O striptease da TAP
A pandemia veio agravar uma situação que, por si só, já não alcançava “altos voos” – longe disso.
O plano de reestruturação da TAP, que pretende “garantir a viabilidade e sustentabilidade da companhia no médio prazo”, contém algumas medidas “agressivas”, tais como o despedimento de mais dois mil trabalhadores e cortes salariais na ordem dos 20%. Sacrifícios a serem feitos para ir de encontro à intenção do Executivo: “salvar a TAP”.
O documento entregue à Comissão Europeia no dia 10 de dezembro – e que ainda carece de negociações entre Bruxelas e a capital portuguesa, não sendo portanto definitivo – não foi enviado ao Parlamento. A razão? Porque faz, nas palavras de Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e Habitação, “striptease” da TAP. Por outras palavras, põe a nú a empresa e a sua estratégia comercial – são dados de “máxima sensibilidade” que poderiam oferecer vantagens à concorrência. Ainda assim, o Parlamento teve acesso à informação mais relevante.
O ministro das Infraestruturas prevê a conclusão das negociações até março de 2021, sendo que a implementação do plano terá início logo de seguida.
PLANO DE REESTRUTURAÇÃO DA TAP
- 3 MIL MILHÕES DE EUROS
Será preciso muito dinheiro para pôr a TAP novamente em altos voos: nos próximos quatro anos, a companhia aérea receberá financiamentos até um valor na ordem dos 1,8 mil milhões de euros, provenientes de injeções de fundos públicos ou de garantias de Estado a novos empréstimos. A este valor somam-se 1,2 mil milhões de euros de ajudas em 2020.
- 2 MIL TRABALHADORES
Este é o número máximo de trabalhadores que estará de saída da empresa: seja pela não renovação de contratos a prazo, por despedimentos ou por reformas antecipadas. Tudo isto resultará numa poupança esperada para os próximos cinco anos de 1,4 mil milhões de euros. De notar que desde o início da pandemia, para além de ter colocado uma grande parte do seu pessoal em regime de lay-off, a TAP não renovou 729 contratos a termo.
- 20% DE CORTES SALARIAIS
Para quem fica vai haver redução nos salários – um corte progressivo (entre 20% e 25%). No entanto, em salários base até 900 euros não serão aplicados cortes. Ainda assim, a medida não convence os trabalhadores da empresa, que assumem que a fatia de trabalhadores que poderá não vir a ser afetada é muito reduzida. A partir dos 900 euros é aplicada uma taxa de 25% – ou seja, num salário mensal de 1000 euros, será aplicado um corte de 25% sobre 100 euros. Uma medida que “permite poupar entre 600 e 1.000 postos de trabalho”, assume Pedro Nuno Santos.
- 46% RETOMA EM 2021
Durante o próximo ano a companhia espera recuperar apenas 46% na procura, tendo como base o aumento do número de passageiros, para os seus principais mercados. Depois disso, o plano é, até 2025 e de forma gradual, recuperar até 94% dos níveis pré-pandemia. Todo este percurso pressupõe que as vacinas contra a Covid-19 serão distribuídas na segunda metade de 2021.
- PORTUGÁLIA
Ainda que seja parte do plano de reestruturação, Pedro Nuno Santos garante que a Portugália, com uma operação focada em voos de pequena distância e médio curso, não concorre com as low-cost. A TAP Express – denominação oficial -, é composta por aeronaves mais pequenas, que transportam menos passageiros e que têm menores custos que os dos aviões da TAP. Com o intuito de “reforçar a estratégia de alimentar o hub” (que permite ligações de longo curso) mas também para conseguir “operações mais competitivas a partir de outros aeroportos”, como Porto e Faro, a frota da Portugália duplicará – serão 26 aviões, portanto.
- 88 AVIÕES
Também a frota sofrerá cortes. Para além de “anular” as encomendas que havia feito, a TAP já começou a negociar a devolução de alguns aviões. A frota total da TAP passará de 108 para 88 aviões – ainda assim, segundo Pedro Nuno Santos, o plano não prevê a redução das rotas. “A expectativa é de que a TAP esteja a operar, no verão de 2021, o mesmo número de rotas que operava no verão de 2019”, assume. Até 2025 está previsto um aumento gradual do número de aviões.
- MIL MILHÕES DE EUROS DE PREJUÍZOS
Os primeiros nove meses do ano foram um verdadeiro pesadelo para a TAP: perdeu mais de 700 milhões de euros. Para tal muito contribuiu a pandemia, que provocou uma quebra de 70% no número de passageiros transportados. Mas poderá não ficar por aqui, tendo em conta o período de grande incerteza que vivemos – até ao fim deste ano, o prejuízo poderá atingir os mil milhões de euros.
- 2025
Para além do apoio de 1,2 milhões de euros a receber este ano, a TAP deverá receber no próximo ano entre 970 milhões de euros e 1.164 milhões de euros. Já em 2022 estes valores estarão entre os 473 milhões e os 503 milhões de euros e em 2023 entre os 379 milhões e os 438 milhões de euros. Finalmente, em 2024, as necessidades de financiamento estarão entre os 329 milhões e os 420 milhões de euros. Assim sendo, aponta-se para 2025 – o último ano do plano – a apresentação de resultados líquidos positivos
Inês Barbosa/MS
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