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O pai e primeiro melhor amigo

Se no campo dos direitos da mulher ainda há muito por fazer, no campo dos direitos do pai também temos muito que melhorar. Porque é que se dá mais relevância ao Dia da Mãe do que ao Dia do Pai? Na minha opinião, ambos campanhas de marketing fantásticas para o nosso mundo consumista. Contudo, existe uma grande diferença na celebração de um e de outro, porque, a meu ver, desde o início que se trata o pai como uma figura secundária. Mesmo em questões legais, os filhos só são entregues aos pais em casos extremos.

Antigamente o pai era visto como o progenitor, a figura de respeito que mantinha uma certa distância emocional dos filhos, e cujo principal papel era o de garantir um teto e comida na mesa. Quando um casal tem um filho, raramente se pergunta como está o pai. E eu sei que nós mulheres é que temos de passar pela pior parte, mas para o pai também é uma experiência nova. E como se diz, e tão bem, ser pai não é apenas fazer. É criar e proteger. E ser pai é um trabalho a tempo inteiro e um bem cansativo. E ninguém espera pais perfeitos, já que nem nós somos filhos assim tão incríveis. Ser pai e ser filho é ensinar e aprender, e acima de tudo estar presente.

O meu pai tornou-se pai, pela primeira vez, aos 26 anos. O sonho era ter um menino, coisa que não se concretizou nem à segunda tentativa. Como ele diz, quando nasci já não era preciso teste de ADN. Herdei todos os defeitos do meu pai, desde o defeito na orelha ao “eu é que sei”.

Mas se pudesse escolher, não escolhia outros. Como filhos olhamos para o pai como um exemplo, pessoas que nos deviam guiar e agir sempre corretamente. Às vezes exigimos e esperamos demais, temos de lhes dar um desconto. Eles fazem o melhor que sabem, assim como nós.
Ter um pai como o meu é saber que temos sempre alguém para conversar, seja dos dramas da vida, das chatices do trabalho ou dos planos para o futuro, mesmo quando está cansado. Não me ensinou a andar de bicicleta, mas ia ver os meus jogos de futebol. E ter um pai como o meu é perceber que vai aproveitar todas as situações que pode para gozar connosco e, em troca, nós fazemos o mesmo. É saber que nos vai fazer o jantar quando estamos doentes ou quando temos outras coisas para fazer. É ter discussões porque nenhum dos dois sabe dar o braço a torcer. É não concordar connosco, mas apoiar-nos à mesma. É fazer muitas coisas que não gosta apenas porque sabe que nós gostamos.

Com o meu pai aprendi que devemos trabalhar muito para conseguirmos aquilo que queremos, mas que nunca devemos abdicar dos nossos valores em prol daquilo que podemos ter. Que devemos ser independentes, e que “aquilo que fizeres de bem para a tua vida melhor para ti e aquilo que fizeres de mal és tu que tens de lidar com as consequências”. Sempre me deixou espaço para fazer as minhas escolhas. Deixou-me ficar três anos em Portugal, mesmo quando não concordava, porque não quer que mais tarde lhe atire à cara que a minha vida podia ser diferente por causa dele. Smart move, não só dá um peso muito maior às nossas decisões como não temos ninguém para culpar sem sermos nós mesmos. Uma dica que vou guardar para usar no futuro quando for a minha vez.

E mesmo sem perceber e sem querer, influenciou muito a pessoa que sou hoje. O fundador da “equipa mau feitio, mas bom coração”, além de meu herói é também o meu maior fã. Tive muita sorte, não tenho só um pai, mas é também o meu melhor amigo.

O pai tem o poder de, quando somos crianças, construir a confiança de que somos bons da forma que somos e que podemos alcançar tudo o que queremos. Para mim, celebrar o dia do pai não interessa, assim como não interessa celebrar o da mãe. O que importa é estarmos sempre presentes. Acho que ainda hoje a sociedade é um bocadinho injusta com o pai, espera-se que ele arranje o sustento, mas não se reconhece todos os direitos emocionais que deveria ter. O que desejo a todos é que tenham e sejam pais presentes, que fazem o esforço mesmo que não sejam perfeitos. Num mundo tão incerto como aquele em que vivemos, não existe nada melhor do que saber que temos sempre alguém a torcer por nós. E se realmente existe a possibilidade de uma pessoa mudar o mundo, essa oportunidade começa quando se criam os filhos.

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