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Millenials – A nova emigração

Procurar uma vida melhor noutro país, que não aquele que nos viu nascer, não é algo novo. Deixar para trás o conforto e a realidade que nos cimenta as ruas da vida, tem sido uma opção tomada por várias gerações. No entanto, serão os sonhos, os motivos, os objetivos os mesmos? Apesar da determinação ser semelhante, a emigração dos millennials parece ter traçado horizontes diferentes.
Na edição do jornal Milénio Stadium desta semana, falámos com jovens portugueses que emigraram não há muitos anos, e que saíram de Portugal com o bolso também cheio de nada, mas – na sua maioria – com anos investidos em educação na mala. A perspetiva de vida é outra, os interesses são outros, e hoje tentamos trazer-vos um pouco dessa nova realidade.

 

Qual a tua formação académica?
Sou Mestre em Ciências de Engenharia Química.

Para onde emigraste?
Para Áustria (Viena).

O que te levou a emigrar?
A situação do nosso país após a crise de 2009 não levou a que houvesse grandes oportunidades decentes, com ordenados decentes.

O que te levou a escolher o país para o qual decidiste emigrar?
Não foi bem escolher, simplesmente candidatei-me (assim como me candidatei para vários outros países) e consegui ficar.

O que fazes aí nos tempos de lazer?
Depende. Antes de ter filhos saía à noite, jantares com amigos, cinema. Agora após filhos uma simples ida ao ginásio é lazer, mas volta e meia também vou ao cinema ou janto com amigos.

Envolves-te em atividades/eventos da comunidade portuguesa aí presente?
Já me envolvi mais. No início criámos o grupo Portugueses em Viena, onde organizávamos eventos como jantares, jantares de natal num dos restaurantes portugueses existentes, etc.

Sentes que procuras mais atividades/eventos portugueses aí ou estás envolvida com o país que te acolheu de tal forma que procuras outro tipo de dinamismos, com outras culturas?
Nem um nem outro. A maioria dos nossos amigos são sim portugueses. Ir a algum evento austríaco torna-se um bocado complicado por causa da língua (alemão) ou por nunca sentir que és realmente parte da sociedade austríaca.

Achas que a emigração de hoje é diferente da de há umas décadas atrás? Porquê?
Sim. Há umas décadas atrás era outro tipo de mão de obra. Agora estamos perante uma onda de mão de obra especializada e com estudos superiores, que simplesmente emigrou porque o nosso país não criou oportunidades para a aproveitar.

Que importância tem o Dia de Portugal para ti, agora que vives longe do teu país de origem? Celebras o 10 de Junho de alguma forma?
É um dia como o outro, visto nunca haver eventos importantes relacionados com o dia.

O que sentes mais falta de Portugal?
A comida, a praia, os amigos e a amabilidade das pessoas.

Qual a tua formação académica?
Sou licenciada.

Para onde emigraste?
Para Londres, UK em 2014.

O que te levou a emigrar?
Desde sempre tive como objetivo pessoal chegar aos 30 e ser uma mulher independente a viver fora de casa dos pais.

O que te levou a escolher o país para o qual decidiste emigrar?
Surgiu uma oportunidade de trabalho imediata e não pensei duas vezes – sendo filha de emigrantes tive a sorte e todo o apoio dos meus pais.

O que fazes aí nos tempos de lazer?
Visitar diversos parques e espaços verdes, ir museus e musicais. Adoro também experimentar diferentes tipos de gastronomias.

Envolves-te em atividades/eventos da comunidade portuguesa aí presente?
Sim, no Dia de Portugal durante os últimos anos e nos festejos da Seleção Portuguesa e do Sport Lisboa e Benfica.

Sentes que procuras mais atividades/eventos portugueses aí ou estás envolvida com o país que te acolheu de tal forma que procuras outro tipo de dinamismos, com outras culturas?
Diria que é q.b. Apesar de adorar ser portuguesa e tudo o que rodeia a nossa cultura, também adoro explorar, conhecer e vivenciar a cultura inglesa, junto dos amigos ingleses que fiz ao longo dos anos.

