Temas de Capa

Descuidos momentâneos, Marcas permanentes

O azar pode mesmo estar atrás da porta, como diz um velho ditado popular. António, chamemos-lhe assim, bem o pode comprovar. A história que lhe marcou para sempre a vida aconteceu num ambiente de trabalho normal, há cerca de 13 anos, num dia como tantos outros.

Um pequeno descuido transformou-se num problema. A sua mão esquerda sofreu danos irreversíveis. Um breve instante, uma falha nos requisitos de segurança, e António nunca mais conseguiu trabalhar como trabalhava. A vida continuou, mas as marcas – essas ficaram.

O acidente

“Nós estávamos a cortar com uma ‘gun’ e eu disse a um dos rapazes para ter cuidado, não cortar com a ‘gun’ porque estava a cortar muito ferro… O trabalho estava a ser feito entre um painel elétrico e um poste para tirar um bocadinho de ferro (…) era para fazer uma entrada de uma parede para a outra. Eu disse-lhe para ter cuidado, não cortar com a ‘gun’ e para usar a Sawzall. Eu estava a trabalhar do outro lado, o rapaz diz que não sabe o que aconteceu com a ‘gun’, partiu a máquina, e de repente a viga de ferro torceu e a máquina apanhou-me a mão esquerda.”

O António teve os devidos cuidados, as outras pessoas é que não, é isso?
“Eu tive o cuidado de avisar e ainda por cima fui eu que me cortei. Acontece… Se fosse eu que escorasse o ferro, estava direito. Mas não fui eu que escorei – estava tudo ok, mas quando chegou ao ponto, no fim, o ferro puxou um bocadinho, trilhou a máquina e a máquina saltou. Quando saltou não me apanhou a cara por sorte, mas apanhou-me a mão. Cortei os tendões. Fiquei com três dedos com os tendões fora.”

Nessa empresa onde trabalhava havia alguma formação para evitar estes acidentes?
“Havia, sim senhor. Ainda por cima nós estávamos a fazer um serviço para uma empresa que faz bolos. Quando íamos lá para dentro tínhamos de usar todos os equipamentos de segurança necessários. Tinha de ser tudo como manda a lei, se não havia problemas.”

E depois do acidente como ficou a sua vida? Que repercussões é que ainda sente hoje?
“Perdi 40% de mobilidade na mão esquerda. Há dias que sinto que perdi mais que isso. Mas a vida continua! Há muita gente que se aleija e fica traumatizada, mas nós temos de trabalhar para pagar as contas ao fim do mês. A vida não pára, o tempo não pára!”

Indemnizações

“Aconteceu no domingo, fui operado na terça-feira e uma semana depois estava a trabalhar. Estive só uma semana em casa! Eu não dei prejuízo à empresa, só que era bom se eu tivesse mais regalias, ser compensado… Não estou a pedir uma fortuna, mas pelo menos uma ajuda. Não sou deficiente, mas tenho realmente uma condição que não me permite viver, nem trabalhar, da mesma forma depois do acidente que tive no trabalho.”

As consequências

“Entretanto, passado uns anos, já com essa mão mais debilitada, escorreguei na neve e um dos dedos que já estava fragilizado acabou por partir. Não quer dizer que não acontecesse noutra circunstância, mas o facto de ter os tendões daquela forma, fez com que esse meu dedo polegar não tivesse qualquer resistência e não houve outra solução a não ser amputá-lo”.

“Para que tenha uma ideia, neste momento não consigo pegar em parafusos com essa mão. Coisas assim pequenas sabe? Ou até mesmo, por exemplo, pegar num copo – para mim é muito difícil aguentá-lo por mais de um minuto na mão”.

António chegou a procurar um advogado, mas foi aconselhado a não avançar com o processo – na verdade, não recebeu qualquer apoio por parte da empresa para que pudesse ser indemnizado.

Ao contrário de muitos que hoje, infelizmente, não estão cá para contar a sua história, António, apesar de tudo, tem a sorte de poder continuar a encarar a vida da forma mais positiva possível.

Catarina Balça

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