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Orçamento federal – Pequenas empresas

Entre o aplauso e a deceção

Os chamados pequenos negócios, elemento fundamental numa economia nacional saudável, têm sido bastante afetados pelos sucessivos confinamentos que a pandemia provocada pela covid-19 tem imposto no último ano. Muitos lutam diariamente pela sobrevivência, enquanto outros já foram obrigados a fechar as portas de forma definitiva.

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Créditos: DR.

As medidas de apoio, que foram sendo criadas pelos governos (federal e provinciais), enquanto a alguns foram garantindo que a luz ao fundo do túnel permanece acesa, para outros não foram suficientes. Este é um setor que tem suportado a vida de muitas famílias, garantindo postos de trabalho, por isso torna-se essencial perceber o que orçamento federal, apresentado pela ministra das Finanças Chrystia Freeland, significa para o seu futuro.

Procurámos saber junto de instituições que representam os pequenos/médios empresários qual a leitura que fazem do documento que vai orientar a economia canadiana nos próximos tempos. Jasmin Guénette – Vice President of National Affairs da The Canadian Federation of Independent Business (CFIB), numa análise global ao orçamento sublinhou “algumas coisas positivas” e deu exemplos “eles prorrogaram o programa de subsídio de salário até setembro, o que é bom; o governo também decidiu estender até setembro o programa de subsídio de aluguer; apoiamos essas duas medidas, lutámos por elas, por isso estamos satisfeitos. Também estamos felizes com o anúncio de introduzir um novo programa de contratação – para ajudar as empresas mais atingidas a contratar mais trabalhadores. Essa foi uma das nossas recomendações ao governo.” No entanto, há também pontos negativos – “estamos desapontados por ver que não houve nenhum anúncio feito para ajudar novas empresas a aceder ao programa de alívio do governo federal – as empresas que começaram em março de 2020 (quando a pandemia começou) não são elegíveis para nenhum dos principais programas federais voltados para ajudar pequenas empresas. Tínhamos esperança de ver o governo federal fazer algo a esse respeito e anunciar algo no orçamento, mas não aconteceu, foi dececionante”.

Já John Kiru, Executive Director at TABIA (a “umbrella organization” das 85 BIAs de Toronto, que por sua vez representam mais de 90.000 empresas/negócios e proprietários) reforça o lado positivo do orçamento afirmando que “num momento crítico como este: as empresas precisam de apoio para manter as luzes acesas e reter funcionários, e precisamos de investimentos de longo prazo para apoiar os nossos negócios a recuperar e crescer para o sucesso futuro. Neste orçamento, temos ambos: os apoios de emergência para manter os negócios neste tempo de COVID, mas também recursos como o Programa de Adoção Digital para fazer a transição dos negócios para uma economia mais digital e com visão de futuro.” Kiru reforça a mensagem de esperança afirmando que “também estamos a ver investimentos recordes em proprietários de empresas de grupos sub-representados, como mulheres empresárias, negras e racializadas e indígenas. O valor desses investimentos pode não ser demonstrado imediatamente, mas em seis meses, um ano e uma década, pagarão dividendos e fortalecerão as nossas comunidades locais”. Kiru, no entanto, sublinha que o ponto mais positivo deste orçamento está, no seu entender, “no investimento com a adoção digital. Este modelo de contratação de alunos e apoio a pequenas empresas de todos os setores para que se tornem digitais e se orientem para o e-commerce é algo que lideramos com a Digital Main Street aqui em Ontário. Isso fez uma grande diferença localmente e agora fará a diferença para as empresas em todo o país”.

O otimismo de John Kiru é cortado pela visão de futuro de Jasmin Guénette relativamente ao que se poderá esperar como resultado deste plano orçamental já que, recorda, “o nível de endividamento que as pequenas empresas tiveram de assumir durante a pandemia é bastante alto e o orçamento deveria ter dito algo sobre isso. Para garantir que as pequenas empresas não tenham muitas dívidas quando a pandemia acabar e elas não tenham que pagar muito dinheiro, e sejam capazes de manter a receita que estão a gerar para investir nos seus negócios, contratar novas pessoas, obter algum lucro e assim por diante. É por isso que é importante que os programas de alívio oferecidos pelo governo federal não sejam apenas programas de empréstimo, mas também perdoem uma parte do apoio”.

Um dos maiores receios dos analistas, que se têm pronunciado sobre o orçamento apresentado pelo Governo Liberal, tem a ver com o aumento exponencial da dívida pública que muitos temem venha a condicionar o desenvolvimento económico do Canadá nos próximos anos. A este respeito John Kiru diz que acredita que “é hora de investir e estimular a nossa economia para que possamos sair desta crise única numa posição forte e estabelecer negócios para um crescimento de longo prazo. Tendo trabalhado em estreita colaboração com pequenas empresas ao longo da minha carreira, eu entendo o que a ministra das Finanças disse, que o custo da inação teria sido muito maior. Falei com muitas pessoas em Toronto, em todo o GTHA, Ontário e Canadá, que não teriam sobrevivido à pandemia sem esses apoios. Vamos estar atentos e acompanharemos de perto se o governo federal investe de forma responsável para estimular a nossa economia e a leva ao crescimento”.

Já o representante da The Canadian Federation of Independent Business (CFIB), Jasmin Guénette, mostra-se preocupado e explica porquê – “pedimos ao governo que não aumentasse os gastos e foi um pouco dececionante ver o governo a gastar dinheiro em programas não relacionados com a pandemia. Seria também aconselhável que o governo adicionasse um plano para voltar a uma situação financeira melhor nos próximos anos – eles não podem simplesmente ignorar, têm de fazer algo sobre isso agora. Acho que a maioria das pessoas entende que houve gastos que tinham que ser feitos durante a pandemia para ajudar os trabalhadores, empresas, etc … Ninguém está a argumentar contra isso, mas seria aconselhável esperar até que a economia esteja totalmente recuperada antes de lançar novos programas caros”.

Chrystia Freeland na apresentação do orçamento afirmou: “A oportunidade está a chegar, o crescimento está a chegar, os empregos estão a chegar. Os canadianos estão prontos para recuperar”. Será assim?

John Kiru: “Acho que há muitos componentes no orçamento que nos preparam para uma forte recuperação e fundamentalmente mudam nossa economia para o crescimento – todos os apoios de negócios e investimentos que já mencionei, mas também programas sociais que apoiarão famílias e comunidades e criar empregos, como creches de $10 por dia, isso permitirá que os pequenos empresários voltem a administrar seus negócios mais rapidamente, sabendo que seus filhos/famílias são cuidados por um programa seguro e acessível. Muitos de nós da comunidade empresarial, bem como grupos de defesa da comunidade e organizações sem fins lucrativos em todo o país, temos defendido um progresso como este muito antes da pandemia. A recuperação económica eficaz não pode acontecer sem primeiro lidar com as questões sociais que enfrentamos em todo o país”.

Jasmin Guénette: “No Canadá, no momento, apenas 56% das pequenas empresas estão totalmente abertas e isso é bastante baixo; apenas 29% das pequenas empresas estão a fazer vendas normais, o que é bastante baixo. Seremos capazes de nos recuperar assim que as empresas forem totalmente reabertas e quando as pessoas puderem voltar a um modo de vida mais normal. Até lá, vai ser difícil”.

Catarina Balça/MS

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