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E agora?

As Associações e Clubes portugueses estão, inevitavelmente, todos fechados. A pandemia que atingiu o mundo fez com que todos, sem distinção, ficassem em pausa por tempo indefinido. Festas? Nem pensar. Jantares em grupo? Nem pensar. Acontece que para alguns, senão a maioria, destes Clubes e Associações, eram esses momentos, onde vários grupos de pessoas se juntavam, que faziam com estas entidades estivessem bem de saúde, financeiramente falando. Agora, nestes tempos vazios e de incerteza, surge a preocupação de uma “saúde” possivelmente instável, ou até em estado critico. Fomos por isso à procura de algumas opiniões de presidentes de Clubes e Associações portugueses, de forma a entendermos como estão a combater esta fase criada pela Covid-19 e como preveem o futuro.

O Arsenal do Minho é um dos vários clubes que representa a região do Norte de Portugal e a sua cultura na Grande Área de Toronto. O Centro Cultural Português de Mississauga (CCPM) é um dos clubes que promove iniciativas que juntam centenas de pessoas e tem na sua atividade regular a tradição de apoio aos idosos e ao ensino da língua portuguesa.

Joel Bastos, presidente do Arsenal do Minho, e Tony de Sousa, presidente do CCPM, aceitaram partilhar connosco as suas perspetivas e expectativas.

Tony de Sousa, Presidente de um dos maiores clubes comunitários, o Portuguese Cultural Centre of Mississauga
  • Tony de Sousa

Milénio Stadium: Como presidente de um dos maiores clubes comunitários, o Centro Cultural Português de Mississauga (CCPM), sem atividade há meses, a primeira pergunta que lhe faço é – como tem sobrevivido o clube sem entrada de receitas?

Tony de Sousa: Não muito bem, já sabemos que este vírus apareceu numa fase em que tínhamos quatro grandes eventos, que nos dão um impulso muito grande – tínhamos a Carassauga, a Noite de Marisco, o Dia da Mãe, o Spirit Award… – isso foi um bocadinho mau, mas nós também, graças a Deus, temos alguns alicerces para nos aguentarmos. Claro que esta fase não é das melhores, estamos a sofrer com isto, e acho que vamos continuar a sofrer ainda mais um bocadinho, mas tudo se há-de resolver.

MS: Todos sabemos que uma das maiores fontes de receitas são os eventos que, no caso do CCPM, tanto são organizados pelo clube como também são promovidos por outros, mas que representam uma importante fatia do orçamento (como aluguer de salas e/ou catering) e juntam, normalmente, muitas centenas de pessoas. Sabendo que não se perspetiva tão depressa a reabertura de atividades dessa natureza, que alternativas têm pensadas?

TDS: Nós não sabemos, vamos ter que esperar pelas ordens do Governo. Temos que ver o que eles nos vão deixar fazer e de que forma. Talvez com menos pessoas, não sei… Acho que é um bocadinho difícil. Podemos colocar as mesas mais separadas umas das outras, mas depois há sempre uma pista de dança… São coisas que, quando chegar à altura, terão que ser vistas consoante as indicações do Governo. Ainda ontem estive lá, a olhar para aquilo, já pensei que se calhar vou ter que pôr alguma proteção na parte de cima do balcão, com vidro, para evitar o contacto entre pessoas, não sei… Vamos aguardar por orientações governamentais. Porque eu também acho que se formos abrir muito cedo, as pessoas talvez não se sintam à vontade assim num sítio fechado com muita gente… É um problema muito grande. Quando começarmos, tem que ser devagarinho, com festas talvez não tao grandes, porque eu acho que enquanto não houver uma vacina para a Covid-19, as pessoas não vão estar confortáveis… Talvez seja possível fazermos algo, mas mais pequeno ao início, com mais cuidados, quem sabe até medir a temperatura corporal das pessoas para termos a certeza de que ninguém tem febre, não sei… Temos que ver o que diz o Governo. Era bom que lá para setembro já conseguíssemos fazer alguma coisa, já não peço para mais perto, já só peço lá para setembro…

MS: O Clube de Mississauga tem várias valências que se enquadram na promoção da cultura portuguesa – entre elas a escola para ensino do português, o rancho folclórico… Na sua perspetiva como vai ser possível assegurar a manutenção desse serviço?

DS: A escola está a trabalhar na mesma, como as outras escolas estão, a partir das plataformas online. Em relação ao rancho, estamos a pensar só lá mais para a frente, quando chegar ao aniversario deles, lá para outubro, e fazer um ensaio antes e pronto… São crianças e jovens, temos que ter essa preocupação com eles. Para já estão em pausa.

MS: Na sua opinião, a vida comunitária tal como a conhecemos e a promoção de uma identidade portuguesa na Grande Área de Toronto que futuro têm?