Achas que a emigração de hoje é diferente da de há umas décadas atrás? Porquê?
Sem dúvida. O emigrante de hoje não tem nada a ver com o emigrante de há 20 anos atrás – que se emigrava para poupar, construir uma grande casa em Portugal para um dia voltar e/ou se exibir durante as férias de verão, quando visitam Portugal. Hoje em dia emigramos – pelo menos falo por mim – para ter mais qualidade de vida, para poder viajar e viver experiências diferentes, mas acima de tudo para crescermos.

Que importância tem o Dia de Portugal para ti, agora que vives longe do teu país de origem? Celebras o 10 de Junho de alguma forma?
Claro que celebro! Por norma vou para Stockwell, conhecido como “Little Portugal” onde se ouve a música Portuguesa na rua e sente-se o cheiro das sardinhas na brasa… Isto tudo ajuda a matar a saudade de casa.

O que sentes mais falta de Portugal?
Dos meus pais e do mar.

Qual a tua formação académica?
Marketing e Publicidade.

Para onde emigraste?
Para Barcelona, Espanha.

O que te levou a emigrar?
O “lifestyle” da cidade e a área onde queria trabalhar (street fashion).

O que te levou a escolher o país para o qual decidiste emigrar?
Ter feito Erasmus (um programa da União Europeia que permite intercâmbio de alunos entre várias universidades) no último ano do curso.

O que fazes aí nos tempos de lazer?
Estar com amigos, ir a concertos, ler, meditar, apanhar sol, desporto, ir para fora da cidade…

Envolves-te em atividades/eventos da comunidade portuguesa aí presente?
Não.

Sentes que procuras mais atividades/eventos portugueses aí ou estás envolvida com o país que te acolheu de tal forma que procuras outro tipo de dinamismos, com outras culturas?
Não procuro atividades portuguesas… Claro que tenho orgulho em ser portuguesa, mas não vejo a necessidade de procurar este tipo de eventos ou ambientes. Não tenho necessidade de pertencer a um grupo, mesmo que esteja relacionado com a minha nacionalidade.

Achas que a emigração de hoje é diferente da de há umas décadas atrás? Porquê?
Sim. Principalmente pelo facto de se poder viajar rapidamente a um custo relativamente baixo e porque as novas tecnologias permitem um contacto constante, ainda que não seja físico.

Que importância tem o Dia de Portugal para ti, agora que vives longe do teu país de origem? Celebras o 10 de Junho de alguma forma?
Não o celebro. Tenho carinho pelo país onde nasci e amo as minhas raízes, mas para mim todos somos iguais independentemente da raça, etnia ou nacionalidade. Como mencionei antes, não tenho o sentimento de pertença que me faça querer celebrar esta data.

O que sentes mais falta de Portugal?
Os meus pais.

Qual a tua formação académica?
Mestrado em Educação Física nos ensinos básico e secundário.

Para onde emigraste?
Emigrei em 2018 para a Itália.

O que te levou a emigrar?
Em primeiro lugar em Portugal não tinha colocação numa escola como professor de Educação Física, então estava desde 2012 a trabalhar em ginásios como personal trainer e group trainer. Trabalhei também como produtor numa empresa de comunicação e, nunca fui de estar parado e mesmo fora da minha área de formação, procurei sempre mais e melhor. Estive também durante alguns anos ligado a uma associação de nadadores salvadores na qual trabalhava durante os verões. Em segundo lugar, e talvez o ponto mais forte que me levou a procurar fora, foi a falta de um contrato que me permitisse ter estabilidade, pois na sua maioria os ginásios em Portugal funcionam com recibos verdes. Então decidi arriscar e começar a procurar fora, algo totalmente diferente de todas as áreas a que estava habituado. Candidatei-me online para a companhia aérea Ryanair, fui selecionado para o curso e desde então sou Comissário de Bordo.

O que te levou a escolher o país para o qual decidiste emigrar?
A escolha do país não foi feita por mim, mas tive a sorte de ser colocado em Itália, em Milão, e sinceramente sempre foi um país pelo qual tive curiosidade. A seleção automática por parte da empresa não foi nada má no meu ponto de vista.

