Temas de Capa

O nosso lema “Toronto Clean”

As minhas primeiras lembranças do inverno de 74, quando cheguei de Portugal e me mudei para a área de Davenport, têm a ver com o espanto de ver como os maiores nevões desapareciam na manhã seguinte.

Os bancos de neve entre os veículos estacionados tornavam-se o pano de fundo das nossas redes de hóquei e a fuga dos jogos de hóquei de rua era a norma, todos os dias, depois da escola. Equipas com nomes de ruas jogando contra outras equipas com nomes de ruas. O único momento de paragem seria a gritaria do ‘CAR’, pois parávamos para permitir que um veículo passasse. Rua Essex contra Pendrith ou Yarmouth era o mais normal. Nós adorávamos a emoção, os elementos naturais do inverno tão ruins quanto o LEAFS, naqueles anos magros de 70. Todos nós aspirávamos ser o próximo Darryl Sittler ou Borge Salming.

Muitas coisas que eram normais na altura e que hoje estamos desesperados por ter. Limpeza imediata de todas as estradas principais e (sim!…) até mesmo as ruas laterais. A remoção do lixo duas ou, até mesmo, às vezes, três vezes por semana fez ‘Toronto Clean’, que era o nosso lema da cidade na época. E as estradas, se exibiam ‘buracos’ devido às temperaturas extremas e à queda de neve do inverno, agravadas com o sal aplicado na sua superfície, eram rapidamente reparadas, entregando segurança aos motoristas e controlando os danos nos nossos veículos. Toronto era segura, Toronto tinha “programas orientados para o serviço social” que faziam sentido para todos e eram para todos e sim, mesmo os nossos representantes eleitos eram “muito ligados aos nossos bairros”…

A realidade no Inverno de 2019 é tão diferente. Os “perturbadores ventos” que nos fazem desejar um regresso a esses dias sentem-se de forma mais intensa já que vivemos um daqueles invernos que nos trazem recordações dos anos 70…

Saindo da mais recente eleição municipal em outubro passado, com uma redução forçada dos seus membros pela legislatura provincial do primeiro-ministro Ford, o nosso Conselho Municipal eleito e o presidente da Câmara, estão a experimentar níveis de maior controle, poder e acesso a decisões e resultados mais rápidos. É certo que hoje um vereador local representa “o dobro” dos seus eleitores e geografia, mas também tem recursos administrativos duplos e, na maioria dos casos, funcionários. Se esta cidade fosse “orientada para os resultados”, as frígidas rajadas de vento do inverno teriam sido confortadas com um manto de ação favorável dos serviços municipais.

A nossa realidade tornou-se composta pelos nevões que parecem permanecer durante dias; a recolha de lixo que cria um odor sem fim e condições desfavoráveis porque se acumula e derrama nas nossas ruas e passeios, os enormes buracos que surgem em todas as grandes ruas e vias férreas, para não falar da grelha de tráfego que as pistas de bicicletas criaram. Os programas de Serviço Social são intermináveis e menos eficazes, pois parecem servir apenas à exigência dos “membros do conselho orientados pela esquerda” e não à necessidade da cidade, onde em tempos tivemos tanto orgulho de residir. A escalada dos preços da habitação e o desenvolvimento constante, desde 1997, entregou milhões aos “cofres da cidade”. Não deveríamos esperar, então, uma ação mais rápida, melhores serviços e uma circulação mais suave em toda a cidade?
Como anseio pelo Inverno de 74, quando a nossa cidade era “Toronto Clean”…

José Maria Eustáquio

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