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Núcleo de Ontário dos Ex-Combatentes estava a preparar uma das maiores participações de sempre na Parada do Dia de Portugal

O presidente do Núcleo de Ontário dos Ex-Combatentes estava preparado para desfilar na sua quinta Parada do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em Toronto, naquela que seria uma das maiores participações deste núcleo nesta Parada, mas a pandemia obrigou a cancelar todos os planos. Nascido em Moçambique, país onde lutou na Guerra Colonial, Armando Branco recusa comparações entre a guerra e a pandemia e não tem dúvidas de que os portugueses vão superar este período conturbado da história coletiva.

O presidente do Núcleo dos Ex-Combatentes de Ontário, Armando Branco, o primeiro à esquerda

Milénio Stadium: Que significado é que o 10 de junho tem para um ex-combatente?

Armando Branco: É o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Os ex-combatentes foram destacados para lutar na linha da frente e segurar as trincheiras até à última gota de sangue. Demos o nosso melhor na Guerra Colonial e o processo de descolonização não correu bem. Embora muitos ex-combatentes guardem traumas, continuamos a ter muita honra na celebração do 10 de junho.

Este ano estávamos a preparar uma grande participação na Parada. Entre ex-combatentes residentes em Ontário e membros da Royal Canadian Navy devíamos ter um desfile entre 80 e 100 pessoas. Estávamos a contar com pelo menos meia dúzia de carros de combate. Mas a pandemia alterou tudo, inclusive as celebrações do nosso 18.º aniversário que deveriam ter acontecido a 4 de abril. O lançamento do novo número da nossa revista anual também foi adiado e esperamos conseguir lançá-la em outubro na altura em que recordamos no cemitério Glen Oak Memorial Garden, em Oakville, os nossos companheiros de guerra já falecidos.

MS: Como é que devemos celebrar a data este ano?

AB: No 10 de junho vamos recordar o dia do nosso país e os bons momentos que passámos com os ex-combatentes. Vamos celebrar a nossa cultura e a nossa identidade, um povo que sempre provou ser resiliente e que sempre enfrentou as adversidades. Quero deixar aqui uma mensagem para os nossos membros e para os portugueses em geral: espero que tenham um Dia de Portugal feliz e que enfrentem o pós-pandemia com calma e com força. Deixo um abraço a todos os que acompanham o Milénio Stadium.

MS: A pandemia de COVID-19 tem sido comparada a uma guerra. Qual é a sua opinião?

AB:  Esta guerra é biológica, ainda não sabemos como surgiu e embora existam muitas teorias da conspiração, ainda não está nada provado. Mas, na minha perspetiva, como ex-combatente que lutou na Guerra Colonial em Moçambique, acho que os efeitos psicológicos são diferentes. Na guerra não vivíamos em confinamento como na pandemia, tínhamos uma vida normal depois dos combates. Para além disso o conflito estava limitado a um determinado local ou país. A pandemia é um fenómeno mundial que está a acontecer ao mesmo tempo em vários países do mundo. Mas acredito que o pós-pandemia faça emergir problemas psicológicos sérios numa escala muito grande.

MS: O racismo está agora na ordem do dia e vários países sublinham que ninguém está imune a este fenómeno.  Em África como era a relação entre brancos e pretos?

AB:  Eu nasci em Moçambique e tenho grandes amigos moçambicanos. Combati 47 meses, três dias e cinco horas na Guerra Colonial, mas em África não tínhamos este problema. Os brancos e os pretos tinham uma boa relação e respeitávamo-nos uns aos outros.

MS: Que comunidade portuguesa é que vai emergir no pós-pandemia?

AB: A nossa comunidade portuguesa já estava distante e desintegrada antes da pandemia. Somos muito críticos e as críticas acabam por destruir projetos e fazem com que alguns dos nossos voluntários percam a vontade de criar novos projetos. A falta de financiamento vai afetar todos, inclusive a comunidade portuguesa e talvez alguns clubes não sobrevivam.

MS: As parcerias do Núcleo foram canceladas devido à COVID-19?

AB: Felizmente o Bento de São José cedeu um espaço gratuito para o Núcleo dos Ex-Combatentes de Ontário ter uma sede, mas todos os nossos projetos estão suspensos. Estávamos a preparar uma parceria com a Casa das Beiras e a Casa do Alentejo para que os nossos ex-combatentes tivessem um centro de convívio e tínhamos uma parceria com a LiUNA que ia permitir apoiar alguns ex-combatentes nas suas deslocações aos hospitais. Não está nada cancelado, digamos que estão apenas suspensas temporariamente. Agora vamos ter de aguardar pelo regresso à nova normalidade. Temos 800 membros, mas em Ontário devemos ter entre 20,000 e 24,000 ex-combatentes portugueses. Quando voltarmos a reunir vamos preparar o programa de atividades para 2021, porque 2020 já foi…

Joana Leal/MS

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