O que fazes aí nos tempos de lazer?
Uma vez que tenho essa oportunidade, tento viajar o mais que posso e conhecer sempre novas cidades e países. Milão, muito sinceramente, não é de todo uma cidade com a qual me identifico – utilizo mais a cidade em dias de trabalho. Fora isso como disse estou sempre a viajar.

Envolves-te em atividades/eventos da comunidade portuguesa aí presente?
Muito sinceramente não e nem sei se existe uma comunidade portuguesa aqui.

Sentes que procuras mais atividades/eventos portugueses aí ou estás envolvido com o país que te acolheu de tal forma que procuras outro tipo de dinamismos, com outras culturas?
O pouco que faço por Itália, tento ao máximo envolver-me com a cultura italiana, mesmo quando procuro restaurantes tento sempre que sejam de gastronomia local, não só em Itália como nos países que vou visitando. A cultura portuguesa continua a fazer parte de mim, mas mais em casa e quando visito Portugal – algo que acontece também com bastante regularidade.

Achas que a emigração de hoje é diferente da de há umas décadas atrás? Porquê?
Acho que neste momento a emigração é mais complicada, porque há muita gente que a procura e, então, a entrada nos países já não é tão facilitada. E principalmente em Itália – aqui só para nós e para todos os que estão a ler, os italianos não gostam muito de estrangeiros… (risos)

Que importância tem o Dia de Portugal para ti, agora que vives longe do teu país de origem? Celebras o 10 de Junho de alguma forma?
Acho que nem durante os 27 anos que vivi em Portugal o festejava, apenas ficava contente por ser feriado… (risos) Obviamente agora acabo por ficar contente com os feriados que existem em Itália, mas não os festejo por causa do Santo ou da ocasião pela qual existem. Nunca liguei muito a isso. O único feriado que festejava o seu propósito sempre foi o 25 de Abril, talvez por envolver sempre eventos desportivos nas celebrações do “Dia da Liberdade” na minha zona.

O que sentes mais falta de Portugal?
Disse que não procurava a cultura portuguesa, que mesmo restaurantes procurava de gastronomia local, mas o que mais falta sinto de Portugal é mesmo isso. Mas como acho que Portugal tem um encanto tão especial e um dinamismo tão diferente dos outros países, não seria a mesma coisa tentar revivê-los fora dele. Sinto falta da minha família, sinto falta dos meus amigos, sinto falta da qualidade de vida mesmo que com pouco trabalho, do hábito do café com amigos todos os dias, da comida da minha mãe e do conforto que era viver com os meus pais. Mas obviamente aqui e com a estabilidade que consegui ter, já não troco facilmente isto pelo passado, e continuo a visitar Portugal regularmente para que possa “matar” as saudades disto tudo.

Qual a tua formação académica?
Tenho o 12.º ano de escolaridade.

Para onde emigraste?
Vim para Londres, Reino Unido.

O que te levou a emigrar?
A possibilidade de tirar um curso universitário, num país diferente, com uma cultura diferente e, acima de tudo, um país com oportunidades.

O que te levou a escolher o país para o qual decidiste emigrar?
Fui influenciado, pela positiva, por uma companhia/organização do sul de Portugal que ajudava e, creio que continua a exercer as mesmas funções de apoio, a estudantes nacionais que queiram tentar um futuro universitário fora do nosso país.

O que fazes aí nos tempos de lazer?
Acima de tudo aproveito para organizar as coisas pendentes do dia-a-dia, devido à instabilidade de horários… As folgas rotativas e/ou turnos longos, levam-me a planear a minha semana consoante o horário de trabalho que me for dado. Aproveito também para passear bastante, muitas das vezes sozinho e é dos momentos que mais aprecio, relaxo e preparo-me para os restantes dias de trabalho. Por fim, mas não só, gosto de reencontrar ex-colegas de trabalho com quem construí uma amizade e, sempre que possível, vamos beber umas cervejas e dar umas gargalhadas que ajudam a reviver tempos antigos e a relaxar também… Creio que este último ponto acaba essencialmente por me ajudar a “ultrapassar” as saudades das amizades verdadeiras que mantenho no nosso país, Portugal.

