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Fernando Rio: “Em 2018 tivemos uma das melhores paradas”

Fernando Rio é o Diretor do Comité da Parada de Portugal, o evento maior do programa de comemorações organizado pela Comissão Ad-Hoc da ACAPO. A pouco mais de uma semana dessa grande manifestação de portugalidade sair de novo à rua, atravessando o Little Portugal, o Milénio Stadium procurou saber junto da organização o que podemos esperar da Parada de Portugal deste ano.

Milénio Stadium: Há quanto tempo é que organiza a Parada?
Fernando Rio: A primeira vez que ajudei na organização da parada foi em 1988, quando o rancho folclórico da minha terra, Castelo de Neiva [Viana do Castelo], veio a Toronto. Depois, se a memória não me falha, em 1990 comecei a participar no grupo organizador e até hoje tenho estado sempre direta ou indiretamente envolvido, já lá vão mais de 30 anos…

MS: A maioria da comunidade portuguesa já não vive na Dundas. Ainda faz sentido manter a Parada de Portugal nesta área?
FR: É verdade que a presença da comunidade portuguesa na Dundas Street West já não é tão visível, mas na minha opinião isso não afeta a Parada porque na realidade não existe um local perfeito que reúna todas as condições. Hoje a nossa comunidade está dispersa, mas as pessoas já estão habituadas a que a Parada seja na Dundas e é frequente encontrar, ao longo do percurso, portugueses de todos os cantos de Toronto e outras cidades, tais como London, Cambridge, Oshawa, etc.
Mas essas pessoas estavam habituadas a vir para Toronto, de manhã assistiam à Parada, e à tarde iam ao Parque para ver o festival de folclore e assistir aos concertos. Agora eles reclamam que depois da Parada já não há mais nada, esse vazio talvez vá afetar a decisão dessa gente de continuar a vir de tão longe.

MS: A Parada de Toronto já chegou a ser a maior festividade da cultura portuguesa na diáspora. Acha que ainda há margem para melhorar?
FR: Penso que neste momento precisamos de inovação, talvez isso não aconteça por uma questão financeira ou por falta de voluntários. Ano após ano, a Parada mantém-se igual, talvez até tem crescido em relação ao número de participantes, mas a qualidade tem diminuído.
Em 2018 tivemos uma das melhores paradas, com carros alegóricos muito interessantes, não sei se devido aos boatos de que seria a última. Julgo que tanto a ACAPO como a Parada precisam de ser restruturadas, mas para que isso aconteça precisamos de mais jovens. Podíamos diminuir o tamanho para aumentar a qualidade e acho que os cubes e as associações deviam procurar parcerias com negócios para patrocínio dos seus carros alegóricos. Aliás, já há muito tempo que defendo esta ideia, mas a ACAPO achava que os clubes iam interferir na captação de patrocinadores para a Semana de Portugal.

MS: A Parada é uma oportunidade económica para as empresas se promoverem?
FR: Todos os comerciantes vivem de publicidade e a exposição durante a Parada é muito positiva. Por exemplo, um patrocinador que patrocine a Parada, fá-lo não porque acha que consegue captar mais clientes, mas sim porque sabe que os seus clientes vão gostar de ver o seu banco, agente de seguros ou supermercado envolvido num evento comunitário.
Eu, quando patrocino um evento ou uma associação, não espero vender um seguro novo, faço-o porque quero contribuir para a comunidade. Se é essa comunidade que garante o sucesso da nossa empresa então temos o dever de retribuir.

MS: É difícil vender essa ideia à comunidade portuguesa?
FR: Tudo depende da forma como se apresentam os projetos. Neste momento, a Aliança está sem executivo há dois anos e os patrocinadores quando veem uma organização sem estrutura começam-se a afastar. A ACAPO precisa de eleger uma direção para recuperar a confiança dos patrocinadores.
Acredito que se deveria voltar a ter bases sólidas nesta organização para dar continuidade ao trabalho desenvolvido até aqui.

MS: A média de idade das pessoas envolvidas na parada é elevada. Como é que podemos envolver mais os jovens?
FR: O grupo que organiza a Parada já é o mesmo há mais de 20 anos, não sei qual é o segredo, mas se os jovens não se envolverem isto mais tarde ou mais cedo vai acabar. E eles precisam de ser ouvidos, senão vão embora. Assisti a situações em que jovens eram convidados para participar em clubes, mas as ideias novas que eles apresentavam não eram levadas a sério. E isso leva os jovens a desistir, porque não se sentem parte do grupo.
Nota-se que alguns dos jovens que participam na Parada não aparecem no clube o resto do ano, vê-se que não estão preparados porque não ensaiaram. Os pais que estão envolvidos nas nossas coletividades devem envolver os seus filhos e recrutar outros familiares. A minha filha participava e organizava a Parada, ela adorava tanto ou mais do que eu, mas casou-se e mudou-se para os EUA e o envolvimento dela acabou.

MS: Ainda dedica muito tempo da sua vida pessoal à Parada?
FR: Já dediquei muito tempo, mas agora a minha participação é mínima. Há anos que tento não me envolver, mas as circunstâncias fazem com que ajude sempre um bocado. As funções do Comité da Parada são organizar a posição de cada clube no desfile e no dia pôr tudo no seu lugar na área de formação. Depois é controlar a saída e, durante o percurso, manter tudo o mais organizado possível.
No entanto, existe muito trabalho que é feito pela direção da ACAPO, desde pedir autorizações à autarquia, contactar o TTC, a polícia…

MS: Quantas pessoas é que fazem parte da Comissão da Parada?
FR: Este ano devemos ter cerca de 13, mas para correr tudo bem precisávamos de pelo menos 20. Para além de mim temos: António Santos; Carlos Santos; David Leitoguinho, Gary Manata, Jorge Seixas, José Eustáquio, José Salgado, Linda Correia, Luís Belo, Luísa Agra, Vasco Luís e Vítor Ferreira.

MS: Quantos grupos é que vão participar este ano?
FR: Ainda não temos o número total, mas normalmente varia entre os 65 e os 70, desde organizações, clubes, associações, ranchos folclóricos, equipas de futebol, etc. A nível de pessoas, no ano passado, foram entre 3 000 e 3 200. Como sabemos a Parada sai da College e Landsdowne, e quando o primeiro carro chega ao Bellwoods Park, o último ainda está a sair do ponto de partida, ou seja, a uma certa altura, a Dundas entre a Lansdowne e a Crawford está totalmente cheia de cultura portuguesa.

MS: Como é que podemos envolver mais os jovens?
FR: A Katia Caramujo está numa ótima posição para recrutar jovens, porque ela é uma jovem e um exemplo. As organizações de estudantes nas escolas e universidades, essa é a juventude que se deveria envolver, eles até já têm as suas organizações. Claro que precisam sempre de pessoas que já têm mais experiência, principalmente na questão de angariação de fundos. Devíamos ter uma organização composta por pessoas mais experientes para dar continuidade, e pessoas mais jovens para trazer inovação e garantia de futuro.

MS: Onde é que gostava de ver a Parada daqui a uns anos?
FR: Um dia gostava que a Parada fosse feita numa artéria principal da cidade, como a Yonge Street, por exemplo. Essa localização traria mais visibilidade para a nossa cultura e ao mesmo tempo passávamos a ser um evento importante na agenda cultural de Toronto.

Joana Leal

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