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O Reino Unido vai sair da Europa. E agora?

Um dia sairá. Um dia esta telenovela que tem tido o icónico Parlamento Britânico como cenário, com vários protagonistas, que vão sendo substituídos à medida que o desgaste da sua atuação política se torna incomportável… um dia acaba. E a saída do Reino Unido da União Europeia vai mesmo acontecer.

E depois? O que poderá acontecer? Desde logo à velha Europa, berço de países poderosos – Alemanha, França…-, mas também dos seus parentes pobres do sul, onde naturalmente se inclui Portugal.

Desde que os ingleses votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem mostrado reservas em relação ao processo, alertando para efeitos económicos e sociais que serão sentidos tanto nos países europeus como no próprio Reino Unido. O país deixa de ser abrangido por diversos acordos e regalias, como o controlo aduaneiro. O fecho de fronteiras ou a negociação de importações e exportações podem renascer. Quando o Brexit acontecer, o Reino Unido volta ao ponto zero e tudo tem de ser negociado novamente em acordos bilaterais com cada um dos países europeus. A circulação de bens e serviços vai estar sujeita a novas formalidades e burocracias que podem dificultar as exportações portuguesas, já que lhes tiram preferência. Portugal vai passar a concorrer de igual para igual com o resto do mundo, sem acordos especiais. Por outro lado, atualmente, o Reino Unido é o quarto maior investidor estrangeiro em Portugal, de acordo com os dados da CIP. Quando o Brexit acontecer, esta relação próxima entre os dois países pode ser influenciada por uma eventual desvalorização da libra (que se pode refletir numa perda de poder de investimento dos ingleses) e pelas dificuldades burocráticas acrescidas provocadas pelo fim dos acordos europeus. Há ainda um outro fator que poderá vir a afetar de forma muito significativa a economia portuguesa que é uma eventual diminuição da percentagem de britânicos a escolher Portugal como destino de férias se, como consequência do Brexit, os ingleses perderem poder de compra e deixarem de poder atravessar a fronteira livremente.

Como se já não bastasse o ambiente de tensão que no Reino Unido tem gerado divisões acentuadas e desorientação política e que terá inevitáveis consequências para a economia europeia e mundial, ainda há a insistência de Donald Trump em aquecer os motores da instabilidade económico-financeira com a guerrilha comercial com a China, com o Canadá a entrar também nesta equação de difícil resolução. No meio deste quadro, que tem tanto de confuso como de preocupante, ainda temos o Banco Central Europeu a insistir nas taxas de juros negativas como solução para todos os males. Faz lembrar aquele momento delicioso de trincarmos uma muito doce fatia de bolo – um minuto de prazer na boca, uma vida inteira na anca.

Neste momento, falar de uma nova crise económica à escala global é, no mínimo, precoce. Até pode ser considerada uma atitude irresponsável. No entanto, como gato escaldado de água fria tem medo, é natural que estejamos particularmente atentos e percebamos que, às tantas, vale a pena tomar algumas precauções.

Como muito bem lembrou José Luís Carneiro na entrevista que concedeu à Camões TV (que poderá ver sábado, dia 21, às 21h) todos temos que ter “consciência que as crises económicas e financeiras são cíclicas. Só para recordar os últimos 20 anos – tivemos uma crise muito forte nos finais da década de 90, depois tivemos uma outra crise grande por volta de 2005/2006 que também obrigou a um processo de ajustamento económico e financeiro e depois tivemos a crise de 2008/2009 que teve os efeitos que todos conhecem, nomeadamente, no sistema bancário e em todo o sistema económico internacional. Afetou a própria União Europeia e muito particularmente países como Portugal, Espanha, Grécia, Itália e Irlanda que viveram momentos muito difíceis. A Europa não estava preparada para fazer face a estes choques do ponto de vista económico e financeiro.”

A pergunta que se impõe é: depois de termos passado pelo que passámos, aprendemos alguma coisa? Portugal está mais estruturado para aguentar a pancada? José Luís Carneiro responde assim: “o facto de termos hoje um déficit próximo do zero é muito relevante porque efetivamente nós estamos, praticamente, a alcançar o equilíbrio. O equilíbrio significa nós não termos despesa superior às receitas do Estado e, pela primeira vez desde 25 de Abril, nós estamos com um déficit que está praticamente próximo do zero. O ideal é quando tivermos superavit porque aí vamos ter condições para amortizar a dívida pública que é um objetivo do governo. E como se tem visto de todos os partidos. É muito importante que todos os cidadãos individualmente, as empresas coletivamente e os Estados tenham a consciência de que não se pode viver acima daquilo que são as possibilidades de criação de riqueza. Isso é uma noção muito exata quer para nossa vida, quer para a vida das comunidades. É muito importante cultivar o sentimento de poupança porque o espírito de poupança é o espírito que se agrega e que se interliga com a autonomia individual, com a independência e com a liberdade de cada um”.

Uma mensagem importante para todos, independentemente da crise que alguns já pré-anunciam que, mais tarde ou mais cedo, vai voltar a abalar a economia mundial. E no Canadá, concretamente, a comunidade portuguesa aqui residente tem razões para se preocupar?

“De facto, há sinais que nos exigem um grande sentido de responsabilidade, mas não podemos esquecer que o Canadá é um grande país, com muitos recursos que será sempre um dos países líderes do mundo. É um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo, faz parte do G20, faz parte do G7. Por isso… se alguma coisa acontecesse no Canadá então Portugal e a própria Europa estariam a viver situações muito difíceis”.

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