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Grupos anti-máscara e anti-vacinação estão a crescer

Até terça-feira (25) 124,896 pessoas contraíram a COVID-19 no Canadá, 61,673 no Quebec e 41,402 no Ontário. A nível nacional 9,073 pessoas morreram devido à COVID-19 e 111,112 casos foram considerados resolvidos. Embora as últimas projeções indiquem que os números da segunda vaga de COVID-19 poderão ser piores do que a primeira, as autoridades de saúde nacionais defendem que agora o país está mais bem preparado para enfrentar uma segunda vaga do que em março, quando a pandemia chegou ao país.

O Canadá está a produzir mais PPE (equipamento de proteção individual) e em breve deverá ser autosuficiente, prova disso são os esforços que os dois níveis de governo têm feito para ajudar as empresas a converterem-se para produzirem máscaras, gel desinfetante, luvas e outros equipamentos de proteção individual.

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Infographic by Canada Statistics.

 

O país aumentou também a capacidade de testes à COVID-19, limitou as concentrações públicas, instituiu a nova norma de distância social de dois metros, fechou a fronteira com os Estados Unidos da América para viagens não essenciais e implementou a quarentena obrigatória para todos os habitantes que viajem e depois regressem ao Canadá. As máscaras N95 estão a ser reservadas para os profissionais da saúde e a população em geral é aconselhada a utilizar máscaras não-médicas sempre que não seja possível cumprir com a distância física. Em espaços públicos fechados grande parte dos municípios tornou o uso da máscara obrigatório.

Na semana passada a nova ministra das Finanças, Chrystia Freeland, acompanhada pela ministra do Emprego, Carla Qualtrough, anunciaram que o Governo federal, em conjunto com os governos provinciais e territórios, vai apoiar financeiramente quem contrair a COVID-19 e tiver que faltar ao trabalho. O apoio é de $500 semanais e é válido até 10 dias.

Embora a vacina para a COVID-19 ainda não exista no mercado, o Governo canadiano já assegurou milhares de doses para que quando os laboratórios encontrem a fórmula o país esteja na linha da frente para receber as doses. Mas nos últimos meses os grupos anti-máscara e anti-vacinação têm vindo a crescer em todo o país. Os grupos conquistam novos membros nas redes socias e espalham a sua mensagem pelos vários seguidores. Alguns têm organizado manifestações públicas em várias províncias canadianas. Antes da COVID-19, os grupos anti-vacinação faziam falsas alegações de que o sarampo, uma doença séria que pode ser evitada através de uma vacina, não era uma grande ameaça. Uma consequência dessa desinformação foi uma diminuição na toma da vacina, que levou a um reaparecimento de casos de sarampo no Canadá, quando a doença tinha sido declarada eliminada em 1998.

Mathew Carias, um luso-canadiano candidato a doutoramento em Medical Biophysics na Universidade de Toronto e investigador assistente no Sunnybrook Health Sciences Center, defende que não existem razões para não usar uma máscara não-médica. Em entrevista ao programa “Here’s the thing” da Camões TV, conduzido pelo empresário Manuel DaCosta, o investigador diz que concorda com o uso obrigatório de máscara em espaços fechados e defende que não existem razões para não querer colocar uma máscara porque é um tipo de equipamento de fácil utilização. Carias acredita que a fronteira com os EUA deve continuar encerrada para viagens não essenciais e sustenta que a quarentena deve continuar a ser obrigatória no regresso ao país. “Sei que alguns críticos defendem que a quarentena devia ser avaliada de acordo com o local de residência do passageiro, mas na minha opinião acho que isso não iria ser suficiente para conter a transmissão da COVID-19”, referiu.

As vacinas são mais eficazes quando fornecem “imunidade de grupo”, o que ocorre quando os níveis de imunidade são altos o suficiente para que mesmo pessoas que não foram vacinadas – incluindo bebés e pessoas que não o podem fazer por razões médicas – tenham alguma proteção contra doenças. Para o sarampo, esse nível é de 95%.

As crianças que recebem duas doses da vacina contra o sarampo são consideradas quase completamente imunes à doença. Se as crianças imunizadas contraírem sarampo, é menos provável que tenham complicações como pneumonia ou encefalite. O vírus espalha-se quando as pessoas tossem ou espirram e pode sobreviver em gotículas transportadas pelo ar por várias horas, tornando-se altamente contagioso – especialmente em escolas e outros lugares onde as pessoas podem estar em ambientes fechados.

