Magellan Community Care vai ter capacidade para 320 idosos
Os seniores de origem portuguesa vão ter um centro de apoio à terceira idade que deverá ser inaugurado em outubro de 2022. O Magellan Community Care vai nascer no 640 da Lansdowne Avenue, no ano em que se comemoram os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, um dos maiores navegadores portugueses.
Deste modo, aquele que será um dos momentos mais importantes da história da comunidade luso-canadiana ficará para sempre associado a um dos mais simbólicos feitos da História da nação portuguesa.
A necessidade de corresponder às exigências decorrentes do crescente envelhecimento da comunidade é sentida há já muitos anos. No momento da apresentação oficial do projeto Magellan à comunicação social, na passada quarta-feira (9 de outubro) Charles Sousa teve ocasião de recordar que “há vários anos atrás muitos tentaram fazer alguma coisa que honrasse os mais velhos e lhes desse o cuidado e carinho que eles merecem. Por várias razões, nunca foi possível”. No entanto, como afirmou Ana Bailão, “desta vez as estrelas alinharam-se” e foi possível avançar com este projeto. Como recordou John Peter Ferreira “o peso político que a comunidade tinha há cerca de um ano e meio atrás foi determinante para se chegar ao ponto em que estamos hoje – por um lado com Charles Sousa à época Ministro das Finanças e por outro, com Ana Bailão, a ainda hoje vice-presidente da Câmara Municipal de Toronto. É bom que se sublinhe que sem eles, nada do que hoje estamos a apresentar existiria”.
A possibilidade de candidatura às licenças para abertura de um Centro desta natureza associada ao plano de Affordable Housing da Câmara de Toronto abriram as janelas de oportunidade que o grupo de membros fundadores soube aproveitar.
A candidatura foi feita em tempo recorde e foi aceite. O terreno foi cedido pela Câmara Municipal de Toronto, em regime de aluguer por 99 anos, (pela quantia simbólica de um dólar por ano, o que perfaz o total de 99 dólares). O município de Toronto compromete-se ainda a construir uma área verde e unidades de habitação acessível. O espaço vai ter capacidade para 320 idosos e a última fase do projeto passa pela construção de um centro comunitário com vários serviços, como, por exemplo, farmácia, oculista e creche.
Na conferência de imprensa, os membros do conselho de administração do Magellan Community Charities sublinharam o caráter de associação sem fins lucrativos desta organização, reforçando que, ao contrário do que alguns podem pensar, todos os membros do Board são voluntários.
Naquele que virá a ser o primeiro centro de cuidados de longa duração da comunidade luso-canadiana a cultura portuguesa vai ter um especial enfoque, de forma a que os idosos se sintam mais à vontade, uma vez que a grande maioria não domina a língua inglesa. No futuro os programas de atividades incluirão entre outras atividades: a cozinha tradicional portuguesa, trabalhos manuais, aulas de culinária, sessões de cinema, exercício físico, workshops e aulas de informática.
O projeto está em já em pleno andamento, com um plano de execução bem delineado e com profissionais que a ele se dedicam a tempo inteiro, como é o caso da diretora executiva do Magellan Community Charities – Sara Dias, uma luso-canadiana com uma vasta experiência nesta área e Richard Ramos, Project Manager. Do Conselho de Administração fazem parte nomes bem conhecidos da comunidade portuguesa, nomeadamente: Jack Prazeres, Manuel DaCosta, John Peter Ferreira (membros fundadores), Charles Sousa, Irene Faria, Elisabeth Mendes e Ulysses Pratas.
Na ocasião, Manuel DaCosta reforçou a importância do momento, confessando até algum nervosismo de todos, que se compreende dado o facto de este ser um projeto há muito aguardado. Sublinhou a necessidade da casa que se vai construir para a comunidade portuguesa residente no Canadá, cada vez mais envelhecida e lembrou que agora é tempo de todos se envolverem e participarem ativamente neste projeto, “já que esta casa é de todos nós e precisa de todos. Todos são necessários para tornar este sonho realidade”.
Conceito e design
O novo Centro é caloroso e acolhedor em conceito e design. O segundo e terceiro andares irão acomodar as 60 unidades de vida assistida, a preços acessíveis. Entre os pisos quatro a sete funcionarão 256 unidades de longa permanência. As unidades de cuidados de longa duração serão agrupadas em oito grupos, oferecendo aos moradores comunidades menores e agradáveis para desfrutar de atividades diárias e fazer amizades.
O piso térreo incorporará espaço compartilhado tanto para os cuidados de longo prazo, quanto para os residentes de habitações acessíveis, estendendo as boas-vindas à comunidade em geral. Este “Centro Comunitário” será usado para apoiar programas recreativos, educacionais e culturalmente focados. Os princípios orientadores para este espaço não residencial são a inclusão e o alcance da comunidade.
A construção do Magellan Community Care arranca no início de 2020 e para que o sonho seja realidade são necessários $85,000,000.
Charles Sousa, ex-Ministro das Finanças de Ontário
Milénio Stadium: Como é que construiu esta equipa?
Charles Sousa: Quando estive no governo tentei sempre aumentar as licenças nesta área e felizmente consegui 5,000. Mas estas licenças são diferentes porque são cultural sensitivity, isto é, vamos poder ter uma casa em que se fale português, com comidas e tradições típicas de Portugal.
