, porque se pode ouvir rádio de qualquer parte do mundo, através de um telemóvel ou qualquer outro suporte semelhante, graças à internet. No passado marcava-se hora para se poder encostar o ouvido na rádio, as pessoas “faziam a fotografia” dos locutores pela voz – imaginavam como era a pessoa. A voz na rádio era e continua a ser excecional. Nem todos nasceram para fazer rádio, falta-lhes a voz radiofónica para despertar os ouvintes. No passado fazia-se rádio com muito profissionalismo, mas ainda hoje nós ficamos ansiosos para ver quem fala do outro lado. Quando tive a possibilidade de conhecer excelentes locutores que adorava ouvir, muitos deixaram-me sem palavras – fazia uma ideia daquela pessoa totalmente diferente. Foi o caso de Carneiro Gomes na RR, por exemplo – que surpresa quando o vi pessoalmente!!! Do meu grande amigo Óscar Daniel, também da Rádio Renascença, que ainda se mantém no ativo e que é um excelente profissional, e do grande sportinguista Paulino Coelho, entre outros excelentes homens e mulheres que com a sua voz na rádio nos informam do que se passa. A rádio continua a ser uma excelente companheira de viagem e não só – já imaginaram fazer uma viagem a conduzir sem a rádio ao nosso lado?

Em Portugal, foi em 1894 que a Marconi abriu o caminho para que hoje se consiga ter tantas estações de rádio no nosso país, mas só em 1923 é que foi criada a Sociedade Portuguesa de Amadores de Telefonia Sem Fios. Segundo a história da rádio, foi nos anos 20 que Portugal teve as primeiras experiências. Em 1935 nasce a emissora nacional de radiodifusão, que é a atual Antena 1. No ano seguinte apareceu a emissão da Rádio Renascença. Após o 25 de Abril as rádios são nacionalizadas com a exceção da Rádio Renascença que continua a ser das mais ouvidas a nível nacional. As rádios passaram por uma fase menos boa quando a televisão apareceu, mas conseguiram sobreviver e hoje continuam com muita força. Continuam a ser uma excelente companhia, ouve-se e não se vê a pessoa e, se lá dentro do estúdio, em frente aos microfones estiver uma pessoa com voz radiofónica ajuda-nos a passar o tempo.

Eu continuo a ser um amante da rádio por isso, sempre que posso, a rádio está ligada. Que nunca acabem com as rádios. Infelizmente nós, por cá, estamos a perder alguma qualidade e quantidade. Terá sido por birra? Por falta de gosto e respeito pela comunidade? Será que a nossa comunidade não merece e consegue aguentar uma rádio com qualidade e sem medo de transmitir as verdades a tempo, sem ter que esperar por outros? Somos uns milhares e bem podíamos ter uma estação de rádio 24 horas a falar a língua de Camões. Reparem nos nossos irmãos em Paris que desfrutam da rádio Alfa do meu amigo Armando Lopes, grande empresário e amigo dos portugueses que lá vivem. Nós por terras norte-americanas deitamos abaixo quem muito bem faz pela comunidade, porque será?
O futuro da rádio promete. Viva a rádio e quem na rádio trabalha, viva também.

Augusto Bandeira

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