De acordo com o Estudo Nacional de Cobertura de Imunidade na Infância de 2015, no Canadá o plano de vacinação contra o sarampo para crianças de dois anos ronda os 89%. As agências governamentais realizam o estudo a cada dois anos desde 1994 e as conclusões do último estudo foram divulgadas em 2018. Por enquanto, este estudo é o mais próximo que o Canadá tem de um plano nacional de vacinação e mostra que o país não está a cumprir nenhuma das suas metas de vacinação, que foram atualizadas em 2017. O plano está atrasado em relação a outros países ricos, incluindo os EUA e Austrália, segundos as estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). No caso do sarampo, países do G7 como a Alemanha, Japão, Itália, Reino Unido, EUA e França têm uma maior vacinação do que o Canadá.

Ainda assim, a Agência de Saúde Pública do Canadá afirma que as taxas de vacinação no Canadá são “bastante altas”, mas sustenta que isso não significa que não haja motivo para preocupação.

Da mesma forma, durante a pandemia de COVID-19, grupos anti-vacinação e anti-máscara alegaram que o coronavírus não é mais perigoso do que outras doenças, como a gripe. Nas redes sociais estes grupos dizem que a pandemia é uma conspiração e defendem que foi criada para fazer com que os governos possam promover as vacinas e para que possam controlar a população através do rastreamento de contatos. Os grupos têm normalmente como alvo Bill Gates cuja fundação, Bill & Melinda Gates Foundation, doou centenas de milhões de dólares para apoiar campanhas de vacinação em todo o mundo. Durante as manifestações, os grupos desafiam orientações de saúde pública e incentivam as pessoas a trazerem os seus filhos, a não utilizarem máscara e a não cumprirem com a distância física e os manifestantes recusam-se a adotar as novas regras de saúde e segurança pública.

Os investigadores dizem que as teorias da conspiração sobre a COVID-19 estão a espalhar-se a um nível alarmante por todo o país e alertam que a desinformação que é partilhada online nas redes socias pode levar a consequências devastadoras e a forçar os canadianos a evitar medidas de segurança importantes. Aengus Bridgman, candidato a doutoramento em ciência política na Universidade McGill e autor do estudo sobre desinformação de COVID-19 e o seu impacto na saúde pública, defende que as pessoas deveriam estar muito preocupadas com estes grupos.

Segundo este estudo, quanto mais uma pessoa confia nas redes sociais para informar-se sobre a COVID-19, maior é a probabilidade de ser exposta a informações erradas e maiores são as possibilidades de ignorar o distanciamento físico e outras orientações de saúde pública.

Bridgman concluiu que 16% dos canadianos usam as redes sociais como fonte primária de informação sobre o vírus. No seu estudo entrevistou cerca de 2,500 pessoas e analisou 620,000 contas no Twitter, mas o especialista não tem dúvidas que a desinformação também se estende a outras redes sociais como Facebook, YouTube, Reddit, Instagram e Tumblr.

Recentemente a autoridade de saúde nacional admitiu a possibilidade da população ter de continuar a utilizar a máscara mesmo depois de existir uma vacina. A Organização Mundial de Saúde afirma que para uma população ter “imunidade de grupo” a uma determinada doença, entre 75% e 95% das pessoas devem estar imunizadas ou vacinadas.

A Rússia revelou recentemente que desenvolveu uma vacina para a COVID-19 e caso os laboratórios canadianos não consigam encontrar a fórmula e o país tenha que comprar as vacinas a um país estrangeiro, a Health Canada, uma espécie de Direção Geral de Saúde (DGS) portuguesa, terá de aprovar e reconhecer a eficácia da vacina.

Mas um número significativo de canadianos não quer tomar a vacina quando ela for disponibilizada. Um estudo conduzido pela Association for Canadian Studies e divulgado em meados de junho revelou que 68,3% dos canadianos quer a vacina logo que ela esteja disponível, enquanto que 15,6% diz que não quer tomar a vacina.

Segundo alguns especialistas, a imunidade de grupo no Canadá só vai existir quando entre 60 e 70% da população tiver anticorpos contra a COVID-19.  Algo que ainda não aconteceu nos últimos resultados serológicos que a Health Canada divulgou das várias províncias e territórios.

A Organização Mundial da Saúde incluiu em 2019 a hesitação em relação à vacinação na sua lista das 10 ameaças à saúde global e sublinhou que reverter décadas de progresso no combate às doenças que são evitáveis se a população tomar uma vacina. A COVID-19 poderá ser um verdadeiro teste às estratégias de vacinação nacionais e poderá até obrigar os países a alterarem as suas leis de forma a que toda a população ganhe imunidade.

Joana Leal/MS

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