Envolves-te em atividades/eventos da comunidade portuguesa aí presente?
(In)Felizmente não… Não por falta de oportunidade, apenas por não concordar com vários aspetos que dizem respeito à forma como a comunidade portuguesa, em alguns casos, se inseriu ou está inserida na sociedade – no meu caso, em Londres.

Sentes que procuras mais atividades/eventos portugueses aí ou estás envolvido com o país que te acolheu de tal forma que procuras outro tipo de dinamismos, com outras culturas?
Sinceramente, e após quase seis anos fora do nosso país, foram muito poucas, para não dizer raras, as vezes em que estive envolvido em algum evento que diga respeito à cultura portuguesa. Com todo o respeito, mas volto a repetir que não concordo com bastantes posturas da nossa comunidade nesta sociedade. Mas ao mesmo tempo quero deixar bem claro que apoio e marco presença sempre que possível, num espaço de cultura ou convivência onde a língua portuguesa, comida e bebida é partilhada! Simplesmente prefiro ficar do lado de fora, do que me envolver diretamente.
Relativamente a outras culturas, e vivendo numa cidade como a de Londres, é quase impossível passar ao lado de diferentes costumes e ideias, e sem dúvida alguma que gosto de explorar outras culturas, acima de tudo a através da gastronomia. E por esta altura já devem ter percebido que Museus e exposições não são o meu forte, mas uma cerveja do leste da Europa ou uma boa refeição sul americana já fazem parte dos meus hobbies!

Achas que a emigração de hoje é diferente da de há umas décadas atrás? Porquê?
Sem dúvida que a emigração de hoje é diferente da comunidade que emigrou nos anos 60, 70, 80 e até mesmo 90!
Partindo de uma opinião pessoal, e espero que seja interpretada da melhor forma possível… o emigrante que há umas décadas deixou Portugal em busca de algo melhor, teve sempre como objetivo principal a poupança – amealhar o que fosse possível para conseguir ter, talvez, uma boa casa, para um dia desfrutar da reforma ou conseguir ter e proporcionar aos seus uma vida digna e sem a angústia que se vive hoje em dia quando chega o dia de pagar as contas em casa ou ter que estabelecer prioridades relativamente às despesas da família .
A emigração hoje em dia, e sem estar a generalizar, dá-se em grande parte à falta de oportunidade que os nossos países infelizmente não conseguem ou não querem dar, mas também se dá devido ao espírito aventureiro e lutador de que estas gerações de 2000 tiveram e têm vindo a demonstrar ter. Acredito que não temos medo de fazer as malas e deixar para trás, por tempo infinito ou sem viagem de regresso programada, aqueles que nos acolheram desde sempre e que nos guiaram até ao ponto em que tivemos que pensar e decidir: será melhor conformarmo-nos com o que nos é oferecido ou será melhor arriscar? Porque na verdade, se não arriscarmos nunca iremos saber o que está para além da nossa zona de conforto.
Acima de tudo, acredito que é esta a marca da geração mais recente de emigrantes – o não ter medo de sair da zona de conforto e arriscar.

Que importância tem o Dia de Portugal para ti, agora que vives longe do teu país de origem? Celebras o 10 de Junho de alguma forma?
Para muitos leitores, isto vai soar a errado, muito errado! Mas o único dia ao qual realmente dou importância, enquanto português, é o nosso 25 de Abril. Com todo o respeito, os restantes dias de festejo oficial do nosso país não me atraem.

O que sentes mais falta de Portugal?
Bem, isto é quase como aquela pergunta do Daniel Oliveira – “O que dizem os teus olhos?”… Sinto falta dos amigos, os que o são e nunca o deixaram de ser, da família e do conforto de quem nos criou e daqueles pequenos detalhes como um café ( vá , cerveja pronto ! ) ao final da tarde ou ao fim de semana com aquele(s) amigo(s)… Das gargalhadas em conjunto. De resto, e no meu caso, aprendemos a lidar com a saudade e com a distância.

Catarina Balça

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