O John Peter Ferreira tinha os conhecimentos legais e o Jack Prazeres e o Manuel DaCosta já queriam contruir uma casa deste género há muito tempo. Unimos as vontades, tivemos várias reuniões e foi assim que surgiu o projeto. Mas a nossa direção também tem mulheres e temos pessoas de Toronto e não só.
Milénio Stadium: Sendo filho de um dos pioneiros portugueses, este projeto é histórico?
Charles Sousa: O meu pai veio para o Canadá em 1952 e a minha mãe veio em 1954, mas eles sempre tiveram o cuidado de manter as tradições portuguesas. Eles ensinaram-me a contribuir e a ter orgulho nas minhas raízes. O Magellan vai elogiar os fundadores da comunidade portuguesa e vai ter um grande impacto na sociedade canadiana e na província de Ontário.
Milénio Stadium: Não é um espaço só para a terceira idade.
Charles Sousa: É um projeto grande, com cerca de um acre de área [4046.86 m2], que vai servir os idosos e não só. A segunda fase prevê a construção de algumas valências que vão ser úteis para toda a comunidade, como por exemplo uma farmácia, um oculista e uma creche.
Milénio Stadium: A comunidade tem que estar unida?
Charles Sousa: Temos a obrigação de nos unirmos, devemos isso aos nossos pioneiros e aos nossos filhos. Caso contrário um dia eles vão acusar-nos de não termos feito nada para preservar a cultura portuguesa neste país.
Este projeto não é meu nem de nenhum dos elementos da nossa direção, é um projeto de todos. A nossa página é http://magellancommunitycharities.ca e lá vão encontrar toda a informação sobre o Magellan. Agradeço a dedicação desta direção e peço à comunidade que colabore connosco.
Ulysses Pratas, responsável pela angariação de fundos
Milénio Stadium: Este sonho era muito antigo. Porque é que demorou tanto tempo até este projeto passar do sonho à realidade?
Ulysses Pratas: É difícil responder a essa questão, mas obter licenças para long term care não é fácil. Nesta última ronda de concessão deste tipo de licenças a comunidade portuguesa foi comtemplada e talvez há 30 anos esta oportunidade não existisse. Mas acho que hoje a nossa comunidade está mais madura e por isso está mais disposta a contribuir para este tipo de projeto.
Milénio Stadium: Como é que surgiu o convite para fazer parte da direção do Magellan Community Charities?
Ulysses Pratas: Conheço bem os outros elementos da direção e depois de algumas conversas acabei por aceitar. Tenho muito orgulho em ser luso-canadiano e por isso é um prazer fazer parte deste projeto.
Milénio Stadium: Como é que vão angariar $85,000,000?
Ulysses Pratas: Existem sobretudo duas fases: empréstimos bancários e doações. O apoio da comunidade é fundamental e vamos tentar captar fundos junto de empresas e dos vários níveis de governo.
Milénio Stadium: A direção está prestes a finalizar o projeto.
Ulysses Pratas: Tivemos algumas dificuldades no início, mas agora estamos a finalizar negociações com algumas agências e bancos. Tenho esperança que consigamos chegar a um acordo e depois vamos arrancar com uma campanha de angariação de fundos junto da comunidade.
Ana Bailão, vice-presidente da Câmara Municipal de Toronto
Milénio Stadium: Como responsável pela pasta da habitação acessível da Câmara Municipal de Toronto, sente que este é um passo importante?
Ana Bailão: É um projeto importante porque é especial para a área que represento e como luso-canadiana não podia estar mais satisfeita. Para além disso acho que deve ser um motivo de muito orgulho para a autarquia.
Milénio Stadium: É a primeira vez que a Câmara Municipal de Toronto cede um terreno para construir uma valência para a terceira idade.
Ana Bailão: Nós fazemos muitos projetos para habitação acessível e este é mais um projeto para esse fim. No entanto, neste caso concreto, o Magellan vai ser maioritariamente para idosos. A autarquia reconheceu que, de facto, precisávamos de mais casas deste género na baixa da cidade, até porque temos perdido algumas.
Nesta área existe uma grande percentagem de população portuguesa idosa e achámos que seria uma mais-valia para a comunidade local e para a cidade. Este terreno estava desocupado há muitos anos e agora vai ser bom vê-lo finalmente ocupado.
Milénio Stadium: Porquê este terreno e não outro qualquer?
Ana Bailão: O Magellan vai servir sobretudo a comunidade portuguesa e esta área tem um número significativo de residentes portugueses, e por isso achámos que fazia sentido esta localização.
Milénio Stadium: A autarquia também vai avançar com a construção de uma área verde.
Ana Bailão: Nesta área não temos um número suficiente de espaços verdes e achámos que fazia sentido criar mais um para que as pessoas pudessem passar mais tempo ao ar livre. A área vai servir os novos residentes do Magellan e as pessoas que já moram na área. Acho que vai ser bom para toda a comunidade.
Milénio Stadium: Uma parte do imóvel vai ser alugado à Metrolinx.
Ana Bailão: Eles vão construir uma obra muito grande e estavam à procura de um local para criar um gabinete de apoio para a obra. O dinheiro do aluguer vai ser pago à autarquia e já decidimos que essa verba vai ser utilizada na construção da área verde e na construção da habitação.
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