DS: Eu acho que isto é uma passagem, não vai ser da mesma maneira até, provavelmente, o próximo ano, mas acho que ainda se vai conseguir dar assim mais um “cheirinho” este ano… Não tão forte, mas depois quando voltarmos vai ser com mais força ainda e as pessoas com mais saudades. É, aliás, engraçado porque tenho muita gente, até no Facebook, a dizerem-me que sentem falta do Clube e das festas e eu às vezes até me rio, porque tivemos algumas vezes a casa mais vazia e agora olha, surgem as saudades… Mas talvez isto sirva para apreciarmos mais aquilo que nós temos, darmos o valor também ao trabalho feito pelos voluntários… Há muita gente que dá muito valor, outros nem tanto, talvez esta fase sirva para que todos apreciem mais. Acho que vamos todos voltar com mais força. A única coisa que me entristece mais um bocado, e sei que não é só a mim, claro, mas falo por mim, é o facto de este ser o meu sexto ano enquanto presidente e na minha direção trabalhámos sempre com muita dedicação e muito esforço durante cinco anos… E depois, de um momento para o outro, em dois meses, é tudo assim destruído… Isso é que me custa um bocadinho a aceitar, ainda não consegui aceitar isso, mas agora temos que nos erguer novamente, continuar a fazer o que temos feito até aqui e trabalhar.

MS: Acha que agora, mais do que nunca, se justifica a união de todos refletida na criação de uma Casa de Portugal? O que poderá impedir a sua criação?

DS: Eu acho a Casa de Portugal uma boa ideia, mas não acredito que as pessoas se consigam entender num só espaço assim. Embora que agora esta pandemia veio abrir mais os olhos, e eu penso que devemos ser mais unidos, mas quando é uma Casa para todos infelizmente as pessoas vão se esquecendo do que as fez unir e volta tudo ao normal.

Eu não sei se estou a falar bem ou não, mas o que eu vejo é que às vezes as pessoas querem ser as que mandam mais, e depois há este e aquele que quer mandar, e não há um consenso. As pessoas às vezes não sabem ir ao encontro do meio termo. Temos ocasiões que podemos não concordar, mas há sempre um meio. E se correr mal, haverá com certeza outra altura que se fará de outra maneira… Mas eu acho que as pessoas não compreendem isso. E eu gosto muito de paz… (risos).

Essa Casa até podia ser uma boa ideia para alguns clubes mais pequenos, que estejam com mais dificuldades, não acho nada mal pensado… E seria um orgulho para a nossa comunidade.


Joel Bastos, CEO do Arsenal do Minho de Toronto
  • Joel Bastos

Milénio Stadium: Já antes desta pandemia se falava, de uma forma recorrente, numa certa crise no movimento associativo da comunidade portuguesa. Agora, que as portas se fecharam por tempo indeterminado, o que se pode esperar do futuro?

Joel Bastos: O movimento associativo já há algum tempo que se encontra em situação quase crítica. Apesar de muitas associações fecharem por motivos económicos, penso que o motivo principal e do qual tenho conhecimento, se prende com o facto de não existirem novas direções disponíveis para tomar as rédeas dos clubes.

MS:  Neste tempo em que tanta incerteza se instalou na vida de alguns dos vossos associados, como é que, no caso do Arsenal do Minho, se tem mantido o contacto, de forma a avaliar as necessidades que poderão eventualmente existir?

JB: O Arsenal desde cedo que mantém o contacto com os seus associados. Na altura do seu encerramento todos foram avisados ou por meio de mensagem, telefonema ou pelas redes sociais. Quanto às suas necessidades, o clube está sempre aberto a todos para ajudar no que for preciso. Os nossos números de telefone pessois encontram-se disponíveis e tudo faremos para ajudar no que for preciso. Durante a pandemia tentámos sempre estar em contacto com eles. Para isso temos as nossas redes sociais e os grupos de chat criados para os grupos recreativos e para o clube. Prova de que estamos sempre em contacto é por exemplo a criação do vídeo “Qual a coisa mais portuguesa que tens no teu frigorífico?” que se encontra disponível para visualização na nossa página de Facebook e Instagram.

MS: Até agora, não conseguimos saber quando poderá ser retomada a normalidade, a que estávamos habituados, no que diz respeito a atividades que envolvam muita gente. Tendo consciência que a subsistência económica passa muito por jantares e festas, como é que os clubes pensam sobreviver?

JB: Não saberei responder pelos outros clubes, mas consigo responder pelo meu. Há já alguns anos que a política financeira do Arsenal passava por fazer bom e bem com um orçamento reduzido. Graças a essa política a estabilidade financeira do clube foi-se criando, sendo hoje talvez uma das melhores. Claro que, como qualquer outro clube da comunidade, a realização de jantares e de festas é talvez a principal fonte de rendimento de um clube, mas neste momento e mesmo sem a sua realização o clube é capaz de se autossustentar por bastantes meses.

MS: Perante este cenário, o que vai ser, e como vai ser promovida, a cultura lusófona no futuro?

Eu acredito que isto será só mais uma pedra no sapato. A vida associativa está cheia de obstáculos e penso que este será só mais um, mas acredito que com força de vontade e querer conseguiremos superar e voltar mais fortes do que nunca!

MS: Será este o momento para a concretização de um projeto, há muito falado – Casa de Portugal – numa tentativa de congregar esforços e, ao mesmo tempo, concentrar despesas numa só entidade?

JB: Acho que a minha opinião ainda não mudou quanto a esse assunto. Sempre disse que desde que se o projeto fosse apresentado pelos melhores motivos e pelas razões corretas e fundamentado por argumentos sólidos de exaltação da cultura e comunidade portuguesa no Ontário, a minha resposta seria sim e que estaria de acordo. Mas e apesar de ainda jovem vejo que existe ainda muito individualismo no que ao associativismo diz respeito.

Sendo assim a minha resposta continuará a ser um não sei. Diria que pode ser feito mas que os seus alicerces devem ser moldados e construídos não por um mas por todos, metaforicamente falando.

Catarina Balça/MS

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