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Os filhos da pandemia

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Este foi decididamente um ano intenso, para o qual ninguém estava preparado.

Ao longo da minha vida, espero ter muitos papéis que incluam todos os objetivos que tenho para cumprir, no entanto, ser mãe será certamente o mais importante e desafiante de todos. E como se os habituais medos relacionados com uma gravidez, nascimento e com a capacidade de criar uma criança não fossem suficientes, este ano acrescentam-se ainda os medos de uma pandemia, de viver com a vida suspensa e um futuro com planos incertos.

Sendo esta a primeira criança que trago ao mundo, e também a primeira pandemia que enfrento, tem sido um período bastante difícil tentar preparar-me para cuidar de outro ser humano ao mesmo tempo que tento entender esta doença e lidar com as modificações constantes da informação que recebemos.

Uma doença que se instalou por todo o mundo e parou as nossas vidas, certamente que nos irá afetar hoje e que terá repercussões ainda mais significativas no futuro. Desde o início que a pandemia trouxe muita incerteza na minha gravidez, desde a dificuldade em encontrar acompanhamento médico, já que muitos obstetras não estavam a aceitar pacientes, à incerteza se poderia ter uma pessoa de apoio no hospital e ainda, a redução das opções para aliviar a dor durante o parto. E durante a própria gravidez as oportunidades de “aproveitar enquanto o bebé não chega” foram muito poucas já que nos vimos obrigados a restringir a nossa bolha e as nossas deslocações.

E num ano tão difícil, milhares de grávidas viram-se obrigadas a ir a consultas e ecografias sozinhas, a serem acompanhadas por chamada ou videochamada, a isolarem-se desde o início, mais ainda do que os restantes para proteger aquele ser humano tão delicado que o seu corpo está a criar. E os próprios pais, foram roubados da oportunidade de ouvir o batimento cardíaco do bebé e ver o seu bebé nas ecografias.

Numa gravidez, em outros tempos, além do entusiasmo de conhecermos o nosso bebé, existiriam também planos para apresentar esse bebé à família. Nos dias de hoje, isso não será possível, não há máscaras, nem gel desinfetante que possam proteger um ser humano sem defesas e que só levará as primeiras vacinas aos dois meses. Por isso, vejo-me obrigada a evitar que haja qualquer contacto com o bebé e, inclusive connosco, pais. Os dias serão passados só os três, sem saídas, nem celebrações.  Idealmente, gostaria de apresentar o meu bebé a toda a família com quem iriamos celebrar o seu primeiro Natal e habituar o bebé a estar com outras pessoas e noutros ambientes. Contudo, essa realidade não é possível nos dias de hoje.

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Para agravar a situação, está comprovado que o stress não só afeta o bem-estar da grávida, como pode também afetar o crescimento do bebé. Outra questão que se torna ainda mais relevante com o isolamento é a depressão pós-parto, um fenómeno tão frequente e tão pouco valorizado. Ora uma pessoa que já passou meses em isolamento, com a sua vida condicionada, entrará numa fase nova da sua vida, onde terá um ser humano totalmente dependente dela, ao mesmo tempo que tenta recuperar. A pandemia torna esse período ainda mais doloroso, uma vez que o isolamento vai fazer com que tenha menos apoio. E um bebé para ser feliz precisa de uma mãe saudável, tanto a nível físico como psicológico.

Inês Carpinteiro/MS

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